“Não tenho dúvidas de que a coligação  se aguentará”
Diário dos Açores

“Não tenho dúvidas de que a coligação se aguentará”

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Carlos Furtado, deputado independente

Cerca de cinco meses depois de assumir a sua condição de deputado independente, após bater com a porta ao Chega, Carlos Furtado concede esta entrevista ao Diário dos Açores com a convicção de que assumirá as suas responsabilidades actuais até ao fim da legislatura. Faz a avaliação do Parlamento e do Governo e não exclui regressar à militância partidária.

 

Enquanto único deputado independente no Parlamento regional, como é que analisa a sua experiência neste último ano?
A partir do momento em que fui eleito, senti-me na obrigação de contribuir, da melhor forma que pudesse e soubesse, para o bem-estar da população, para quem estou a prestar serviço e que bem nos pagam para isso, o facto de ter passado a deputado independente melhorou bastante a minha performance, uma vez que deixei de ter preocupações com quezílias internas partidárias, que ocupavam o meu tempo, prejudicando o meu desempenho enquanto deputado. O meu objetivo é melhorar ainda este desempenho, sinto esta obrigação moral, modéstia à parte, julgo que não tenho desiludido as pessoas que em mim confiaram, apesar de ser um estreante na ALRAA.

Vai continuar até ao fim da legislatura? Tem a consciência de que a falta de um deputado pode provocar a queda da coligação?
Sim, se Deus assim permitir vou até ao fim da legislatura, honrando assim os meus compromissos institucionais e principalmente com os açorianos.
Quanto à segunda pergunta, sim, obviamente que tenho esta consciência e em função disso agirei sempre de forma responsável, mesmo quando não temos a convicção de que a solução “X” é a correta, temos de ponderar se as outras opções serão ou não piores, é isso que sempre faço.

Acha que há condições para a coligação se aguentar até ao fim da legislatura?
Quanto à coligação, não tenho dúvidas que se aguentará. O poder deslumbra e aprisiona as mentes, por isso a situação está controlada. Não querendo generalizar os protagonistas, todos sabemos que há alguns que se deslumbraram, mas felizmente há outros que têm mantido um registo digno dos cargos que ocupam.
No entanto, julgo que também está a perguntar no âmbito parlamentar e a este nível volto a dizer o que sempre digo, neste momento ninguém está interessado em novas eleições e se algum “aventureiro” desencadear o processo do final antecipado desta legislatura, vai pagar isso, eleitoralmente, nas eleições seguintes.

O que se passou no partido que liderou na Região deixou-o com outro olhar sobre os aparelhos partidários? Foi uma experiência que não o fará regressar mais à militância partidária?
Sim, deixou-me com uma visão mais “enriquecida”. Fiquei a perceber que há sempre a possibilidade de virmos a conhecer situações piores do que aquelas que são normais nas estruturas partidárias e isso efectivamente aconteceu, não obstante as situações desagradáveis tive o privilégio de ter contado com uma boa equipa que sempre me apoiou e ainda hoje me tem apoiado Quanto ao regresso a militâncias partidárias, não sei, já tenho 50 anos, temos de dar espaço aos mais novos, mas não excluo essa possibilidade, até porque sou um defensor que as instituições em geral e também os partidos fazem-se com pessoas “do quadro” e não com “contratados a recibo verde”. Alguém tem de assumir e participar nas instituições, mesmo que nem sempre se concorde com tudo.

Como vê as eleições nacionais do próximo dia 30 de Janeiro? Vai apoiar alguma lista pelos Açores?
Como é natural, não vou apoiar nenhuma lista, mas isso não quer dizer que não tenha a minha leitura sobre o assunto.
Não tenho dúvidas de que, neste momento, a melhor solução será um bloco central, isso representa, a prazo, um desgaste eleitoral para os dois partidos grandes, mas deve ser um “sacrifício” em nome de uma causa maior.
Temos de atender ao facto de que existem pactos de regime que têm de ser levados a efeito, a nível da revisão constitucional, da reforma do ensino, da saúde, da segurança social e de planos de ordem mais económica, como sejam a TAP, os portos, os aeroportos, a ferrovia, etc. Em termos práticos, isso tem, ou deve ser feito com maiorias qualificadas e são processos que não devem ficar suspensos por mais uma legislatura.

Neste novo ano, o Parlamento regional tem vários desafios pela frente. Para si, quais os mais importantes?
O maior desafio que todos os deputados têm pela frente, é contribuir para a melhoria da qualidade de vida nos Açores, aquilo a que agora todos chamam o “elevador social”. Se no fim desta legislatura não tivermos conseguido melhorar a vida dos açorianos, a nível da economia, da saúde e da coesão territorial, com iniciativas que promovam a confiança necessária para que as pessoas invistam, formem-se e sobretudo fixem-se na região, teremos falhado.

Relativamente à governação regional, como a analisa até agora? Há mesmo necessidade de uma remodelação?
Criticar é sempre mais fácil que executar. Obviamente que poderia aqui fazer várias críticas e fundamentadas, mas não o devo fazer por enquanto. Quanto às remodelações, desde o meu discurso da aprovação do programa de Governo que manifestei-me contra um governo tão grande, por mais eficaz que seja, ou que não seja, mas queira ser e não consiga, a carga negativa do ponto de vista público que representa o chavão de ser “o maior Governo de sempre” é sempre um ponto negativo na hora de ser avaliado.
Avaliando o elenco governativo, tenho em boa conta muitos deles, no entanto admito que se calhar existiam alguns melhores, mas não aceitaram os convites. O que ganha um Secretário Regional não é assim tão aliciante, se pesarmos as responsabilidades e exposição pública a que estão sujeitos.

Há quem diga que, no final desta legislatura, vai aderir novamente ao PSD. É especulação?
Ainda era eu o “líder moderado de um partido extremista” e já diziam isso. Não sei, só o tempo e o estado de espírito à data, poderão dar essa resposta, isso dependerá também da autoanálise que eu venha a fazer de aquilo que conseguir, ou não, fazer nesta minha actual participação política.

Está desapontado com a política que se faz na Região?
Sim, em boa parte estou. Por um lado, vejo que as “juras de amor” dos políticos ao eleitorado são facilmente esquecidas, por outro lado vejo que se governa muito em função de calculismos eleitorais, em vez de estratégias de médio prazo, por outro lado ainda, e já a nível partidário, há demasiado carreirismo político para os cargos devidamente remunerados, enquanto para os cargos políticos mal remunerados como sejam as presidências de juntas de freguesia, já poucos interessados, porque as suas “vocações políticas” não o permitem, sou do entender que os partidos deveriam impor como condição que ninguém chegaria à condição de deputado, sem antes ter participado em juntas de freguesia, assembleias municipais ou até vereações, além de que internamente não fosse permitido a qualquer ativo, fazer mais do que dois mandatos na ALRAA.
 Isso traria mais rotatividade dentro dos partidos, mais sangue novo e menos quezílias internas. Não tenho dúvidas que enquanto não forem tomadas medidas neste sentido, vamos ver os partidos cada vez mais vazios de cidadania.

jornal@diariodosacores.pt

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