SOS HDES
Teresa Nóbrega

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O Hospital do Divino Espírito Santo, apesar de ser considerado uma construção ainda recente, teve por base um projecto já antigo, o que faz dele uma estrutura velha, subdimensionada e desadequada para o tempo actual. Quem o concebeu, numa época anterior às construções faraónicas da era César, não teve a visão do que seria um hospital no século XXI.
Para além da sua estrutura ultrapassada, que provoca disfuncionalidades de diversa ordem nalguns serviços, o abandono a que tem sido votado e a falta de manutenção do edifício provocam sérios contratempos no funcionamento do hospital. Desde logo em dias de chuva intensa é preciso colocar lençóis no chão de algumas enfermarias para absorver a água que escorre das paredes.
Em muitas enfermarias as camas já não estão em condições. Algumas têm as grades partidas e os sistemas eléctricos avariados e no Serviço de Urgência podem ver-se macas velhas e enferrujadas, sobreviventes do antigo hospital. São apenas alguns exemplos, que não são “ruído” mas factos que comprovam o estado de degradação a que chegou o maior hospital da Região, resultado da falta de investimento de sucessivos governos regionais.
A falta de investimento reflecte-se nomeadamente no Serviço de Pediatria. Na unidade de neonatologia os ventiladores já deviam ter sido substituídos há vários anos. Para além dos ventiladores faltam incubadoras e monitores cardio-respiratórios. Situação degradante é o espaço de atendimento da urgência pediátrica. Na Imagiologia as crianças até aos 18 meses que precisam de fazer ressonância magnética têm se deslocar ao Continente por falta de um berço de apoio ao equipamento de ressonância magnética.
Para além da pediatria existem outras áreas prioritárias a necessitar de investimento. A área de ambulatório está em ruptura. É preciso um hospital de dia para as cirurgias de ambulatório. O que existe não chega para as necessidades. Há um projecto de expansão deste serviço numa gaveta há mais de dois anos.
Prioritário é também o serviço de medicina intensiva, que precisa de ser reestruturado e redimensionado. Muitos dos doentes graves só entram no bloco cirúrgico se tiverem vaga nos cuidados intensivos. A cardiologia é outra área prioritária, a exigir a expansão com mais uma sala de hemodinâmica.
A nível geral, muito urgente, urgentíssimo, é a renovação de equipamentos e a aquisição de novas tecnologias para aplicar um conjunto de técnicas inovadoras e “dar o salto” para a modernidade. E por falar em modernidade, a medicina nuclear prevista para Angra e Ponta Delgada, há muito que já está em Angra, mas ainda cá não chegou nem ninguém se importou com isso.
Perante toda esta situação, empresas e cidadãos micaelenses, com o espírito de solidariedade que bem caracteriza a nossa sociedade, organizaram-se para apoiar, sob a figura de mecenato, a aquisição de algum equipamento mais urgente. É nobre, mas os micaelenses não podem, nem devem, prescindir de reivindicar aquilo a que têm direito, numa Região onde impera o espírito reivindicativo.
No que concerne à escassez de recursos humanos qualificados, num país com falta de médicos um hospital destes está condenado a ser um hospital de tarefeiros.    
 No 22.º aniversário do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, Clélio Meneses, Secretário Regional da Saúde, na sua comunicação durante a sessão comemorativa, reconheceu a necessidade de se realizarem algumas obras de manutenção, remodelação e ampliação nas infra-estruturas do hospital, sendo a primeira obra a realizar a recuperação e ampliação do recobro cirúrgico, Prometeu ainda que vai ser feito um esforço em reequipamento adequado aos novos tempos.
“Algumas obras” é muito pouco e “fazer um esforço” para o reequipamento não passa de um gesto de boa vontade com pouco significado para um hospital que precisa de um plano geral de recuperação, reequipamento e redimensionamento que, sem o luxo e o requinte de outros, assegure que o Hospital de Ponta Delgada passe a ter condições para servir os açorianos.

*Jornalista
A autora escreve segundo a anterior ortografia

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