Portugueses que foram notícia nos EUA
Diário dos Açores

Portugueses que foram notícia nos EUA

Previous Article Previous Article DGS não quer encerramento de turmas e escolas
Next Article Maria Lawton vai voltar aos Açores para filmar segunda temporada de programas de culinária Maria Lawton vai voltar aos Açores para filmar segunda temporada de programas de culinária

Alguns portugueses ou lusodescendentes foram notícia ao longo de 2021 nos EUA e um deles foi sem dúvida Alberto Carvalho, novo superintendente das escolas públicas de Los Angeles, com um contrato inicial de quatro anos e um salário base anual de 440.000 dólares.
Além disso, beneficiará de uma contribuição anual de 50.000 dólares para um plano de reforma e subsídio de realojamento de 50.000 dólares.
Los Angeles também pagará o seguro de vida de Carvalho e 24 dias de férias por ano, convertendo o português num dos superintendentes mais bem pagos do país, mas o seu trabalho é considerado também o mais difícil do país.
Alberto Monteiro Carvalho, 57 anos (nasceu em Lisboa, a 22 de setembro de 1964), dirigiu durante 13 anos, as escolas públicas do condado de Miami-Dade, na Flórida, quarto maior distrito escolar dos EUA e, depois de ter recusado um convite da cidade de New York, mudou-se agora para Los Angeles, o segundo maior sistema escolar dos EUA – 664.774 alunos, 76.556 professores e 1.302 escolas.
Carvalho apresentou-se aos seus novos alunos falando espanhol (dos alunos das escolas de Los Angeles, 65,2% são imigrantes hispânicos ou filhos de imigrantes) e falando sobre a sua modesta infância em Lisboa.
Em 1982, com 17 anos, Carvalho viajou sozinho para New York, começou por lavar pratos num restaurante, mudou-se depois para a Flórida, trabalhou na construção, como cozinheiro e estudou, tornando-se professor.
Hoje é um dos dirigentes escolares mais admirados do país e por isso foi contratado por Los Angeles.
Carvalho costuma dizer que se revê nos alunos imigrantes, mas gosta que os seus alunos também se revejam nele.
Outro caso de sucesso foi Neemias Barbosa Queta, nascido a 13 de julho de 1999 no Barreiro e filho de pais guineenses (Mica e Dyaneuba Queta). Neemias fez história: é o primeiro português a jogar numa equipa da famosa NBA (National Basketball Association).
Cresceu na margem sul do Tejo, mais precisamente no Vale da Amoreira e jogou pela primeira vez basquetebol com dez anos nas camadas juvenis do Barreirense, onde se manteve até à temporada 2016-17 jogando na posição de poste.
Na temporada 2017-18, jogou na equipa B do Benfica e fez quatro jogos pela equipa principal, mas no dia 31 de agosto de 2018 partiu para os EUA rumo à cidade de Logan, estado de Utah, a fim de estudar e jogar na Utah State University.
A 30 de junho de 2021, Neemias foi a escolha nº 39 do draft da NBA. Foi escolhido pelo Sacramento Kings, da Califórnia e o jogador por sua vez escolheu o número 88, pois tinha o número 8 no Barreirense e decidiu juntar-lhe outro 8.
É um dos 12 jogadores estrangeiros estreantes da NBA que assinaram contratos two-way, trata-se de contratos que permitem a utilização do jogador em mais de uma equipa.
No caso de Neemias é jogador dos Stockton Kings, equipa-satélite dos Sacramento Kings na G-League (liga de desenvolvimento), mas pode também fazer um máximo de 45 jogos na NBA e Neemias já fez vários.
Na época 2020-21, o salário de Neemias era 462.629 dólares, mas na época de 2022-23 receberá 1.576.305 dólares.

