A Antinomia do Belo  e das ciências estéticas
Lúcia Simas

A Antinomia do Belo e das ciências estéticas

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Há duas fases bem distintas na Filosofia de Kant. Do seu sono dogmático ao criticismo designado por “quebra tudo” nada ficou como antes!
Nasceu em 1724 numa cidadezinha prussiana Königsberg, oriundo de uma família muito numerosa e humilde. Recebeu uma forte influência da religião pietista que pregava a Bíbliacomo leitura “de caráter interior e grande austeridade. A mãe e o pai morreram cedo e valeu-lhe o auxílio de amigos e colegas. Conseguiu entrar num Colégio e prosseguiu estudos universitários com grande talento. Levou sempre uma vida humilde começando as aulas às 6 da manhã, primeiro como perceptor e depois na universidade (pago pelos alunos) como privat-dotenzen. Em 1746 escreveu a primeira obra com um prefácio” Já tracei a via que quero seguir e nada me impede de a prosseguir.” Os seus alunos admiram-no até ao fim. O seu fino humor, clareza de exposição e o seu ensino foi sempre aliciente. O seu funeral em 1804 foi digno de um rei.1 Karl Popper escreveu “nunca se viu nada assim” Sempre metódico, disciplinado fascinava todos os alunos.
Tinha 56 anos quando leu a obra, do filósofo escocês, David Hume, “Tratado do Entendimento Humano”, empirista, na linha de Locke. É então que parece despertardo que se chamou o“sono dogmático”. Os empiristas não admitiam ideias inatas e tudo que que sabemos vem dos sentidos. Negavam a indução científica e admitiam que tudo porém da experiência sem ideias inatas. Até então, Kant fora um notável professor dasmais variadas ciências, escrevendo duas obras famosas “A Teoria do Céu” e “História Universal da Natureza”iniciando o que se chamou “revolução copernicana”, pois alterou para sempre a Metafísica e criando o sujeito transcendental que aparece na “Crítica da Razão Pura” admitindo ideias inatas que são abstratas provindo da Razão e para so do conhecimento da verdade nas ciências O seu espirito infatigável não obstava a que vivesse quase miseravelmente, na companhia de um pobre soldado desamparado, Lampe, com um ritmo sempre regular. Surge então a revolução intuitiva do lema “nós é que mandamos” pois o heliocentrismo dera lugar ao geocêntrico etambém surgia o antropocentrismo.
Kant, a par detodas ciências do seu tempo, ficara profundamente sensibilizado com as teorias de Newton (1742-1827) donde deduz a beleza do número que não tem realidade sensível, é um juízo a priori e sintético, pois aumenta o conhecimento. Só com a leitura e o entendimento das três críticas o ser humano atingiria a plenitude.  
O “criticismo”revolucionou toda a filosofia até aos dias de hoje. O sujeito transcendental pôs tudo em causa, embora o conhecimento se inicie pelas sensações apenas pelos conceitos do entendimento atinge o conhecimentocientífico. Por coerência lógica, a vida ética segue o puro dever comandado pela liberdade não por dever mas por puro dever independente de qualquer inclinação. A Ética kantiana é ainda hoje a única universal. O homem é livre pois pertence ao “reino dos fins”, como legislador mas cumpre a lei da Razão ele mesmo dita. A imperfeição humana obriga a “aprender a ser livre”seguindo a Razão Universal queé igual para todos.Cumpre-se o direito da liberdade por puro dever sem restrições.
Kant levou muito tempo a congeminar parafinalmente escrever a sua “Terceira Crítica da Faculdade de Julgar”. A primeira dedicada à ciência, a segunda à Moral e finalmente A faculdade de julgar ou do juízo.2  Esta é a sua obra mais profunda que ainda hoje causa admiração pela unidade que reúne as três críticas.
Dá-se a unidade de todo o seu sistema visto que o homem e a Natureza, através da Liberdade realiza a autêntica harmonia no seio do Universo. A Beleza natural era a única, superior e acima de qualquer outra ciência estética. Kant de3  dica-se ao Belo e coloca em grau de inferioridade toda a sensibilidade estética que Baumgarten (1714-1762) inventar a com base na sensibilidade e separa-se do conceito de Belo.4
