“(…) Ir pelas autoestradas significa passar e não ver nada.
É coisa de patetas que querem ir depressa de um ponto ao outro.”
Não há muito tempo, um antigo colega do tempo do secundário falou-me num livro que me ficou na ideia: O Senhor Ibrahim e as flores do Alcorão, o mesmo autor do livro Óscar e a Senhora Cor-de-rosa, o qual já tinha lido e consta da minha estante.
O chamamento ao livro foi tão grande que rapidamente a ele acorri. Trouxe-o para casa no Natal e disse que seria a minha última leitura do ano. Foi mais ou menos. Termino-a já a dois de janeiro de 2022, momento em que escrevo esta crónica, e afianço que não podia começar o ano com conselhos mais sensatos e verdadeiros.
Imaginem uma criança de 11 anos, Momo, que vive apenas com o pai, numa casa escura, triste e pacata, rodeada de livros aos quais ele não pode aceder: para não os estragar.
Imaginem um menino de 11 anos que não sabe fazer mais do que ser tarefeiro do pai e dono dos seus olhos tristes e das suas respostas arrogantes. É muito para um menino de 11 anos. Muito. A mãe? Partiu. O que lhe falta? Além da comida e da estabilidade familiar? Tudo!
Tudo isso muda quando ele conhece o Senhor Ibrahim, o dono da mercearia que está sempre aberta e que é dono de um sorriso que nunca de lá sai, ao contrário do nosso menino de 11 anos, que nunca sorri.
Este menino quer viver tudo, mas não sabe por onde começar. Não há ninguém que oriente o seu caminho, até conhecer o Senhor Ibrahim. