Vamos sanitizar o Natal e o Mundo
Chrys Chrystello

Vamos sanitizar o Natal e o Mundo

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Lembro bem que há uns 30 anos como funcionário público australiano recebi instruções da tutela sobre como usar a terminologia natalícia, devendo substituir as habituais “Merr Xmas” (Feliz Natal) por “Season Greetings” (Saudações Sazonais). Nessa época já o politicamente correto estava alta-mente implantado na sociedade australiana. Há dias, na EU, uma senhora quis também apagar a palavra natal para não ofender os restantes, mas não foi desta. Irá voltar à carga, tanto mais que até o Papa protestou nesta tentativa de sanitizar o natal e a língua.
Existem por aí uns iluminados muito progressistas, sobretudo no Brasil e Galiza, que adoram o neu-tro e ignorando que sexo e género não são a mesma coisa, criaram o neutro como por exemplo em “todes” para substituir todos e todas. Os argumentos são lindinhos do ponto de vista político pro-gressista mas esquecem até mais a gramática que a linguística, talvez por não serem versados nela. E como hoje está uma chuva de molha tolos, aqueles que andam à chuva do neutro molham-se.  
Tudo isto deriva de correntes de pensamento originadas nos EUA e que se propagaram como cogumelos nalguns países. Assim objeto (e sinto-me ofendido) veementemente contra o “Thanksgi-ving” (Ação de Graças) e  o “Halloween” que deviam ser os primeiros a desaparecer.
A Wikipédia alerta para isto: a neutralização de linguagem lusófona acontece, na maioria das vezes, usando o masculino genérico, como estabelecido na língua portuguesa, havendo exceções de palavras, que sejam de substantivo sobrecomum ou comum de dois géneros (binários). Sabendo que, o masculino nem sempre representa todas as pessoas, especialmente aquelas que são femininas ou neutras de género, tenta-se reforçar a inclusão de mulheres e pessoas não-binárias, através das propostas de linguagem não sexista ou neolinguagem de géneros gramaticais, com as flexões léxicas, como por exemplo, em “todos, todas e todes”, neopronomes neutros de terceira pessoa “ile” e “elu”, ao invés de “ela” e “ele”, e perífrases para evitar neologismos, como em “todos indivíduos”, seguindo concordâncias.Muitas palavras, que já eram neutras de género, acabam passando por feminilização, por exemplo, em “chefe” versus “chefa”, na qual chefe transforma-se numa palavra associada ao género masculino. Algumas palavras invariáveis em género são naturalmente epicenas ou sobrecomuns, como por exemplo, em “animal”, “pessoa”, “indivíduo” e “ser”, sem precisarem de um neologismo para serem neutras (agenerizadas/agenerificadas ou des-generizadas/desgenerificadas). Há também substantivos de género vacilante, que é o caso de “moral” e “capital”.
Transcendência de género, assim como a sua neutralidade, é parte do conceito transumanista de pós-generismo, que é definida como o movimento para corroer o papel cultural, biológico, psicológico e social do género dentro da sociedade. Tudo isto é muito lindo, romanticamente utópico lutando contra uma pretensa exclusão colonizadora dos mais fracos, dos mais vulneráveis e dos excluídos, criando situações patéticas como aquela do político português que se dirigiu aos colegas “Camaradas e camarados”.
A gramática conhecida como a norma culta da língua, entende que não é necessário distinguir os géneros de determinado grupo quando há a presença de homens e mulheres. Utilizar, “Os alunos e as alunas foram ao parque” seria um pleonasmo.
 Creio firmemente que a neutralização ou assexuação linguística pretendida é uma falsa questão, não temos de mudar a língua mas sim os comportamentos discriminatórios, as atitudes de exclusão da sociedade e começar pela neutralidade do idioma é como começar a casa pelo telhado, e como não tem fundações irá tombar com a mais pequena brisa. Tenham todos um bom natal, sejam ateus, cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, confucionistas, taoistas, zoroastristas, e das demais deno-minações religiosas.


*Jornalista, Membro Honorário Vitalício 297713 (Australian Journalists´ Association MEAA)

 

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