Púlpitos, Sacristia e Imagem  da padroeira de N.ª Sr.ª da Saúde
Creusa Raposo

Púlpitos, Sacristia e Imagem da padroeira de N.ª Sr.ª da Saúde

Previous Article Previous Article Mais uma crise?
Next Article Câmara da Lagoa apoia sessão de “Contos Interculturais” dinamizados por Valter Peres Câmara da Lagoa apoia sessão de “Contos Interculturais” dinamizados por Valter Peres

Patrimonium Nostrum

Os púlpitos tinham a função primordial de aproximar o sacerdote do povo, dado que as eucaristias ocorriam em latim, e com o sacerdote voltado para o altar-mor. Aqui, no púlpito, o pároco realizava a pregação virado para os crentes. Este templo de Nossa Senhora da Saúde possui dois púlpitos, um à esquerda, o lado do Evangelho e outro à direita, o lado da Epístola, ambos acompanhados por uma escada lateral e balaustrada em madeira.
No topo exibe um baldaquino em talha e baixo-relevo sobre os balaustres.
A decoração apresenta índole vegetalista com folhas de acanto, folhagens, volutas, pequenos puttis, sanefas com imitação de franjas e na base uma pomba do Espírito Santo, propagando raios de luz que terminam em estrelas. A balaustrada é coroada por uma sanefa dourada e nas extremidades apresenta inúmeras volutas da mesma cor. A bacia e consolo são constituídos em pedra. O púlpito da Epístola exibe duas volutas e o do Evangelho uma concha.
A sacristia é composta por diversos armários e por um arcaz em madeira de acácia com vários compartimentos.
A complementar o mobiliário exibe-se um bufete em pau santo de características do século XVIII. Por fim encontramos um fontanário inspirado no estilo barroco, que apresenta elementos vegetalistas e concheados.
A imagem primitiva de Nossa Senhora da Saúde poderá ser de 1630 segundo o Pe. Daniel Correia, e afirma que foi encomendada em Lisboa, tal como dispôs Margarida Bettencourt da Câmara no seu testamento.
Através da documentação foi possível detectar que esteve ausente da sua paróquia, regressando a 4 de Junho de 2007, aquando de uma doacção do Monsenhor Agostinho do Couto Tavares. Esta imagem mariana, já em estado avançado de degradação com o menino segurado no braço esquerdo, foi concebida em posição frontal (para ser vista à distância). O rosto é rechonchudo e estático. A postura dos braços e mãos acompanha as expressões do rosto contido, com os braços encostados ao corpo e os dedos das mãos fechados. A Virgem dispõe de vestido e manto, que lhe cobre a cabeça, denunciando o cabelo que surge apenas ao lado da face. As vestes rígidas e sem movimento, expõem-se lisas, caídas, com poucas dobras e pregas, geralmente rectas, auferindo um aspecto singelo. A pintura a pincel finaliza a composição artística com pequenos ornamentos que insinuam renda, folhas, flores e losangos. A madeira ganha cor nos tons de dourado, branco, azul, bege e rosa velho. A base apresenta-se extremamente simples, apenas para suporte da imagem.
A actual imagem entrou solenemente na igreja a 9 de Janeiro de 1919. Primeiro esteve na igreja Matriz de São Sebastião e entrou na Igreja da Saúde com pompa e circunstância.
Encontra-se em bom estado de conservação, segurando o Menino Jesus no braço esquerdo e uma faixa de cetim branco, bordada em dourado com a sua invocação. Foi concebida em posição frontal de forma a marcar presença central no retábulo. A cabeça é coberta por um véu transparente e ornado com flores, que denuncia os cabelos lisos e castanhos, com pouco movimento. O rosto é sereno e calmo. A postura dos braços e mãos segue a linha da face, permanecendo contidos, mas muito próximos à anatomia humana. A Virgem dispõe de túnica, manto, cinto, sandálias e coroa. O Menino exibe túnica, faixa e resplendor. As vestes apresentam algumas pregas e movimento com caimento vertical e delicado. A indumentária é decorada em tons de dourado (reduzido às bordas e peito), azul (o manto), rosa (túnica) e bege (túnica do Menino), de forma lisa e uniforme nos tecidos. Possuí ainda delicadas pedras a ornamentar as vestes. A coroa em prata e prata dourada, apresenta dimensões consideráveis e características muito semelhantes com as coroas do Divino Espírito Santo, com a exceção da cruz latina a coroá-la. O resplendor em prata e prata dourada, detém a forma de um círculo, que difunde raios a partir de um medalhão. A base ostenta uma nuvem com quatro anjos, ao centro duas cabeças com asas, e nas laterais, anjos inteiros, dispostos de forma assimétrica e com movimento. O da esquerda está em posição de oração prostrado sobre um joelho e de mãos postas, enquanto o da direita surge por baixo do manto da Virgem, com uma das mãos elevadas segurando um véu.

 

In “ARRIFES: DETENTORES DE PATRIMÓNIO CULTURAL?”.


Este texto não segue o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa.


* Licenciada em Património Cultural e mestre em Património, Museologia e Desenvolvimento pela Universidade dos Açores/ Sociedade Ibero-Americana de Antropologia Aplicada

 

 

 

Share

Print

Theme picker