Sabemos que Kant não era melómano, nem se impressionava com a beleza artística. Os juízos determinantes são objectivos e práticos, logo que sejam a posteriori, não mudam nem são variantes. Mas uma pintura tem beleza porque, agrada, deleita um sujeito, sem ser essa a sua finalidade. É um juízo “aderente”que não controla a emoção do espectador nemse pode considerar universal.
Daí que “a beleza é algo mental”, reside no sujeito, não do objecto, emboravenha dele,  esse agrado sendo determinante é teleológico, depende de uma finalidade sem fim. . O prazer da sensibilidade não é universal. Depende da cultura e múltiplos factores.Se eu tenho um livro que muito me agrada, esse prazer é subjectivo e pode desagradar a outro sujeito. O talento do artista pode não encantar alguns sujeitos pois a sua finalidade, é “aderente” está no poema, no quadro ou outra coisa qualquer, sem ter finalidade sem fim como acontece com o fruir do Belo que se separa do agradável ou do útil. O juízo do Belo é teleológico mas também gozo desinteressado, puro e reflecionante, fruto do sintético a posteriori  com uma fruição ou prazer em si mesmo não depende do sujeito mas do Belo natural e puro. Um exemplo ridículo da gastronomia seria a finalidade de o comer e não o Belo puro em si.
O juízo da beleza é sempre possível para o senso comum. Mas traduz-te em juízos “aderentes” é “reflecionantes sem ser teleológico (um fim em si).  O exemplo como pode ser um ser humano, um leão, uma criança ou até uma igreja tem uma finalidade. Já a Beleza pura é livre.5 A revolução copernicana de Kant acerca da Beleza altera a noção de estética que existia antes dele filosofias de Baumgarten e Kant. Em primeiro lugar discutiremos os contornos iniciais da estética em Baumgarten como uma ciência filosófica das representações sensíveis, pertencentes à faculdade do conhecimento. Na verdade tinha a intuição de que recebíamos sensações pela nossa experiência.
O filósofo Baumgarten (1714- 1762) explanou a Estética como ciência da Arte na filosofia através das representações sensíveis pertencentes auma faculdade inferior do conhecimento. Devido às suas insuficiências e confusões Kant procurou discutir o Belo e separá-lo das ciências estéticas e artísticas. Entre disputas, os ataques impressionaram Kant e o pensador Herder declarou “Tive a sorte de ter um Filósofo que foi meu Mestre”6
Deixou poucos escritos sobre a Estética pois o Belo, o Sublime e o Natural estão acima de qualquer composição artística. O Belo basta-se a si mesmo e toda a estética é bem menor do que o Sublime e o Belo, únicos apenas na Natureza. Este problema é debatido por muitos pensadores, mas a capacidade de uma universalidade de conceitos só é atingida pela análise do Belo kantiano na subjectividade que paradoxalmente é universal.
O juízo de gosto é puramente contemplativo, isto é, um juízo que, indiferente em relação à existência do objeto, só o considera na Natureza em comparação com o sentimento de prazer e desprazer dos objectos talentosos que exigem uma sensibilidade adequada e “aderente”. Se nós é que mandamos, esta legislação é subjectiva mas universal. “A Critica da Faculdade do juízo”, só existe no Belo na mentalidade universal e subjectiva. É a harmonia do Homem no seio do Universal.

 

           Kant, um dos maiores filósofos universais

Bibliografia:

 1Herder, r Ideias para uma filosofia da história da humanidade  ( 1784-1886)
 2https://www.youtube.com/watch?v=VJVgVO-jfhI&t=24s
Ramom Marcos, Introdução à Estética
3 https://www.youtube.com/watch?v=VJVgVO-jfhI&t=24s
Ramom Marcos, Introdução à Estética
4Rodrigues. Luís de Sousa, Kant. Filosofia, Platano Editora, 1998, pp “A harmonia entre   a liberdade e a Natureza, pp. 206-209.
5 https://www.youtube.com/watch?v=VJVgVO-jfhI&t=24s
Ramom Marcos, Introdução à Estética
6Kulpe, Oswald, Kant, Colecção Labor, A.C. Ciências Filosóficas. s/d. Barcelona, p. 76.

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