“Um ilustre açoriano que estudou no Seminário de Angra do Heroísmo e se doutorou em Filosofia na Brown University onde ainda lecciona. Também ele, como muitos outros, nunca acreditou que a Atlântida se situasse nos Açores e sim na América do Norte, a Califórnia sonhada e desejada por tantos açorianos.”
Está a chegar ao fim este nosso ano de 2021. Que lembrança terá dele o comum mortal ?
Estou a escrever a 15 de dezembro, em escorrega lento dos últimos dias no calendário não me assistindo propósitos de um balanço de ano pormenorizado. Quero apenas dizer, em jeito de contextualização, que 2021 foi um ano marcado pela luta renhida da ciência face a um perigoso vírus vindo do nada, apostado em dificultar a vida das pessoas. E dizer isto será dizer pouco: apostado em roubar a vida a algumas delas.
Viver com a doença à espreita não tem sido fácil e, como se isso não bastasse, a mãe natureza tem enviado sinais de um desgaste alarmante e os humanos não se inibiram de criar situações de conflito preocupantes.
Podia ficar-me por aqui e concluir : é o mundo que temos.
Mas isso seria, a todos os níveis, omitir o que de belo, bom, justo e gratificante tem polvilhado o planeta.
E é precisamente do nosso pequeno mundo doméstico que nos ficarão lembranças destas, pois que como povo sonhador que somos, de vez em quando emergem pessoas que ousam abrir caminhos e tornar o sonho realidade. .
No dia 13 deste dezembro, tive o gosto de ir à Universidade Lusófona assistir ao Doutoramento Honoris Causa atribuído a Onésimo Teotónio Almeida. Um ilustre açoriano que estudou no Seminário de Angra do Heroísmo e se doutorou em Filosofia na Brown University onde ainda lecciona. Também ele, como muitos outros, nunca acreditou que a Atlântida se situasse nos Açores e sim na América do Norte, a Califórnia sonhada e desejada por tantos açorianos.
Arribado à América em 1972, foi abrindo caminho na Brown University onde fez o mestrado e o doutoramento em Filosofia e criou o Centro de Estudos Portugueses que mais tarde passou a Departamento onde foi Director. De Assistente e Prof. Associado foi brilhantemente subindo até Prof. Catedrático.
Mas terá Onésimo o dom da ubiquidade?, é o que nos perguntamos porque o vemos cá e lá associado a diversas iniciativas de carácter humanístico e social,como a criação de revistas electrónicas, do Journal of Portuguese History editadas em cooperação internacional, da editora Gávea-Brown, como presidente da Comissão de de Honra do Dia de Portugal, como Presidente da candidatura da cidade de Ponta Delgada a Capital Europeia da Cultura.... E que dizer da vasta obra que tem em livros e das centenas de escritos em revistas e livros colectivos?
De Onésimo não será excessivo dizer que ele é um difusor da presença de Portugal no mundo.
Um mundo que tem vindo a ignorar e esquecer Portugal, principalmente durante o período áureo da sua história. Refiro-me aos séculos XV e XVI, altura em que cresceu no Portugal medievo um brilhante núcleo de trabalho e de pensamento científico, responsável pelo éxito das viagens de então. Havia necessidade de um português que olhasse para o seu país de origem com lucidez e que,.tal como Fernando Pessoa ou o nosso açorianíssimo Antero, também vivesse a utopia de um povo sonhador.
Por isso, esta é uma merecida homenagem, tal como o foi o anterior Doutoramento Honoris Causa atribuído pela Universidade de Aveiro em 2013.
Onésimo, o contador de histórias, fez um discurso interessantíssimo, suportado por uma reflexão filosófica rica e entremeada pelas habituais histórias que iam servindo de apoio para ilustrar o fluxo reflexivo.
Foram momentos que nos tocaram a todos, irmanados na emoção daquele cerimonial tão pouco vulgar e esquecidos de preocupações mesquinhas, como seja a existência do tal vírus que dá pelo nome de Covid, bem como de seus filhos e netos multiplicados pelo planeta.
Que fique registado: enquanto houver momentos como este, estará assegurada a nossa sobrevivência como humanidade.