Autonomia Política – sinfonia interrompida?

Autonomia Política – sinfonia interrompida?

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Memorandum

1   - Etocracia versus Democracia
         
Para quem vive em liberdade, o tempo parece voar sem asas! A propósito da velocidade dos ponteiros do relógio da existência humana, fui alertado há dias para uma das efemérides que já andava arrefecida no rés-do-chão da (minha) memória: refiro os 40 anos da chegada a Boston, com passaporte de emigrante legal, oriundo duma ilha atlântica muito conhecida pelo seu antigo verdecer vulcanico.                                                                                                     
Hoje, sinto-me convidado a reviver a época (1980) em que o então governo autonómico regional parecia inspirado na memória da defunta encíclica Rerum Novarum – a mesma que, meio século antes, servira de leme teocrático à demorada etocracia do Estado Novo. A história nos ensina que nem todos os pecadores são santos; aliás, paira por sobre nós o justificado receio do nosso planeta ter sido escolhido ‘by default’ para ser a enfermaria política do sistema solar...                     
Até hoje, ainda não esqueci o curioso episódio acontecido cerca de três semanas após a minha estreia na ‘equipa imigrante’ da Nova Inglaterra, ou seja: a vitória eleitoral de Ronald Reagan (porventura, o meu primeiro arrepio ideológico em terras d’América!). Felizmente, não tive de esperar muito tempo para receber o primeiro cheque alusivo à recompensa salarial atribuída ao meu caloiro estatuto de operário-fabril...
Vejamos: revisitar o passado requer um razoável sentido de perspectiva: nem sempre podemos confiar na autenticidade emocional sugerida pela distância temporal dos eventos. E já agora, seja-me permitido um breve recuo para beliscar uma lasca da estória micaelense: sem ignorar o estatuto dos casamentos morganáticos, não é difícil recordar o perfil dos descendentes das fortunas fundiárias, sobretudo da ilha do arcanjo Miguel. Tais descendentes eram (quase sempre) praticantes distraídos duma profissão tradicional: simplesmente, ‘ilustres’ herdeiros! Dito isto, torna-se mais fácil compreender que o aguçado sentido de iniciativa e o apetite pela aventura empresarial eram então considerados ‘atrevimentos’ estranhos ao tradicional apetite rural da classe camponesa.
Adiante. Façamos uma breve referência à decorrente ‘barulheira’ eleitoralista (que parece ter atingido a sensibilidade psico-cívica da lusitanidade emigrada); refiro-me ao eco da ‘voz recitante’ dos noticiários pré-fabricados, quase sempre distraídos do civismo elementar que considera as eleições democráticas eventos que não devem ser transformados em rifas pequeno-burguesas para venerar vedetas. Ora, o regime autonómico (humoristicamente falando) pode ser comparado à bicicleta: o seu equilíbrio depende da treinada velocidade de quem detesta ‘pedalar-parado’!
Creio haver boa-gente que ainda acredita no estafado receituário das tradicionais massagens psicológicas para adoçar o cariz agressivo da animalidade humana. Tal como não foram os oceanos que descobriram a caravela, nem foi a roda que inventou a distância, apetece repetir a sugestão de que eleições não são jóias para exibir, mas sim ferramentas democráticas para fortalecer a credibilidade dos candidatos.  

2- Ideias ao Desafio...

Seria ingenuidade tipo lana-caprina esperar que emaralhado governo português consiga resistir ao serpentear reaccionário da sua mal-disfarçada vocação centralista: a descontinuidade territorial do nosso país não deve ser rotulada de ‘pecado original’ da geografia atlântica; pelo contrário, é sim uma valiosa herança atlântica que valoriza o futuro geo-estratégico euro-americano.
Àvante! É inadiável reactivar a ‘sinfonia interrompida’ da Autonomia Regional Açoriana...  sobretudo, cultivar o planeamento sócio-económico e cultural, segundo critérios estudados por protagonistas selecionados, e sempre de acordo com critérios baseados nos compêndios da ‘meritocracia’...
Nao vale a pena temer a sombra da memória, nem bater com a porta na cara do passado. No centro norte-atlântico, a geografia separa as ilhas, mas não deve ser responsável pelo divisionismo psico-insular...
Sabemos que a humildade partidária não paga imposto. O nosso passado não deve apavorar os mordomos do presente, tal como não alinhamos no desfile exclusivo dos auto-arvorados donos da açorianidade comovida a Oeste.
Fiquemos por aqui:  também nao pretendemos engrossar o devorismo do presente;  todavia. estamos determinados a cooperar na preservação da democracia pluralista, como legítimos co-herdeiros do futuro açorerano.
Enfim, pensar, compensa...

(*) texto redigido à revelia do recente acordo ortográfico.
 
 
 
 
 
 

 

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