A transportadora aérea açoriana SATA/Azores Airlines é a primeira companhia portuguesa com melhores condições e vivência laborais, segundo o resultado de um inquérito elaborado pela European Cockpit Association (ECA) a 5.751 Pilotos, de 136 companhias aéreas Europeias.
De acordo com o inquérito, a que o nosso jornal teve acesso, a SATA/Azores Airlines é a primeira companhia portuguesa da lista, em 15º lugar, ficando a TAP a meio da tabela e as portuguesas White Airways, EuroAtlantic e HiFly com classificação negativa.
A SkyExpert, empresa de consultoria especializada em transporte aéreo e aeroportos, analisou os resultados deste inquérito, que assume particular relevância após quase dois anos duros para o setor e para estes profissionais: despedimentos, redução do período de trabalho e de salários, incerteza quanto ao futuro e à formação de novos profissionais.
“Passámos rapidamente de um período em que havia falta destes profissionais antes da pandemia para um momento de enorme incerteza e em que há um claro excesso de pilotos no mercado, sem esquecer que vários cursos de formação foram interrompidos ou cancelados”, afirma ao nosso jornal Pedro Castro, director e fundador da SkyExpert.
“Ou seja, as companhias que lideram este ranking europeu souberam, apesar de tudo, manter o diálogo e a preocupação com os seus pilotos num dos períodos mais catastróficos da sua história”, conclui.
Para Otjan de Bruijn, presidente da European Cockpit Association, o órgão representativo destes profissionais junto da União Europeia, este inquérito composto por um questionário de duas páginas, serviu para os pilotos classificarem o seu empregador no que toca à generalidade das condições e vivências laborais: desde a relação com os sindicatos aos acordos de empresa, passando pelos contratos de trabalho, as condições de recrutamento, cultura de empresa e o chamado “work-life-balance” promovido.
A pontuação máxima total é de 100, que corresponde à melhor empresa para se trabalhar enquanto piloto.
Com 98 pontos, a Air France alcançou a pontuação máxima e ficou na 1ª posição, seguida da cargueira holandesa do mesmo grupo Martinair e da companhia alemã Condor, em 3º.
Em último lugar ficou a Olympus Airways (a não confundir com Olympic Air), companhia charter da Grécia.
Com 93 pontos, a SATA/Azores Airlines é a primeira companhia portuguesa do grupo num honroso 15º lugar.
A meio da tabela surge a TAP e com classificações inferiores a 50 encontram-se a White Airways, a EuroAtlantic e a HiFly.
“Pilotos da SATA premiaram a empresa, o que é excelente”
Pedro Castro, fundador e director da SkyExpert, fez em exclusivo para o “Diário dos Açores” uma apreciação desta classificação da SATA/Azores Airlines:
“Conhecemos o lado de fora do impacto da pandemia nas companhias aéreas.
Mas conhecemos pouco sobre o lado de dentro.
Como lidaram as companhias internamente com as medidas duras que tiveram de tomar e como trataram os trabalhadores nos últimos 2 anos, por exemplo.
Este inquérito veio dar algumas respostas, pelo menos no que diz respeito aos Pilotos.
E, nesse aspeto, a SATA/Azores Airlines surge não só como a primeira companhia Portuguesa na classificação, como também num lugar de destaque: 15º em 136 companhias aéreas e com uma classificação de 93 em 100 pontos.
A apreciação que me é possível fazer com base neste resultado é a de que os Pilotos da SATA/Azores Airlines premiaram o lado social/laboral/relacional do seu empregador.
Este reconhecimento interno é excelente para qualquer empresa, como é óbvio.
Por outro lado, de acordo com dados recentes, a SATA/Azores Airlines conseguiu, através de várias medidas, navegar relativamente bem ao longo desta crise, quer em número de passageiros, quer em termos do aproveitamento do mercado inter-ilhas com a “tarifa Açores”, quer em termos do mercado doméstico de lazer do Continente para os Açores e do lançamento de rotas para a sua diáspora como foi a que ligou São Miguel às Bermudas este Verão.
Existiu igualmente uma melhoria da pontualidade e um desenvolvimento muito importante do produto com a escolha de snacks e refeições claramente regionais o que torna a experiência, no seu todo, muito positiva.
Este ciclo de “positivismo” acaba por “contagiar” todos na cadeia de valor, inclusivamente quem comanda no “cockpit” e, aparentemente, está mais longe deste contato direto. A verdade é que não está”.
Sobre o processo de reestruturação da SATA, o especialista em aviação comercial diz-nos o seguinte:
“Existem, desde logo, algumas incógnitas. Os programas de reestruturação apresentados pelas companhias a Bruxelas não são publicamente conhecidos, pelo que fica complicado traçar linhas concretas sobre este tipo de decisões.
A SATA Air Açores e a sua função de serviço público essencial de ligação inter-ilhas colocará sempre essa parte da operação num lugar seguro, uma espécie de “justificação natural” perante Bruxelas.
As questões da Comissão poderão por isso focar-se noutros aspetos, tais como o monopólio da SATA Handling na assistência em escala dos aeroportos açorianos, em particular no aeroporto de Ponta Delgada e na operação da Azores Airlines nas rotas em que tem concorrentes e como é que essa ajuda pode distorcer ou distorceu o mercado?
Todos nos lembramos que a easyJet saíu de Ponta Delgada após somente 2 anos de presença e que, se não regressou nestes anos de pandemia caracterizados pela disponibilidade de frota e pelo aumento do turismo interno, haverá seguramente alguma outra razão.
Distorção do mercado poder ser uma dessas razões e é o tipo de situação que a Comissão não gosta de fomentar e que aproveita sempre para corrigir quando tem este tipo de dossiers em cima da mesa”.