Sobre assintomáticos e a Ómicron
Mário Freitas

Sobre assintomáticos e a Ómicron

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Conversas pandémicas (85)

1. Testar, testar, testar

A COVID-19, doença causada pelo SARS-CoV-2, foi notificada pela primeira vez em dezembro de 2019, e já provocou quase 300 milhões de doentes confirmados, incluindo mais de 5 milhões de mortes.
O curso da doença COVID-19 varia entre infecções respiratórias assintomáticas, e leves, até pneumonia.
Pacientes sem sintomas na triagem são definidos como com infecções assintomáticas, e incluem pessoas infectadas que ainda não desenvolveram sintomas, mas que os desenvolverão mais tarde (infecções pré-sintomáticas) e os que estão infectados, mas nunca chegarão a desenvolver quaisquer sintomas (verdadeiros assintomáticos ou infecções ocultas).
Devido à ausência de sintomas, estes pacientes não procuram o médico e acabam por não ser detectados. Apenas testes e rastreio em massa de contactos próximos podem levar à identificação das infecções assintomáticas.
Ao contrário da SARS, que teve pouca transmissão conhecida por pacientes assintomáticos, as evidências mostram que os pacientes assintomáticos são uma fonte de transmissão da COVID-19.
 Um estudo mostrou que as cargas virais respiratórias superiores em pacientes assintomáticos são comparáveis às de pacientes sintomáticos. Também sabemos que a carga viral mais alta em “esfregaços da garganta” no momento do início dos sintomas indica que a infecciosidade atinge o pico antes do início dos sintomas. Vários estudos mostram também que as infecções assintomáticas podem ter contribuído para a transmissão domiciliária, em enfermarias e em ajuntamentos.
As infecções assintomáticas devem ser consideradas uma fonte da COVID-19, e desempenharam um papel importante na disseminação do vírus na comunidade, à medida que a vida retornou gradualmente ao normal.
Detectar os portadores assintomáticos é essencial para prevenir surtos e a transmissão numa comunidade.
Uma meta-análise foi realizada para compreender melhor a percentagem global de infecções assintomáticas nas populações de COVID-19 testadas e confirmadas. Os resultados foram publicados no dia 14 de dezembro de 2021, no artigo “Percentagem global de infecções assintomáticas por SARS-CoV-2 na população testada e nos indivíduos com diagnóstico confirmado de COVID-19 - Uma revisão sistemática e meta-análise”, de Qiuyue Ma, PhD; Jue Liu, PhD; Qiao Liu, BD; et al [no JAMA Netw Open. 2021; 4 (12): e2137257. doi: 10.1001 / jamanetworkopen.2021.37257]
Os autores conduziram a meta-análise seguindo a diretriz PRISMA, para Revisões Sistemáticas e Meta-análises. Foram identificados 2860 estudos, através da pesquisa em base de dados e listas de referências de artigos e revisões.
Nesta meta-análise, descobriu-se que a percentagem combinada de infecções assintomáticas na população confirmada foi de 40,50% (95 % CI, 33,50%-47,50%). Descobriu-se também que a percentagem de infecções assintomáticas era mais alta na população testada em lares de idosos, e mais baixa nos residentes da comunidade.
Os estudos na Ásia tiveram a percentagem mais baixa, enquanto os estudos noutras localizações tiveram percentagens mais altas.
A percentagem de infecções assintomáticas na população confirmada foi de 54,11% nas mulheres grávidas e 52,91% em viajantes de avião ou de navio de cruzeiro; foi ainda de 47,53% em residentes ou funcionários de lar de idosos.
Esta descoberta, de uma alta percentagem de infecções assintomáticas nos viajantes de avião ou navio de cruzeiro, sugere que a triagem e a quarentena na chegada ao aeroporto são importantes para reduzir as transmissões na comunidade, especialmente em países sem transmissão local.
A percentagem de infecção assintomática nos indivíduos confirmados, foi de 39,74% na comunidade. Isto sugere que as infecções assintomáticas podem contribuir para a transmissão do SARS-CoV-2 na comunidade. Para prevenir uma maior transmissão nas comunidades, os indivíduos assintomáticos, na população em geral, devem ser testados.
Se os recursos forem limitados, devem ser testados por rotina os trabalhadores de sectores específicos, como transporte aéreo, lares e serviços de saúde.
Descobriu-se que, aproximadamente um terço dos indivíduos com COVID-19 confirmado que são profissionais de saúde, ou pacientes hospitalizados, eram assintomáticos.
Um estudo anterior mostrara que a maioria dos pacientes assintomáticos pertence a grupos mais jovens, o que está de acordo com os achados de nosso estudo. A percentagem de infecções assintomáticas foi maior nos grupos com menos de 39 anos do que noutras faixas etárias, possivelmente porque os adultos jovens são mais propensos a apresentar apenas sintomas leves ou moderados. Isto indica que os adultos jovens, que frequentemente apresentam sintomas leves, ou até nenhum sintoma, são uma fonte potencial de transmissão na comunidade.
2. A Omicron toma o poder

O país com o maior número de casos per capita no mundo, neste momento, é a Dinamarca. Apesar de ter 77% de sua população totalmente vacinada, e 23% com reforço. A Omicron será rapidamente a dominante.
Ao mesmo tempo, no dia 15.12.2021 o Reino Unido teve 78610 novos casos, bem acima de qualquer dia anterior na pandemia. Isto é o resultado do efeito combinado das variantes Delta e Omicron.
Em Londres isto é por demais evidente.

A variante Omicron vai provocar ondas de casos nunca antes vistas, em todo o mundo, como bem documentam já os gráficos do FT. Mesmo com uma população vacinada. Preparemo-nos.


*Médico graduado em Saúde Pública e Delegado de Saúde

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