A arte de Beatriz Garcia
Creusa Raposo

A arte de Beatriz Garcia

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Beatriz Garcia é uma artista contemporânea independente, que cria pinturas inspiradas na natureza e na beleza que encontra no seu dia-a-dia, procurando, através da cor, transmitir paz, alegria e vitalidade. O seu foco é a pintura essencialmente de paisagens.
Micaelense de nascimento, vive em Setúbal onde lecciona Direito, àrea em que se formou.
O Diário dos Açores conversou com a pintura para conhecer melhor o trabalho desenvolvido, sonhos e projectos futuros.
Beatriz Garcia autodomina-se como uma jovem artista com “imensa vontade de criar” a sua arte e “tornar o Mundo um pouco mais alegre” com as suas pinturas. “Gosto de aprender algo novo todos os dias e procuro melhorar-me constantemente enquanto artista e pessoa. Quando não estou a pintar, adoro estar ao ar livre, passar tempo com família e amigos, e viajar. São tudo actividades que me energizam e inspiram para a minha actividade artística”, salienta. “Desde que me lembro de existir que pinto. Em criança, brincava muito sozinha e era a pintar e desenhar que me divertia e passava o meu tempo. Sempre com lápis de cor e de carvão”, conta a pintora.
Teve aulas de desenho e frequentou o Atelier Ponto de Arte, do Artista Martim Cymbron, entre 2012 e 2015, onde experimentou pela primeira vez a tinta acrílica e a tinta de óleo e, desde então, nunca mais a largou. “Durante esses anos tive um acompanhamento semanal próximo, desenvolvendo as competências básicas de pintura e já definindo o meu estilo, marcado pelo realismo e pela predominância da natureza. Em 2015 com a minha mudança para Lisboa, onde estudei Direito, a actividade artística foi menos intensa, mas com o final do curso, em Setembro de 2019, retomei a pintura e desde então nunca mais parei. Criei o meu website, as minhas redes sociais, e foquei-me em continuar a melhorar as minhas competências e a pintar o que mais me inspira e alegra, procurando, dessa forma, inspirar e alegrar outros”, confessa.
Admite ser uma artista auto-didacta através das suas experiências, pois presa pela liberdade de criar ao seu ritmo e estilo. “Vou buscar inspiração a muitas fontes. Costumo dizer que em qualquer lado há inspiração, se estivermos atentos e despertos à beleza quieta e subtil que nos rodeia no nosso dia-a-dia. Por isso, inspiro-me nos pequenos momentos do dia-a-dia que captam a minha atenção e na natureza, onde gosto de me perder e sonhar. O design de interiores também me inspira bastante. Gosto de folhear livros e revistas e deixar que as paletas de cores e as texturas dos espaços despertem em mim ideias. Como acredito que a arte deve fazer parte do nosso dia-a-dia e não apenas residir num museu onde vamos esporadicamente e onde sentimos as obras tão “inatingíveis”, a minha arte busca também o propósito de levar a beleza e a cor das minhas inspirações às casas dos meus coleccionadores”, refere.
Inspira-se nos temas, nas paletas e na estética de artistas como Domingos Rebêlo, Renoir, Sorolla e Monet. A forma como “os impressionistas e pós-impressionistas retratam a natureza e pintam a luz e as cores apaixona-me e inspira-me. O meu estilo é marcadamente realista, mas pincelado com algumas influências impressionistas, que dão movimento, luz e vida às minhas obras”, explica.
Os Açores são a principal fonte de inspiração e escolher os nomes das colecções revelam-se um verdadeiro desafio. “Na minha colecção de pinturas de hortênsias, o nome foi muito simples, mas nem sempre é assim. Estou a breves semanas de terminar uma nova série de trabalhos e ainda estou às voltas com o nome. É assim! Antes de mais nada, para introduzir os leitores à ideia de colecção, no fundo são conjuntos de pinturas unidos pela mesma temática e/ou estética. Comecei a trabalhar por colecções quando me comecei a dedicar mais intensamente à pintura, em 2019, e várias ideias surgiam quando estava a trabalhar numa determinada peça. Trabalhar por séries faz-me muito sentido enquanto artista, porque posso comunicar e expressar uma mesma ideia de diversas formas, sob o mesmo conceito, ideia inicial, técnica(s)... Muitos artistas internacionais já trabalham desta forma, também”, contextualiza. Admite que a natureza é das maiores inspirações do seu trabalho e, “imersa no universo micaelense, onde nasci, cresci e vivi 18 anos da minha vida, é óbvio que essa vivência ficou em mim”, ressalta.
Quanto aos materiais utilizados a artista elege a tinta de óleo e explica que “a sua cremosidade, riqueza e versatilidade fazem dela a “menina dos meus olhos”. A complexidade que permite atingir nas obras atrai-me muito nesta técnica e a sobreposição de camadas resulta sempre em pinturas cativantes e ricas. Considero igualmente a aguarela fascinante, pela delicadeza e leveza que pode imprimir às pinturas, e por isso também a incorporo frequentemente no meu trabalho. Para além do óleo e da aguarela, utilizo também a tinta acrílica, o pastel de óleo e o carvão, especialmente em pinturas de técnicas mistas, e os resultados são sempre intrincados e envolventes”, realça.
Beatriz Garcia realizou já algumas exposições. A primeira vez foi em 2013, numa mostra de trabalhos dos alunos do Atelier Ponto de Arte, na Biblioteca Municipal Ernesto do Canto, e depois, no mesmo contexto, em 2015 no Hotel do Colégio, a propósito das celebrações dos 10 anos do Atelier. Em Outubro de 2020 apresentou obras a aguarela no Centro Social e Paroquial de Santa Clara, freguesia de onde é natural, em conjunto com a artista Rita Anjos. “A solo, estreei-me em “Longitude”, em Janeiro de 2021, no Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada, com uma exposição de 22 pinturas a óleo, acrílico e técnicas mistas sobre tela, que retratam os meus primeiros anos de experimentação e aprendizagem, quer no Atelier Ponto de Arte, quer já no meu percurso auto-didacta”, declara. “A adesão do público foi boa, especialmente nas primeiras duas exposições. Em virtude da crise que atravessamos, a afluência nas exposições de 2020 e 2021 foi consideravelmente menor, embora tenha sido positiva. As exposições no âmbito do Atelier foram por iniciativa do Martim Cymbron e dos seus parceiros, ao passo que a Exposição com a Rita Anjos foi feita a convite da artista. Já a minha exposição “Longitude” foi realizada por meio de candidatura à Sala do Forno situada no primeiro piso do Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada. O apoio institucional prestado pela Junta de Freguesia de Santa Clara e pela Câmara Municipal de Ponta Delgada foi notório e fundamental ao êxito das exposições em causa. Por isso estou muito agradecida a todos os envolvidos que me proporcionaram essas experiências”, revela.
Ao exprimir o seu talento, a pintora, tem apresentado uma especial atenção para com o meio ambiente. “Encaro a minha pintura de forma holística, ou seja, a minha preocupação com a qualidade e sustentabilidade de tudo o que utilizo é transversal, quer na criação das minhas obras, quer na sua preparação para envio. Primo pela sustentabilidade de todos os materiais que utilizo para criar as minhas peças – desde as telas, aos pincéis – embora seja difícil nalguns itens. Para dar um exemplo concreto, há relativamente pouco tempo comecei a criar pinturas em cartão – que, aliás, será um dos suportes da minha próxima série – aproveitando caixas com cartão de grande qualidade que iriam para o lixo. É uma forma de proteger o ambiente, transformando aquilo que seria descartável num suporte para pintar”, aponta.
Acredita que a arte e os artistas devem ter um papel na salvaguarda do meio ambiente, promovendo a “reflexão do público sobre a sustentabilidade no seu sentido mais lato (ambiental, social, económica). Creio que tento fazê-lo, desde logo, com os meus pincéis, dando cor e vida à natureza, que todos temos o dever de preservar – sob pena de, em pouco tempo, apenas termos a arte para a relembrar. A minha defesa da ecologia passa também pelos negócios que decido apoiar para compra da minha matéria-prima, desde que começo a pintura ao momento em que envio para qualquer lado do Mundo. Priorizo o comércio local que partilha dos mesmos valores de sustentabilidade”, expressa.
Beatriz Garcia, nas suas obras, tem um certo cuidado com a escolha de molduras e nas embalagens que contêm as suas pinturas. Defende que a moldura tem uma importância tremenda. “Em razão de proteger a pintura e de a valorizar (incrementando o seu valor e fazendo sobressair os seus atributos) faço sempre um acompanhamento do processo quando trabalho com os meus coleccionadores, de modo a potenciar ao máximo a obra e também a cunhar a peça final com a minha visão global para a mesma. Daí esse cuidado para que a obra final seja uma peça que perdure na vida dos meus coleccionadores e passe de geração em geração impecável. Tendo em conta o desafio que pode ser essa tarefa, os meus coleccionadores mostram-se sempre agradecidos pela ajuda que disponibilizo e no final conseguimos sempre um resultado que os satisfaz e que valoriza a peça. Do mesmo modo, tenho o cuidado de ter preocupações de sustentabilidade no momento do envio. O impacto que pretendo ter passa também por apoiar a sustentabilidade do planeta e pequenos comerciantes. Isso traduz-se em comprar local, dando primazia a produtos nacionais – como fabricantes de tinta locais, de grande qualidade – e a ter cuidado com a selecção de materiais para o embrulho que possam ser reutilizados e/ou reciclados da forma mais fácil possível. Por exemplo, os embrulhos das minhas pinturas são feitos com papel kraft, de baixo impacto ambiental e fácil reciclagem, e as fitas ornamentais que utilizo podem ser reutilizadas para embrulhar presentes. A criatividade não tem limites e gosto de passar isso aos meus coleccionadores, para que através da compra das minhas peças possam também fazer parte da mudança”, profere.
