Pontos de interrogação

Pontos de interrogação

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Estamos todos desejando os Bons Anos, como antigamente por cá se dizia, uns aos outros - e aproveito para também os desejar aos meus eventuais leitores - mas estamos todos  também conscientes dos muitos pontos de interrogação, correspondentes às dúvidas que pesam sobre 2022.
Desde logo a pandemia, que não há maneira de acabar, antes se verifica uma estranha capacidade transformista do novo vírus, fazendo estragos na saúde das pessoas e nos próprios alicerces das nossas sociedades, em termos nunca vistos nos tempos mais recentes. Parece que vai ser preciso vacinar os quase 8 biliões de seres humanos que habitam presentemente o planeta Terra, para se tentar pôr termo às mortíferas variantes que o vírus vem assumindo. Mas tão hercúlea tarefa levará anos a concluir-se, custará uma fortuna, pela utilização de meios pessoais e materiais, e nem sequer tem sucesso garantido. Desde logo porque há quem activamente recuse vacinar-se; e depois, ou antes, porque não há vacinas para todos e, vergonhosamente, os governantes dos países europeus ricos têm recusado levantar o segredo das patentes em benefício dos mais desfavorecidos.  
Fala-se também do regresso da inflação, propulsionada pela paragem de algumas actividades económicas ditada pelos sucessivos confinamentos, pela subida do preço de certas matérias primas e pelos custos inerentes à aplicação das medidas adoptadas para a transição energética e digital. Em alguns países a alta dos preços atinge já valores inquietantes. E por isso se fala do fim apressado das medidas de incentivo à despesa, nomeadamente o lançamento de dinheiro em circulação por via dos incentivos governamentais, e da subida das taxas de juro.
A decisão sobre as taxas de juro cabe aos bancos centrais, que decidem com independência dos governos que nomeiam os respectivos órgãos dirigentes. Como entretanto os Estados acumularam dívidas de valores estonteantes, para atender às urgências determinadas pelas sucessivas crises, financeira e pandémica, qualquer subida das taxas de juro vai ter reflexos imediatos nos encargos das dívidas públicas e portanto no equilíbrio dos orçamentos respectivos.
E os particulares também são afectados, porque se alguns beneficiam de algum incremento da retribuição das suas poupanças depositadas no sistema bancário, outros verão agravadas as prestações dos empréstimos contraídos para compra das suas casas ou para quaisquer outras finalidades. Entretanto, os bancos nacionais anunciaram já o aumento das taxas a cobrar aos seus clientes pelos serviços supostamente prestados, enquanto remuneram com valores meramente simbólicos o dinheiro por eles postos à sua disposição.
No campo da política nacional, 2022 desponta num ambiente de incerteza, habitual quando há eleições legislativas. O Presidente da República, primeiro responsável pela antecipação das mesmas, apela a uma solução de estabilidade. Logo o PS surge a rever-se em tal mensagem, insistindo no seu desejo de continuar a liderar o Governo, com António Costa em Primeiro Ministro e com maioria absoluta no Parlamento. Por seu turno, os ex-parceiros do PS, nomeadamente o BE, teimam em que a colaboração entre os vários partidos ditos de Esquerda deve continuar, agora com acordos escritos. Disto mesmo se faz eco o Livre, enquanto o PCP parece correr por fora e o PAN se declara disponível para apoiar quem quer que lhe dê troco.
É natural que se verifique um regresso do tradicional voto útil, concentrado nos partidos centrais, PS e PSD. António Costa já reconheceu que a opção posta ao eleitorado é entre ele e Rui Rio. O que os estudos de opinião indicam é a subida das intenções de voto no PSD e a descida das no PS. Se isto vai manter-se até ao dia das eleições, é o que se vai ver.
Pontos de interrogação abundam ainda no campo das relações internacionais. Há tensões muito sérias e perigosas na área dos oceanos Pacífico e Índico, onde os Estados Unidos e os seus aliados, entre os quais avultam o Japão e a Austrália, se defrontam às manifestas ambições imperiais da China.
 Mas isto parece muito longe das nossas preocupações imediatas, o que pode vir a revelar-se ilusório, dadas as ligações estabelecidas nos últimos anos entre Portugal e a China, com significativas entradas de capital público chinês em sectores chaves da nossa economia - e não estou a falar do comércio totalmente desregulado das lojas respectivas, concorrendo com os comerciantes locais em termos altamente favorecidos.
Dentro do território europeu há problemas sérios e de alto risco. As fronteiras europeias estão a ser pressionadas por uma persistente vaga de pretendentes à imigração.
As respostas dadas ao problema não têm sido eficazes e as consequências políticas daí derivadas estão à vista. A União Europeia está paralisada, sem se conseguir entender sobre uma política comum de imigração. E, enquanto a Rússia pressiona para tentar ressuscitar o conceito da Guerra Fria das zonas de influência, reclamando a neutralização de países que depois da implosão soviética livremente aderiram à NATO, para se assegurarem precisamente contra os apetites de dominação russa, o Presidente francês Emmanuel Macron, com o seu cargo em causa em eleições previstas para o primeiro semestre deste ano, promete, ao assumir o seu país a presidência da UE, novos avanços na defesa autónoma europeia, que fora do âmbito Nato reveste dimensões e capacidades anedóticas. António Costa apressou-se a exprimir-lhe o seu apoio...
Chegar ao fim de 2022 com saúde e em paz vai ser mais desafiante do que foi para Júlio César atravessar o Rubicão!

* Por convicção pessoal, o Autor não respeita o assim chamado
Acordo Ortográfico)  

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