João Tomé: Lider Histórico do Grupo Desportivo “Os Minhocas” (Flores)  e do Clube Dessportivo Ribeirense (Pico)
Eduardo Monteiro

João Tomé: Lider Histórico do Grupo Desportivo “Os Minhocas” (Flores) e do Clube Dessportivo Ribeirense (Pico)

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Desportistas do meu tempo

João Hermínio Tomé, o mais novo de oito irmãos, nasceu na freguesia das Ribeiras no concelho das Lajes do Pico, terra de baleeiros. Estudou na antiga escola primária em Santa Cruz e cresceu numa comunidade com profunda ligação ao mar. As suas vivências familiares levaram-no aos 16 anos de idade (1966) a inscrever-se como voluntário na Marinha Portuguesa onde fez a sua especialização na carreira de Cabo do Mar. Concluído o respectivo curso (1972) regressa aos Açores e foi  colocado pelo Ministério da Marinha na Capitania do Porto de Santa Cruz das Flores, onde exerceu as funções de Cabo do Mar durante 12 anos (1972-1984), prestando serviço na ilha do Corvo sempre que era necessário.
Conheci o João Tomé aquando da realização da “1ª Cimeira do Desporto  Açoriano” (1982), em Angra do Heroísmo e tive a imediata percepção que estava perante um desportista invulgar, dotado de uma enorme determinação e disponibilidadepara, através do desporto, contribuir para a valorizaçãodas novas gerações e das suas comunidades.  Na primeira deslocação em serviço à ilha das Flores tive a confirmaçãoda avaliação inicial que tinha feito em relação aoJoão Tomé. A sua influência na promoção desportiva na comunidade marítima era notória atendendo a que foi um participante activo na organização da equipa de futebol na antiga “Casa dos Pescadores” como atleta e membro da direçãoda instituição.
De seguida, começou por fomentar a prática desportiva junto dos escalões mais jovens e deu início à fundação do Grupo Desportivo “Os Minhocas”, tendo sido eleito como seu primeiro presidente. O objectivo seguinte foi a construção das  instalações sociais de “Os Minhocas” pelo que organizaram uma série de actividades para a angariação de fundos de forma a que a sede da agremiação se tornasse uma realidade. Assim, em 1979, o esforço colectivo foi concretizado e “Os Minhocas” inauguraram a sua sede que, de imediato, se tornou no principal local de convívio de muita gente da Vila de Santa Cruz e da própria ilha através da realização de batizados, casamentos, festas de carnaval e outros convívios comunitários e de âmbito desportivo.
Entretanto, em 1984, após 12 anos de actividade profissional nas ilhas das Flores e Corvo, o João Tomé entendeu que tinha chegado o momento de regressar à sua terra natal, a ilha do Pico.  A seu pedido é transferido para a ilha Montanha. A despedida da ilha das Flores, onde deixou muitos amigos, foi intensa e calorosa por parte dos associados do Grupo Desportivo “Os Minhocas”, assim como da comunidade marítima da ilha.Foi o reconhecimento público pelo trabalho efectuado, durante aquele período, no desempenho da sua actividade profissional e pelo contributo voluntário na promoção do desporto na ilha das Flores.A herança da sua passagem pelas Flores era bem visível.
Na ilha Montanha, inicialmente a residir e a exercer a sua profissão  na Vila das Lajes, começou por ser treinador de futebol dos escalões de formação do Clube Desportivo Lajense e dos seniores do Grupo Desportivo “O Calhetense”. Face aos seus méritos de gestor, já demonstrados, foi nomeado presidente da Associação dos Bombeiros Voluntários das Lajes do Pico e deu início ao processo de construcção do quartel dos Bombeiros. Mais tarde, já a residir em Santa Cruz das Ribeiras, prestou apoio à comunidade, onde nasceu e cresceu, ao ser eleito para Presidente da Junta de Freguesia das Ribeiras, exercendo essas funções durante um largo período (2001-2013) com bons resultados para a freguesia.
No Clube Desportivo Ribeirense, a agremiação desportiva local, inicia um novo ciclona liderança e gestão dos recursos humanos disponíveis  que,teve o seu início na coordenação técnico-pedagógica dos praticantes das corridas em patins, passando pelas equipas de ambos os sexos de voleibol e tendo como ponto alto a ascensãoà Presidência da direcção do Ribeirense.Nesse percurso histórico da instituição, o clube desportivomais representativo da ilha do Pico à escala regional, nacional e internacional, a caminhada não foi fácil e a luta foi constante. A FORÇA da união dos Ribeirenses á volta do CDR foi a mola impulsionadora na melhoria das instalações desportivas e sociais e, na conquista de inúmeros êxitos desportivos pelos seus atletas e respectivas equipas promovendo, dessa forma, o clube, a freguesia das Ribeiras, o concelho das Lajes do Pico, a ilha Montanha e o arquipélago dos Açores no espaço nacional e continente europeu.
O prestígio alcançado pelo Ribeirense nas corridas em patins a nível regional, nacional e internacional foi o corolário de um trabalho de base, efectuado com muita dedicação e esforço pelo João Tomé e seus colaboradores. As medalhas conquistadas pelos patinadores picoenses em provas regionais, nacionais e internacionais, quer em representação do CDR, quer integrados em seleções regionais e nacionais foram inúmeras. O êxito do projecto das corridas em patins foi oreflexo da sua liderança, no apoio dos familiares dos atletas e na conciliação dagestão do treino com os estudos.
O Clube Desportivo Ribeirense foi o primeiro clube açoriano a conquistar uma Taça de Portugal (2009). Em termos globais, a equipa senior feminina de voleibol conquistou 4 Taças de Portugal (2009, 2011, 2012 e 2013) e 3 campeonatos nacionais da 1ª divisão nas épocas (2010/11, 2011/12 e 2012/13). Para além disso, foi finalista da Taça de Portugal em (2006 e 2014). No voleibol masculino o CDR foi campeão nacional da 2ª divisão(2002/03). Conquistou os títulos nacionais da divisão A2 eda 3ª divisão (seniores B) na época (2003/04). Campeão da 2ª divisão, série Açores, nas épocas de (2012/13) e (2013/14).
O trabalho desenvolvido pelo João Tomé, no desenvolvimento do desporto açorianoe nas comunidades em que esteve inserido, deixou marcas profundas em todos aqueles que tiveram a oportunidade de com ele conviver. Foi um Cabo de Mar/Polícia Marítima de reconhecido valor na sua actividade profissional e uma personalidade exemplar na liderança de todas as instituições desportivas e comunitárias por onde passou.Na qualidade de antigo responsável pela educação física e desporto regional tenho um enorme sentimento de Gratidão e Amizade pelo João Tomé.  O contributo prestado no âmbito do desenvolvimento desportivo no arquipélago dos Açores merece, de todos nós, um enormerespeito e consideração pelo homem que dedicou grande parte da sua vida à valorização das crianças e dos jovens desportistas, assim como às respectivas comunidades.
A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, em 18 de Junho de 2020, emitiu um Voto de Pesar pelo falecimento do João Hermínio Tomé, afirmando que a sua vida e a obra desportiva são um marco na história do dirigismo açoriano, assim como um exemplo de tenacidade, de ambição, de humildade e de paixão por aquilo em que se acredita.Também acredito que o actual Governo Regional não se esqueçerá de lhe prestar a homenagem pública que o João Hermínio Tomé bem merece.

 

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