Alguns traços do Pensamento e Obra de José Ribeiro Dias (I)

Alguns traços do Pensamento e Obra de José Ribeiro Dias (I)

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Filosofia da Educação e Educação de Adultos

Neste ano de 2021, José Ribeiro fez 91 anos no dia 20 de janeiro. Nasceu em S. João de Tarouco, no Concelho de Tarouca, Distrito de Viseu. Em vários documentos, livros do próprio, ou de Homenagem,  encontramos elementos fundamentais para uma cronologia da sua biobibliografia. É o caso do Texto “José Ribeiro Dias, o Homem e o Educador”, (2000, pp: 27-48), escrito e estruturado pelo Professor Manuel Sequeira, da Universidade do Minho, incluído no Livro Prof. Dr. José Ribeiro Dias. Homenagem, publicado em 2000, ano de Jubilação do Professor José Ribeiro Dias. Nascer, eis o verbo, em ato, em movimento, que nos põe na caminhada da coexistência externa da vida. Na sua obra, em especial de certa altura, o Professor José Ribeiro Dias é muito sensível aos verbos e aos étimos das palavras. Isso é bem visível, de modo sistemático, em dinâmica, no livro Na Rota do Mistério. Viver, Saber e Amar, publicado em 2018, e que também foi apresentado, nos Açores, aqui em Ponta Delgada, no dia 11 de janeiro de 2019. É um livro de uma análise rigorosa que constitui, afinal, uma grande Síntese em que os verbos VIVER, SABER e AMAR vão criando e suscitando reflexões, análises e sínteses, geradoras de uma Obra de Unidade de significação laboriosa de uma vida, em que a Filosofia da Educação constituiu uma disciplina Fundamental de investigação e ensino, irrigando diferentes disciplinas e saberes. E bem vistas as coisas, já não apenas uma Filosofia da Educação mas uma “Educação da Filosofia”, que nos leva a ver mais fundo, até criando um novo horizonte:

“O que parece querer dizer que, se verdadeiramente queremos chegar à meta do autêntico saber, teremos de abrir o caminho não pela Filosofia da Educação mas pela Educação da Filosofia. Por outras palavras, não podemos ficar só em amar o saber, na Filo-sofia, mas atentos ao aviso de Fernão Capelo Gaivota: “vê mais longe a gaivota que voa mais alto, precisamos de subir mais alto para ver mais longe…” (Dias, 2018, pp: 254-55).

    Neste livro, na Rota do Mistério, o Filósofo José Ribeiro Dias vai a diversas fontes bibliográficas, da Educação, da Filosofia da Educação, da Cultura, da História das Religiões, da Literatura, da Poesia, etc, e vai interligando tudo em intertextualidades de sentido, em que a Vida, natural e humana e o Sentido da Transcendência e do Divino estão presentes. E a obra termina, de certo modo, com uma Teologia da Educação, com  uma Teologia, melhor, com um Diálogo com o Deus Pessoa, o Deus do Cristianismo. O Filósofo encontra – ou reencontra – não o Deus dos Filósofos, mas o Deus Trindade. E na tradição universitária da Oração de Sapiência
    Um livro ligado ao anteriormente citado é o seguinte: Educação. O Caminho da Nova Humanidade. Das Coisas, às Pessoas e aos Valores -, no qual o Professor José Ribeiro Dias faz luminosos lances de sínteses profundas. É um livro que importa para a Educação toda e toda a Educação, quer em contexto escolar quer não escolar. É, portanto, um livro que nos leva sempre mais longe na Formação de Educadores e Professores, no horizonte da Educação de Adultos. A Filosofia da Educação faz a diferença mas mais ainda a “Educação da Filosofia”, um conceito renovador e inovador, até porque leva a Filosofia a pensar-se na sua vocação formativa.
Se analisarmos os Programas de Filosofia da Educação, do Professor José Ribeiro Dias, ao longo do tempo, verificamos que sempre trabalhou temáticas, problemáticas e Figuras, de modo sistemático e problematológico. Isto é, os vários autores e correntes que foram dando contributos, ao longo da História e na Atualidade para pensar, de modo reflexivo e crítico, a Educação e a Formação de Professores. O Professor José Ribeiro Dias nunca concebeu um Curso de Formação de Educadores e Professores que não tivesse a Filosofia da Educação, mas importante, não apenas, do ponto de vista concetual, mas principalmente do ponto de vista formativo. É da formação de pessoas que estamos a falar. E nos tempos que correm há riscos graves de deformação, isto é, de uma formação inautêntica. Também por isso é fundamental regressar ao futuro dos valores e corresponsabilidades todos no processo educativo. Entre a metáfora do oleiro, que impõe uma forma e sai objetos, em série, iguais, o Professor José Ribeiro Dias, em termos concetuais e práticas, de exemplo, como Pessoa, como Professor e Investigador dá relevo à metáfora do Jardineiro. É constante, até hoje, esta conceção concetual, educativa e experiencial de José Ribeiro:
    
“Entendemos hoje a educação como processo de criar condições para que os seres humanos se desenvolvam em todas as suas dimensões, cresçam, sejam, se realizem, ao logo de toda sua existência. Trata-se da educação ao longo da vida, através das suas diferentes fases: educação de infância, educação de jovens, educação de adultos.
Mas este processo é de caráter estruturalmente intersubjetivo – educação comunitária – e progride pela interconjugação dos verbos educar, por parte do educador, e crescer, por parte do educando. Mesmo desenvolvendo-se em círculos de alternância e reciprocidade (somos todos educadores e educandos), em cada momento, as duas funções encontram-se claramente atribuídas. Cada um de nós, enquanto educador cria ao outro as condições, enquanto educando ele próprio. Porque, obviamente, ninguém cresce ninguém.”  (Dias, 2002, p. 18).

    O sentido do campo, como lugar de cultura, e do jardim está presente no discurso de José Ribeiro Dias, o que ainda ganha outra potência criadora num Filósofo tão viajado e cosmopolita, de vistas largas, que sabe e escuta, no seu fundo, a voz da Terra, aqui do Jardim. Todavia, em qualquer lugar, numa afirmação singular, podemos ter um horizonte universal. Mas quando amamos a Terra, como um princípio de vida, a terra permanece em nós, na maravilha do ser que há a ser e ver, a contemplar, é, também aí, a maravilha do filosofar original. Afirma José Ribeiro Dias, em traços filosóficos e poéticos, na raiz da vida que se diz, também, nos atos de educar e filosofar:

“Quando a meio dos solstícios, em Março, o Sol inunda o jardim, as sementes e os bolbos, os troncos e os ramos das plantas, cada qual a seu tempo e a seu modo, irrompem em primaveras. Não se compreende, por isso, melhor, não é possível separar, ou mesmo camuflar, a ligação entre o Sol e Vida, ou, falando ao nosso jeito, entre Educar e Filosofar. “ (Dias, 2002, p. 19).  

Que Beleza sentir assim a Filosofia, pelas palavras de um Filósofo e Teólogo tarimbado, que nunca deixa de se espantar, de viver, de viajar, de ir em encontro do novo, da novidade da natureza ou de algo construído pelo homem, pelo ser humano, com uma auto-estrada, novas vias de comunicação. E tudo isso pude testemunhar, em longas e fecundas conversas, desde o início da minha carreira académica, como Docente, e Professor, até hoje.


Referências bibliográficas (alguns referências, de uma Obra tão vasta que fica para outros estudos, investigações e escritas).
 (a indicar no último texto).


*Doutorado e Agregado em Educação
e na Especialidade de Filosofia da Educação

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