A lição dos aparelhos
Osvaldo Cabral

A lição dos aparelhos

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Editorial

A vitória de Rui Rio para a liderança do PSD nacional - que em nada enriquece os Açores -, encerra uma lição que os aparelhos partidários teimam em não aprender.
Rio ganhou com o voto das bases, contra o aparelho do partido, coisa muito vulgar entre nós, aqui na região, em que os senhores dos aparelhos sentem-se donos e senhores dos partidos que dirigem.
Apenas três exemplos de três partidos.
O PS, nestes últimos anos, foi o partido mais autista da região.
Ignorou, em toda a linha, as opiniões que questionavam muitas das decisões da governação, fez orelhas moucas a muitos alertas e nunca promoveu debates internos que produzissem pensamento crítico.
Resultado: mergulhou numa queda eleitoral vertiginosa, sem ligar às bases, até perder a maioria absoluta que lhe dava o poder de fazer o que entendesse, promovendo as elites aparelhísticas. Prosseguiu o erro nas últimas autárquicas, com a escolha das candidaturas a Ponta Delgada, e parece que vai continuar com a escolha do cabeça de lista para as próximas nacionais.
O PSD-Açores bebeu do mesmo veneno, também recentemente, na ilha de Santa Maria.
As bases daquela ilha queriam um determinado candidato ao município de Vila do Porto, mas o aparelho do partido em Ponta Delgada, do alto da sua sapiência, impôs outra figura.
Resultado: foi copiosamente derrotado, como previam todas as bases na ilha.
Outra obsessão elitista é a do Bloco de Esquerda.
Desde há algum tempo o aparelho do BE nos Açores anda focado numa acção persecutória ao Hospital de Ponta Delgada, quando toda a gente já percebeu que é uma luta perdida, porque não cola com a realidade.
A tal ponto de ter promovido umas audições em comissão parlamentar, que apenas serviu para demonstrar que a estratégia do aparelho está errada, com a agravante de algumas das intervenções, como a da representante da Ordem dos Médicos, ter sido um enxovalho.
Estes exemplos, de partidos diferentes, provam como muitas das agendas promovidas pelos aparelhos andam longe do pensamento das bases.
O eleitorado não perdoa estes afastamentos daquilo que realmente interessa às comunidades e já provou que não gosta do elitismo de lideranças que se limitam a ouvir os amigos e a clientela mais próxima dos aparelhos.
Resultado nas urnas: um banho de realidade popular!
Bem merecido.

 

Outro exemplo vergonhoso


O inefável ministro Cabrita há muito que devia ter sido demitido. Na sua tradicional cruel frieza volta a limpar as mãos do acidente, limitando-se a dizer que era “um passageiro”!
Não senhor, não era apenas “um passageiro”. Era o patrão e mandante do motorista, a quem, certamente, não pediu para reduzir a velocidade.
António Costa, contra as vozes populares e das bases, prefere apoiar o seu amigo e braço direito do aparelho.
Aí está outro exemplo escandaloso sobre como o elitismo aparelhístico se sobrepõe à realidade.
É o país que temos e os políticos que o país nos dá.
(Afinal demitiu-se. Mas não foi demitido. Só neste país!).

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