1. A Alemanha em apuros
A Alemanha está em apuros: o número de camas dos cuidados intensivos disponíveis caiu para menos de 10%, em muitas das suas regiões, devido ao aumento de doentes hospitalizados por COVID19.
A sobrecarga da capacidade de cuidados intensivos na Alemanha acontecerá, com elevado grau de probabilidade, dentro de 4 a 5 semanas.
É possível que em Dezembro venha a acontecer um confinamento, na Alemanha.
2. Lições de Singapura
É certo e sabido que o progresso na vacinação tem contribuído para a diminuição de casos de COVID-19, em todo o mundo. Os que não estão vacinados representam a maior parte dos casos graves, e em Cuidados Intensivos (UCI), e sobrecarregam qualquer sistema de saúde.
O governo de Singapura apresentou “Medidas de Gestão Segura de Vacinação” (VDS), que serão um ponto crucial da estratégia de reabertura nas próximas semanas, a fim de proteger os mais vulneráveis da sociedade do risco de infecção por COVID-19.
Singapura permitirá que até 5 pessoas totalmente vacinadas, da mesma família, jantem juntas em estabelecimentos de restauração e bebidas (ERB). Assim, tentará o retomar de mais atividades para os que estão totalmente vacinados, começando com desportos e eventos, como reuniões, conferências e exposições, sujeitos ao requisito adicional de “Teste Rápido de Antígenio” (ART), ou seja, um protocolo “VDS + ART”.
Isto permitirá que as atividades de alto risco sejam retomadas com segurança. Se for bem-sucedido, este protocolo será estendido a outras situações.
Também nas escolas e viagens serão adoptadas novas medidas.
Em Singapura o número de casos diários estabilizou, há cerca de 3 semanas, em mais de 3.000 casos por dia, em média, 99% dos quais com sintomas leves, ou nenhum sintoma, e a grande maioria consegue recuperar bem em casa. A proporção de pacientes que requerem suplementação de oxigénio manteve-se estável em 0,8% do total de casos, e aqueles que requerem cuidados em UCI em 0,3%, nos últimos 28 dias.
Porém, o número de casos em UCI permanece alto, estável em 140 casos, que ocupam 70% da capacidade atual de camas na UCI.
Singapura expandiu activamente a capacidade das Instalações de Tratamento COVID-19 (CTFs) e Instalações de Isolamento Comunitário (CIFs), nas últimas semanas para receber pacientes COVID-19, que não requerem cuidados intensivos em hospitais.
As vacinas continuam a ser essenciais para proteger vidas e a capacidade do sistema de saúde, face a grandes volumes de casos, pois fornecem forte proteção contra infecções e doenças graves. Até agora 85% da população de Singapura recebeu duas doses de vacinas COVID-19 e 18% receberam reforços. Singapura tem priorizado os idosos a vacinarem-se, pois são mais vulneráveis a doenças graves, se infectados com COVID-19. Atualmente, 94% dos idosos na faixa etária de 60 a 69 anos e 90% dos idosos com 70 anos ou mais completaram a vacinação anti-COVID-19, enquanto 82% dos idosos elegíveis com 60 anos ou mais receberam reforços .
O Comité de Especialistas em Vacinação COVID-19 (EC19V) de Singapura ao saber que a vacina Pfizer BioNTech / Comirnaty foi aprovada pelos EUA, para uso em crianças de 5 a 11 anos, decidiu avaliar a extensão da vacinação para crianças de 5 a 11 anos em Singapura. Isso conferirá proteção contra infecções e doenças graves e possibilitará uma experiência educacional mais rica em 2022.
Até agora o governo paga as contas médicas COVID-19 de todos os cidadãos de Singapura, excepto para aqueles cujo teste dê positivo logo após o regresso de uma viagem ao exterior.
Porque, actualmente, os não vacinados constituem a maioria daqueles que necessitam de cuidados intensivos, de internamento, e contribuem de forma desproporcional para o desgaste dos recursos de saúde do país, a partir de 8 de dezembro de 2021 o governo de Singapura cobrará a conta dos cuidados de saúde, aos doentes com COVID-19 que não foram vacinados por opção.
Isso aplicar-se-á a todos os pacientes com COVID-19 não vacinados, admitidos após 8 de dezembro de 2021, em hospitais e CTFs. As contas médicas do COVID-19 daqueles que não são elegíveis para vacinação, ainda serão totalmente pagas pelo governo, ou seja, crianças menores de 12 anos ou pessoas clinicamente inelegíveis.
A partir de 1 de janeiro de 2022, apenas os doentes COVID-19 que estão totalmente vacinados, e não viajaram recentemente, terão as suas contas médicas por COVID-19 totalmente pagas pelo governo.
Singapura encoraja as famílias a continuarem a ter cuidado e moderação ao jantar fora, especialmente se houver idosos em casa. O tamanho do grupo de jantar para aqueles que se qualificam para VDS, mas não são da mesma família, permanecerá limitado a 2.
Indivíduos que violem estas regras (por ex., fingindo ser da mesma casa), bem como ERB que não implementem as verificações necessárias, serão multados e os ERB estarão sujeitos a fecho imediato.
Vacinar quem é elegível, testar regularmente e seguir os protocolos de saúde garantirá que os recursos limitados de saúde sejam efetivamente alocados para os necessitados e permitirá a criação de países resilientes ao COVID-19.
3. A necessidade de vacinação COVID19 para crianças com idade menor 12 anos
Um estudo sobre a evidência comparativa das características clínicas em pacientes durante uma onda Delta recente (B.1.617.2), em crianças com menos de 12 anos, foi conduzido por Hongru Li e colegas, com o objectivo de avaliar a necessidade de vacinação com Covid-19 em crianças com menos de 12 anos, comparando as características clínicas em crianças não vacinadas com menos de 12 anos com pacientes vacinados mais de 12 anos durante o pico Delta (B.1.617.2) em Putian, Fujian, China. Concluíram que crianças com idade menor a 12 anos podem ser propagadores ocultos, o que indica uma necessidade urgente de vacinação para esta população em particular.
Passa agora 1 ano que os profissionais de saúde pública perceberam bem isto, no terreno, e lançaram alertas, 2 meses antes da catástrofe de Janeiro de 2021.
*Médico graduado em Saúde Pública e Delegado de Saúde