Ascensão e queda
de Jasiel Correia

O ex-mayor de Fall River, Jasiel Correia II, também foi notícia ao longo do ano. Após uma ascensão estratosférica ao poder, Jasiel Correia, o mais jovem mayor de sempre em Fall River (foi eleito aos 23 anos), caiu por terra em 2021, enfrentando um julgamento de quatro semanas por fraude e extorsão e nesta altura aguarda instruções para começar a cumprir a pena a que foi condenado por fraude e corrupção.
Durante o julgamento, Correia manteve a sua inocência diante de mais de 30 testemunhas que descreveram os seus gastos extravagantes, uso indevido de dinheiro de investidores e corrupção envolvendo a venda de marijuana, foi considerado culpado e sentenciado a seis anos de prisão federal.
Um jovem cheio de ambições, mas sem experiência política, Correia chamou a atenção do público, foi conselheiro municipal (2014-2016) e mayor (2016-2020) em tempo recorde, mas em tempo recorde os eleitores de Fall River também o puseram a andar.
2021 foi um ano em que morreu muita gente que fica para a história e que tive oportunidade de entrevistar para o Portuguese Channel ou para o Portuguese Times nas suas visitas aos EUA.

Jorge Sampaio
e Otelo

Jorge Sampaio e Otelo Saraiva de Carvalho, entre outros.
O antigo presidente da República Jorge Sampaio morreu no dia 10 de setembro devido a problemas cardíacos e respiratórios. Foram 81 anos de uma vida dedicada à causa pública, à política e à defesa dos direitos humanos.
Comecei a ouvir falar dele antes do 25 de Abril, durante a ditadura, como advogado de presos políticos e quando o PS nem sequer existia.
Quanto a Otelo Saraiva de Carvalho, capitão de Abril, o operacional da revolução dos Cravos que derrubou quatro décadas de ditadura, que tive oportunidade de entrevistar no Portuguese Channel, acontece que fomos contemporâneos em Angola de 1961 a 1963, ele tenente, eu segundo sargento e em unidades diferentes, mas com muito que recordar.

Carlos do Carmo: a voz

Dos artistas desaparecidos não posso deixar de lembrar o fadista Carlos do Carmo, morto aos 81 anos, vítima de aneurisma. Foi um dos principais embaixadores da candidatura do fado a Património Imaterial da Humanidade, o primeiro português a ganhar um Grammy e deixou como legado canções eternas como “Lisboa, menina e moça”, “Bairro Alto”, “Os Putos”, “Um Homem na Cidade”, “Canoas do Tejo” e “Loucura”.
Devo a Carlos do Carmo o meu encontro com o fado.
Em 1963, embora fosse militar, eu também trabalhava no Rádio Clube do Uige, na cidade de Carmona (hoje Uige) em Angola e lembro-me que o fado “Loucura”, por Carlos do Carmo acompanhado pelo conjunto de Mário Simões, passava de manhã à noite nos programas de pedidos.
Só viria a conhecer Carlos do Carmo na década de 1980 nos Estados Unidos, era eu editor do “Azorean Times”, que António Matos publicava em Bristol, RI.
Em fase de lançamento, o jornal promovia um concurso comunitário de popularidade e contratava um artista em Portugal para o espectáculo de entrega dos prémios.
O primeiro foi Paco Bandeira e o segundo Carlos do Carmo, que aceitou as condições para vir ao restaurante Condessa, em Somerset, acompanhado pelos guitarristas António Chaínho e José Maria Nóbrega.
Os bilhetes começaram a vender-se bem até alguém começar a fazer constar que Carlos do Carmo era comunista.
À cautela, para satisfazer todos, Matos resolveu contratar também Vitor Cruz, que viria de São Miguel, e os direitistas deixaram de falar.
Mas entretanto aconteceu coisa curiosa, Matos e eu fomos buscar Carlos do Carmo e os guitarristas ao aeroporto de Boston e levámos o trio para um hotel nos arredores de Fall River, onde um colaborador do jornal, o Manuel António Oliveira, ficou incumbido de lhes dar boleia, levá-los aos restaurantes e onde quisessem ir.
Carlos do Carmo ia comer aos restaurantes portugueses de Fall River e privava com outros clientes.
À noite, ele e o Manuel António iam tomar a bica ao Ateneu Luso-Americano, onde Carlos do Carmo acabou fazendo amigos e as dúvidas quanto às opções políticas dissiparam-se. O resultado é que, ainda antes do espectáculo do “Azorean Times”, Carlos do Carmo já tinha sido contratado pelo Raúl Benevides, do programa “Açores-Madeira”, para uma série de concertos.
Depois do espectáculo no Condessa, Carlos do Carmo foi para New York, onde gravou alguns programas para o canal hispânico Univision contando a história do fado, depois disso voltaria muitas vezes aos EUA e a verdade é que sem a promoção que ele fez, tanto nacional como internacional, o fado talvez não fosse o que é hoje.
Carlos do Carmo chegou ao fim da linha, partiu às quatro da madrugada do primeiro dia de 2021 no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde dera entrada no dia 31 de dezembro e foi operado durante nove horas, acabando por sucumbir no pós-operatório.

