Prognósticos só no fim do jogo

Prognósticos só no fim do jogo

Previous Article Previous Article Augusto Simas: um médico com fama de santo
Next Article Pior do que a morte só o esquecimento? Pior do que a morte só o esquecimento?

Com tal expectativa deve estar tranquilizando as suas dúvidas, porventura inquietantes, o Presidente da República, agora que já fez detonar a “bomba atómica”, prometendo dissolver o Parlamento no final do mês em curso e convocando eleições legislativas para 30 de Janeiro de 2022.
Digo que prometeu dissolver o Parlamento, porque de facto ainda não mandou publicar o decreto correspondente, donde resulta que se mantêm as portas abertas no velho Palácio das Côrtes e jorram de lá leis em catadupa, apressando-se a moribunda “Geringonça” em fazer aprovar as mais polémicas decisões, com a eutanásia à frente delas, atropelando no caso a competência de entidade consultiva de grande valia e prestígio, concretamente o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, por sinal presidida pela Professora Patrão Neves, da Universidade dos Açores.
Por outro lado, e mais grave talvez, o Governo continua em funções e tudo indica que não será demitido pelo Presidente da República, como seria razoável e até muito oportuno. Ficará em plenitude de poderes e sem a fiscalização permanente do Parlamento, aplicando a seu talante os dinheiros das ajudas europeias e fazendo desenfreadamente campanha eleitoral, como já se pôde ver nas recentes eleições autárquicas. Se não é uma clara vantagem  para a continuidade do mandato do Primeiro Ministro António Costa, pelo menos parece...
Entretanto começam a surgir as primeiras sondagens, dando a entender que vai ficar tudo na mesma, com o PS em partido mais votado, mas sem a desejada maioria absoluta,  Maioria dos partidos ditos da esquerda, a dita Direita em posição minoritária, com o PSD á frente, o CDS desaparecido, subindo em seu lugar o IL e o Chega, este de forma apreciável.
Ora, de todas as vezes em que anteriormente houve antecipação de eleições, o eleitorado confirmou a intuição presidencial por uma mudança e alterou substancialmente a composição do Parlamento, impondo novo Governo. As sondagens valem o que valem e o que conta, como sempre tenho dito, é a contagem dos votos no dia das eleições. Mas se acontece ficar tudo na mesma, temos então um problema sério. No seu tempo, o então Presidente Ramalho Eanes afirmou que em tal hipótese o Presidente da República deveria demitir-se. Mas mesmo que tal hoje seja considerado um bocado exagerado e até contribuindo para maior e indesejável instabilidade, a verdade é que os resultados eleitorais aí ficarão, pedindo medidas adequadas.
Será possível restabelecer a “Geringonça”? Para alguns socialistas mais exaltados isso são, como se costuma dizer, favas contadas... Querem até uma coligação formal com o Bloco de Esquerda, que António Costa a seu tempo rejeitou, mas ninguém garante que agora não o faça, se isso lhe permitir manter-se no poder, enquanto amadurece o tempo para dar o salto para o Palácio de Belém, reconquistando-o para o PS, depois de 20 anos de Presidentes oriundos do PSD.
A preferência do actual líder do PS tem sido por um entendimento com o PCP de Jerónimo de Sousa, aplicando-lhe um abraço de urso que tem vindo a corroer a base de poder do PCP em termos de autarquias locais e de representação parlamentar. É de duvidar que tal situação seja mantida, por falta de consentimento do PCP em continuar a servir de bengala ao PS, com vantagens mínimas e mais teóricas do que práticas.
O Presidente Marcelo por seu turno já veio lembrar que viabilizou os orçamentos do Governo de António Guterres, enquanto liderou o PSD, então invocando a necessidade de preparar a entrada de Portugal na moeda única europeia. Nessa espécie de Bloco Central informal, o Governo ia em contrapartida consentindo em submeter a referendo questões como a despenalização do aborto e a regionalização, permitindo a Marcelo sucessivas vitórias.
Pelos vistos, parece ser esse o modelo presidencialmente recomendado para o período depois das eleições, um entendimento entre o primeiro e o segundo partido mais votados, seja qual for a ordem que lhes seja atribuída em função das preferências soberanas do Povo Português. Note-se que a candidatura de Paulo Rangel está despertando grande entusiasmo nas hostes, que já antecipam vitórias esmagadoras, nas eleições internas para a liderança e logo de seguida nas eleições nacionais, exautorando o antes aclamado Rui Rio, mas ainda nada é garantido quanto a tais sufrágios.
Estamos portanto num momento de grande incerteza quanto ao futuro político do nosso País. Dando sinais de terror perante as consequências eleitorais das suas atitudes no debate orçamental, os antigos companheiros de estrada do Governo fazem agora discursos de denúncia da intransigência do PS e de ataque ao mesmo por querer alcançar a maioria absoluta ou aliar-se à Direita num bloco central de terríveis consequências, segundo eles.
Por seu turno, o PS apela sem rebuço ao voto útil, visando a maioria absoluta; o PSD e o CDS embrenham-se em lutas internas de liderança e outras; IL e Chega aguardam que os votos lhes caiam no colo, sem grande convicção ou sequer esforço, só por birra e rejeição de muitos eleitores, fartos de ser vilipendiados pela aplicação de um discurso político auto-proclamado de progressista.

(Por convicção pessoal, o Autor não respeita a assim chamado
Acordo Ortográfico.)

 

Share

Print

Theme picker