Quanto à divulgação, a pintora, possui um blog versátil que recomenda museus, galerias de arte e que oferece dicas para iniciantes através do seu website (www.beatrizgarcia.pt) onde qualquer pessoa pode ter acesso ao portfólio, às séries e pinturas que tem disponíveis para compra e aos seus serviços (pinturas por encomenda). “Decidi criar um blog dentro do meu website para me aproximar mais do meu público, dos meus coleccionadores e de todos os interessados em temas como arte, arquitectura, design, decoração e viagens. E claro, o lifestyle artístico, que passa por visitas a museus e galerias, desde nacionais a internacionais quando possível. Considero importante este tipo de partilha, de modo a inspirar e incentivar o público a visitar a cultura, o que tem sido particularmente desafiante nos tempos correntes. Dou também dicas simples para iniciantes em aguarela, de forma a conseguir ajudar quem está a dar os primeiros passos”, exalta e continua dizendo que “outro motivo fundamental que presidiu à criação do blog foi a necessidade que senti de partilhar mais dos bastidores do meu processo criativo. Considero a proximidade artista-público muito importante na educação para a arte, nomeadamente, para o público ficar a par do processo criativo, de como se passa de uma ideia a uma criação”, destaca.
A artista considera que o público tem aderido de forma muito positiva ao seu trabalho. “Tem sido surpreendente para mim a procura em relação às minhas pinturas. Principalmente nestes dois últimos anos que temos vivido, foi com grande satisfação que vi o público interessado em acompanhar o meu trabalho e em investir na minha arte. Tendo em conta que, em tempos de crise, a arte não é a primeira coisa que as pessoas pensam em comprar, considero-me honrada por saber que as pessoas apreciam o meu trabalho ao ponto de quererem ter peças minhas em suas casas. Os meus coleccionadores, tendo em conta o meu estilo e os temas que pinto, procuram pintura de natureza, que lhes transmita calma, serenidade e paz. Tenho mais clientes/coleccionadores de Portugal continental, especialmente das regiões de Lisboa e Setúbal. Já enviei peças para o Canadá, o que muito me alegrou também”, exprime.
Beatriz Garcia, conta ao Diário dos Açores que o lado artístico nem sempre é fácil de conciliar com o profissional e pessoal. “No mundo moderno conciliar vários afazeres e tarefas é, no mínimo, desafiante. A minha organização artística, pessoal e profissional passa por disciplina e rigor, quer em termos de horários, quer de optimização máxima do tempo e da produtividade, mas passa igualmente por conhecer os meus limites e descansar quando sinto que preciso. Hoje em dia é muito fácil enrredarmo-nos numa teia interminável de tarefas que muitas vezes nos são impostas e nos drenam a energia. Enquanto artista considero o meu tempo para recarregar baterias tão importante como o tempo que dedico a criar. Por isso a minha gestão passa por um equilíbrio entre produtividade e descanso, que não é, de todo, fácil, mas que é fundamental para garantir que mantenho a minha energia e vitalidade no máximo ao mesmo tempo que cumpro os meus objectivos e obrigações”, expõe.
Ao Diário dos Açores, confessou que tem alguns projectos futuros já em andamento, mas afirma que o maior projecto “é sempre continuar a aprender e a evoluir, a sair da minha zona de conforto para inovar e criar a melhor arte que conseguir. Para criar peças que inspirem e que levem alguma calma aos dias frenéticos que nos assolam. Costumo anunciar na minha newsletter, em primeira mão, aos meus subscritores, novas exposições, colecções e projectos especiais (qualquer pessoa pode subscrever no meu website, gratuitamente). Podem acompanhar-me também nas minhas redes sociais, onde partilho regularmente os bastidores da minha pintura, as minhas inspirações e um pouco do meu lifestyle. É com grande alegria que partilho o meu trabalho e a minha paixão, são todos bem-vindos!”, conclui.


jornal@diariodosacores.pt

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