A Génia
Lídia Meneses

A Génia

Previous Article Previous Article Está criado o Gabinete de Prevenção da Corrupção e da Transparência
Next Article Bolieiro vai aos EUA reunir com políticos e empresários da costa leste Bolieiro vai aos EUA reunir com políticos e empresários da costa leste

16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência Contra as Mulheres

Este artigo é resultante de um convite da Umar Açores, no âmbito do movimento internacional dos 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as Mulheres, o qual promove, para 2021, ativismo e reflexão sobre temas como: o fim da violência de género, no mundo do trabalho e um foco adicional no feminicídio, o assassínio da mulher, em razão do seu sexo.
Agora, quanto ao título deste artigo, dediquei-lhe reflexão especial.
Não me soavam bem, estas duas palavras, “a génia”.
Nesta mesma estranheza, compreendi, a existência de um preconceito interiorizado.
 A adjetivação de uma mulher inteligente, extra talentosa ou fora de série, normalmente, é realizado, modestamente. Constatei, portanto.
Em seguida,  realizei o seguinte exercício: escrever 10 nomes de mulheres geniais e famosas, ao longo dos tempos.
Reparei que, 3 nomes surgiram e, para meu, espanto, rapidamente fiquei sem referências, eram elas: Maria Curie; Georgia O’Keeffe e Hipátia de Alexandria.
Eram mais os nomes masculinos, dos que me lembrava.
Fiquei  intrigada com o meu parco conhecimento, sobre o assunto.
Após melhor reflexão, raciocinei que, muitos outros nomes femininos, fluíam sem parar, só que, simplesmente, não tinham sido, vigorosamente, aclamadas de génios, isto é, de génias.
Como exemplo: Madre Teresa de Calcutá, Margaret Thatcher, Angela Merkel, Lady Gaga, Simone de Beauvoir, Madonna ...
Reparo, também, que só na Língua Portuguesa, existe esta distinção entre génio e génia, no inglês temos, the genious, para ambos os géneros e no francês, le génie.
Mas é a pesquisa sobre o que é a genialidade e  a inteligência a que mais faz justiça à despropositada caracterização de um cérebro, pelo seu género.  
Para além de haver inteligências diversas, há características comuns aos que partilham desta peculiar capacidade, a genialidade.
Possuem múltiplos talentos e a rápida conexão entre as diferentes partes do cérebro, resulta em pensamentos complexos,  rápidos e criativos.
 As pessoas inteligentes também parecem partilhar, desta tendência para questionar e testar o que está estabelecido ou convencionado.
Hoje, felizmente, existem extensas obras e estudos científicos a respeito, os quais concordam sobre os mesmos aspetos: cérebro não tem género e a genialidade nem sempre é reconhecida, a tempo da existência humana, de quem a tinha.
Ao pesquisar online sobre o conceito de ser uma mulher inteligente, partilho a lista que encontrei: é facilmente adaptável; percebe quanto não sabe; tem uma curiosidade insaciável; lê muito; tem uma mente aberta; gosta da sua própria companhia; tem um elevado auto- controlo; é muito divertida. Ora, quão conveniente parece ser esta lista.
Mas deixo esta reflexão em aberto, pois todo este último parágrafo, resultaria em muitas palavras.
Segundo a fórmula de Craig Wright:
G = S x N x D, génio (G) é igual a quão significativo (S) é seu impacto ou mudança, multiplicado pelo número (N) de pessoas impactadas e pela sua duração (D) no tempo.
Esta fórmula expõe a importância de se reconhecerem génias, na humanidade.
Só agora tem-se falado na pioneira do GPS, Gladys West ou na precursora do Wi-fi, a fabulosa e bela atriz, também cientista e espiã, Hedy Lamarr ou da primeira pessoa programadora de todos os tempos, Ada Lovelace.
A questão da violência está, noquanto foram e são invisíveis, desconsideradas e, até maltratadas, ao longo da história, muitas outras mulheres, de quem, ainda, não se ouviu falar.  
Imagine que enquanto o historiador escrevia a história sobre o homem ser caçador e a mulher coletora, a sua esposa, também ela a colega historiadora, lhe passava a ferro as camisas e fazia a sopa, enquanto lhe relembrava a importância dos feitos da rainha e guerreira celta-Boudica-no sucesso das guerras celtas, contra os patriarcais exércitos romanos.
No fim o texto seguiu, para publicação, com o pseudónimo masculino, sem que a mulher tivesse tempo de o rever, porque teve de ir comprar farinha, para amassar o pão.  
O resultado deste evento subentende-se, mais uma vez, tanto os feitos da rainha celta, como a profissional historiadora, esvaneceram-se.
Imagensà parte, chamo à atenção pela maneira como a genialidade da mulher tem sido maltratada e, também, pouco reconhecida e registada.
Reescrever a história e ajustar comportamentos, especialmente, na cultura pop e nos media, é importante para acabar com esta misoginia que, outrora, na nossa civilização, terá dizimado dezenas de milhares de mulheres.
As atuais farmacêuticas, médicas e botânicas, há poucos séculos atrás, foram queimadas, sob o pretexto de bruxaria.
Outras disfarçavam-se de homens, para servirem os seus países, na guerra, como a Joana D´Arc e, nem esta, fugiu do mesmo fim, a fogueira.
A autora de Harry Potter, Joanne Rowling terá adotado as iniciais “J.K” como pseudónimo a pedido do seu editor, o qual receava que os meninos não teriam interesse na leitura desta fantástica série de aventura e fantasia, se o nome seguisse feminino.
Hoje, ainda se teme a genialidade patente em extraordinárias mulheres.
Não perdeu a Hillary para o Trump?
Malala não foi baleada, por talibãs, por querer estudar?
Há muito que queria expressar-me quanto ao mito gerado de que há um cérebro feminino e um cérebro masculino.
Sempre considerei esta classificação limitadora e profissionalmente, inconveniente, para ambos os sexos. Afinal, está na hora da humanidade dar um passo em frente, sem retrocessos.
Todos sabemos que necessitamos de uma estrutura, de um parente, de um marido ou esposa dedicados, de um conjunto de amigos para chegarmos até onde podemos, de facto chegar.
 Que a ninguém seja vedado o acesso e direito a ser inteligente e um dia, genial.

Share

Print

Theme picker