O ambiente não  se circunscreve ao clima
Mário Abrantes

O ambiente não se circunscreve ao clima

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Está a decorrer em Glasgow, Escócia uma cimeira mundial sobre o clima, a COP 26, promovida pela ONU, cuja importância pública, política e institucional não deve ser diminuída.Em nossa opinião, no entanto, tal importância corre o perigo de se diluir no tempo por esta cimeiracentrar as suasatenções apenas no combate às eventuais causas antropogénicas das alterações climáticas que hoje ocorrem, e a que chamam de “aquecimento global”, minimizando um horizonte integrado de outros problemas ambientais, adicionais aos climáticos, que ameaçam também hoje os seres vivos e o planeta.
Antes de tudo porque o fenómeno do “aquecimento global” não é um fenómeno uniforme em todaa Terra, registando-se, em simultâneo, fenómenos contrários de arrefecimento em algumaspartes do planeta. E depois porque, como todos sabemos, existiram ao longo dos tempos diversos ciclos de variações da temperatura média do planeta, seja por aquecimento ou por arrefecimento, cujas causas foram exclusivamente naturais e independentes do aparecimento do homem e da sua ação. Está assim por calcular o balanço entre as causas antropogénicas e as causas naturais das atuais alterações climáticas.
Além disso, existem ainda por tratar ao mesmo nível, nesta e noutras cimeiras, algumas outras ações, estas sim antropogénicas, com tanto ou mais impacto no planeta que o atribuído ao “aquecimento global”.
Assim, para além da poluição atmosférica, destacamos a poluiçãoda água,dos mares e dos solos, que tem atrás de si todo um modo de produção dominante nos países economicamente mais importantes do mundo (não por acaso os mais poluentes) e que tem contribuído,nodecorrer do seu apogeu,para a progressiva insustentabilidade biológica e física do planeta.
Em paralelo com o crescimento exponencial da fome, da miséria e das migrações humanas, surgiram e cresceram as sociedades do consumo e do desperdício que, na sua configuração mais vulgar e inquietante, se vêm caracterizandopela produção de aglomerados imensos e indecomponíveis de plástico multidimensionalestendidos por rios, mares e oceanos, pela desflorestação, pela extinção das espécies, pela exploração intensiva e esgotante dos solos e de outros recursos naturais, e pelos crescentes cemitérios tóxicosde metais pesados, resíduos de pesticidas ou de radionuclídeos artificiais, espalhados por esses mesmos solos e respetivos lençóis freáticos.
Mas também existe outra ameaça à sustentabilidade ambiental e à segurança da vida na Terra,com origem na concorrência económica e na disputa dos mercados: Éa crescente militarização, a corrida armamentista e a nuclearizaçãobélica cada vez mais presentes e atuantes em todos os rincões e fronteiras da Terra, a que já não escapa o próprio espaço. Exemplo bem recente desta ameaça foia criação de mais um pacto militar ofensivo, disfarçado de defensivo (tal como a NATO),assinado entre os Estados Unidos da América, o Reino Unido e a Austrália,o AUKUS, que permitirá estender a tecnologia norte-americana de submarinos nucleares a mais um país e a mais uma região do mundo, a Austrália, ameaçando diretamenteoutro país, a China, com cerca de 1/7 da população mundial, e agudizando a já inquietante ameaça à sobrevivência global da nossa casa comum.
Não será nada fácil assegurar a sustentabilidade ao planeta, preservar as espécies ainda vivas e permitir a continuidade pacífica e equilibrada do desenvolvimento da humanidade, se se pretender atingir esses objetivos apenas pelo combate às emissões de gases com efeitos de estufa, sem questionar complementarmente o modo de produção capitalista dominante e excluindo à partida a luta pelo desarmamento nuclear e pela paz.

 

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