Rui Rio enfrenta o maior  desafio da sua vida política

Rui Rio enfrenta o maior desafio da sua vida política

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Derrotados Rangel e os seus apoiantes, Rui Rio tem diante de si o sério desafio de ganhar as eleições legislativas, marcadas para 30 de Janeiro. Os dois meses que delas nos separam vão ser cruciais para a sua já longa carreira como um político de causas.
Desde logo, a primeira tarefa é a pacificação do Partido Social Democrata. Os sinais de divisão estão patentes e as eleições internas trouxeram-nos à luz do dia.
Há uma forte corrente que sonha com o regresso ao “passismo”, entendido como a união das Direitas para desfazer de vez o socialismo e implantar no nosso País o modelo neo-liberal puro e duro, privatizando o  que porventura ainda resta do sector público, incluindo a Caixa Geral de Depósitos, se preciso for alienando esse património ao preço da chuva e a capitais estrangeiros, porventura chineses ou outros que se mostrem interessados. O factor trabalho deve ser desvalorizado, mediante cortes nos salários; e as pensões não ficam livres do mesmo tratamento agressivo, em nome do equilíbrio da Segurança Social e do combate aos alegados privilégios da “praga cinzenta”, despectiva designação dada aos reformados que teimam em se manter vivos. Foi isso que se tentou ao “ir além da Troika”, nos tempos da governação Portas/Passos/Relvas, de infeliz memória.
Rangel foi trazido de Bruxelas para encabeçar tal corrente, apresentando-se como visando à maioria absoluta do PSD, com expressa rejeição de qualquer entendimento ao Centro com o PS e até também de um arranjo pré-eleitoral com o CDS, dado já como morto e enterrado. Parece-me que foi esse radicalismo que mobilizou os militantes do PSD que foram votar em Rio no sábado passado, por todo o Portugal fora, incluindo as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Não se pode levar a sério uma proposta tão carecida de senso, movida por miragens desconexas, que não servem os interesses dos cidadãos comuns.
Rio foi mais hábil na formulação das suas propostas aos militantes e já agora também ao eleitorado em geral. O desconsolo com a política de tipo “gerigonçal”, praticada pelo Governo PS do Primeiro Ministro António Costa, está bastante generalizado. O resultado de tal política tem sido o crescimento anémico dos últimos anos, do qual resulta estar Portugal a ser ultrapassado, em termos de rendimento e bem estar, por vários dos países aderentes à União Europeia e que nela entraram depois de nós e em muito piores condições. A fuga dos mais habilitados para fora do País é sintomática do péssimo efeito  da falta de empregos e dos baixos salários oferecidos, por vezes até ultrajantes perante as exigências de preparação requeridas.
Para Rui Rio, a solução dos problemas passa por um entendimento com o PS, que é afinal o principal responsável pelo bloqueio em que Portugal se encontra desde o fim do consulado cavaqueano. O facilitismo introduzido pelo PS sob António Guterres tem sido mantido pelos seus sucessores e até aos nossos dias; atingiu o apogeu no tempo de José Sócrates, cujos desvarios ainda não estão completamente apurados, mas já vão pesando sobre os contribuintes em termos de agravamento da dívida pública destinada a financiar a “festa” socialista e agravada pelo estouro em cadeia dos bancos privados, hoje nas mãos de estrangeiros. Tudo isso só podia agravar-se, como de facto aconteceu, sob a influência determinante, nos últimos anos, do PCP e dos seus émulos do BE, formatados nas reclamações do período revolucionário, que erradamente invocam sob a designação de “conquistas do 25 de Abril”.
Será capaz o PS de pôr a mão na consciência e reconhecer que pelos caminhos até aqui percorridos não vamos lá? É este o grande dilema posto a António Costa e à sua equipa dirigente.  Se porventura ficar em primeiro lugar nas eleições de Janeiro, a solução certa não será insistir no esquerdismo do PS e voltar correndo aos braços dos antigos parceiros; mas antes, situar o seu partido no Centro e promover um entendimento com o PSD sobre os problemas de fundo que o nosso País tem de resolver depressa, para não permanecer na qualidade de pedinte permanente perante os países ricos da União Europeia, à espera da oportunidade de ir ao banco receber algumas verbas que nos sejam concedidas por dó.
Pode, porém, acontecer e até não é de excluir, atenta a dinâmica criada pelas eleições autárquicas e pelas eleições internas do PSD, que o vencedor venha a ser este mesmo partido, cabendo a liderança da solução subsequente a Rui Rio. O modo como ele pensa actuar está já divulgado e António Costa e o PS têm a obrigação de ir a jogo!
E é aqui que o tema da unidade do PSD adquire especial actualidade e até urgência. Poderão ser incluídos nas listas de candidatos a Deputados os que defendem uma linha de acção contrária ao líder escolhido pelos militantes do partido? Estarão dispostos a prescindir dos seus pontos de vista e adoptar agora a posição maioritariamente apoiada pelos militantes, conforme a proposta do líder relegitimado em eleições directas?
Uma coisa transparece com clareza do processo recente: há uma certa clivagem entre os dirigentes distritais e concelhios e os militantes de base! Rangel foi ungido com o apoio expresso de muitos dirigentes do aparelho e isso não lhe serviu de nada, forçando a uma rápida retirada para o seu refúgio permanente no Parlamento Europeu. Comprova-se que há um fenómeno de apropriação do poder por uma certa elite partidária, que distribui entre si os lugares do Estado e das Autarquias Locais a seu belo prazer. E não se trata de um exclusivo do PSD, antes de algo bastante generalizado nos partidos políticos, por isso mesmo vistos de má maneira pelos cidadãos em geral. É urgente pôr cobro a isso!


(Por convicção pessoal, o Autor não respeita a assim chamado
Acordo Ortográfico.)

 

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