Os púlpitos tinham a função primordial de aproximar o sacerdote do povo, dado que as eucaristias ocorriam em latim, e com o sacerdote voltado para o altar-mor. Aqui, no púlpito, o pároco realizava a pregação virado para os crentes. Este templo de Nossa Senhora da Saúde possui dois púlpitos, um à esquerda, o lado do Evangelho e outro à direita, o lado da Epístola, ambos acompanhados por uma escada lateral e balaustrada em madeira.
No topo exibe um baldaquino em talha e baixo-relevo sobre os balaustres.
A decoração apresenta índole vegetalista com folhas de acanto, folhagens, volutas, pequenos puttis, sanefas com imitação de franjas e na base uma pomba do Espírito Santo, propagando raios de luz que terminam em estrelas. A balaustrada é coroada por uma sanefa dourada e nas extremidades apresenta inúmeras volutas da mesma cor. A bacia e consolo são constituídos em pedra. O púlpito da Epístola exibe duas volutas e o do Evangelho uma concha.
A sacristia é composta por diversos armários e por um arcaz em madeira de acácia com vários compartimentos.
A complementar o mobiliário exibe-se um bufete em pau santo de características do século XVIII. Por fim encontramos um fontanário inspirado no estilo barroco, que apresenta elementos vegetalistas e concheados.
A imagem primitiva de Nossa Senhora da Saúde poderá ser de 1630 segundo o Pe. Daniel Correia, e afirma que foi encomendada em Lisboa, tal como dispôs Margarida Bettencourt da Câmara no seu testamento.
Através da documentação foi possível detectar que esteve ausente da sua paróquia, regressando a 4 de Junho de 2007, aquando de uma doacção do Monsenhor Agostinho do Couto Tavares. Esta imagem mariana, já em estado avançado de degradação com o menino segurado no braço esquerdo, foi concebida em posição frontal (para ser vista à distância). O rosto é rechonchudo e estático. A postura dos braços e mãos acompanha as expressões do rosto contido, com os braços encostados ao corpo e os dedos das mãos fechados. A Virgem dispõe de vestido e manto, que lhe cobre a cabeça, denunciando o cabelo que surge apenas ao lado da face. As vestes rígidas e sem movimento, expõem-se lisas, caídas, com poucas dobras e pregas, geralmente rectas, auferindo um aspecto singelo. A pintura a pincel finaliza a composição artística com pequenos ornamentos que insinuam renda, folhas, flores e losangos. A madeira ganha cor nos tons de dourado, branco, azul, bege e rosa velho. A base apresenta-se extremamente simples, apenas para suporte da imagem.
A actual imagem entrou solenemente na igreja a 9 de Janeiro de 1919. Primeiro esteve na igreja Matriz de São Sebastião e entrou na Igreja da Saúde com pompa e circunstância.
Encontra-se em bom estado de conservação, segurando o Menino Jesus no braço esquerdo e uma faixa de cetim branco, bordada em dourado com a sua invocação. Foi concebida em posição frontal de forma a marcar presença central no retábulo. A cabeça é coberta por um véu transparente e ornado com flores, que denuncia os cabelos lisos e castanhos, com pouco movimento. O rosto é sereno e calmo. A postura dos braços e mãos segue a linha da face, permanecendo contidos, mas muito próximos à anatomia humana. A Virgem dispõe de túnica, manto, cinto, sandálias e coroa. O Menino exibe túnica, faixa e resplendor. As vestes apresentam algumas pregas e movimento com caimento vertical e delicado. A indumentária é decorada em tons de dourado (reduzido às bordas e peito), azul (o manto), rosa (túnica) e bege (túnica do Menino), de forma lisa e uniforme nos tecidos. Possuí ainda delicadas pedras a ornamentar as vestes. A coroa em prata e prata dourada, apresenta dimensões consideráveis e características muito semelhantes com as coroas do Divino Espírito Santo, com a exceção da cruz latina a coroá-la. O resplendor em prata e prata dourada, detém a forma de um círculo, que difunde raios a partir de um medalhão. A base ostenta uma nuvem com quatro anjos, ao centro duas cabeças com asas, e nas laterais, anjos inteiros, dispostos de forma assimétrica e com movimento. O da esquerda está em posição de oração prostrado sobre um joelho e de mãos postas, enquanto o da direita surge por baixo do manto da Virgem, com uma das mãos elevadas segurando um véu.
In “ARRIFES: DETENTORES DE PATRIMÓNIO CULTURAL?”.
Este texto não segue o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa.
* Licenciada em Património Cultural e mestre em Património, Museologia e Desenvolvimento pela Universidade dos Açores/ Sociedade Ibero-Americana de Antropologia Aplicada