Raul Benevides, o açoriano
 dos Arrifes que faz sucesso
na rádio aos 90 anos

Mas apraz-me registar que o Raúl Benevides ainda cá está e aos 90 anos continua a fazer-se ouvir todas as manhãs na rádio WHTB-AM e a partir dos estúdios localizados na sua casa na Highland Avenue, em Fall River. Benevides é natural dos Arrifes, ilha de São Miguel e imigrou nos anos 60 para Fall River.
Começou por trabalhar na Base Naval de Newport, RI, onde se manteve quatro anos e que deixou para trabalhar nas vendas da Ford Motor Company, de Fall River durante dez anos.
Em 1970, Benevides lançou o programa radiofónico “Açores-Madeira”, emitido através da WKFD, de North Kingstown, RI. Vinte anos depois, em 1990, o “Açores-Madeira” passou a ser transmitido através da WHTB, de Fall River, aos domingos, entre as 8h00 e as 15h00 e, posteriormente, o programa “Despertar” diariamente das 5h00 às 10h00 da manhã, entretanto cedido á Rádio Voz do Emigrante.
Ambos os programas foram de grande audiência na área de Fall River, uma vez que servem diretamente a comunidade de língua portuguesa local.
Benevides tem grande audiência nas fábricas de Fall River pelo seu bom humor e pelas suas causas.
Por décadas, quando alguém precisava de ajuda, o recurso era Benevides.

Angariou milhões
em fundos para os Açores

Ele ajudou a angariar mais de um milhão de dólares para ajudar órfãos nos Açores, crianças americanas que precisam de transplantes e outras causas carentes.
Raúl Benevides tem o seu nome ligado a numerosas campanhas de doação de sangue para a Cruz Vermelha Americana e em 1993 tornou-se também organizador da campanha para angariação de fundos destinados a manter as casas Rose Hawthorne Lathrop, que acolhem doentes de cancro em fase terminal.
Benevides tem apoiado a Leukemia Society of America, American Cancer Association, American Red Cross, Southeastern Massachusetts Planning and Development, Inc. e Boys Scouts of America.
Outra iniciativa caritativa foi, durante 13 anos, a organização de campanhas, de angariação de fundos para as casas do Gaiato nos Açores e envolveu-se também ativamente na angariação de fundos para reconstrução do Asilo das Meninas destruído pelo sismo que assolou na ilha Terceira em 1980.
Mas, além dos seus muitos esforços de arrecadação de fundos, é o humor que tornou Benevides querido dos seus ouvintes. Ele gosta de contar piadas e as pessoas gostam de ouvir.
Aos 90 anos de idade, Raúl Benevides foi uma jovial presença radiofónica nas manhãs de Fall River, transmitindo música portuguesa, notícias, conversa com os ouvintes que lhe telefonavam e ninguém diria que se trata de um senhor comendador, agraciado com a Ordem de Mérito pelo presidente de Portugal.


Exclusivo Portuguese Times/
Diário dos Açores

 

Por Eurico Mendes, nos EUA

Share

Print
Ordem da notícia429

Theme picker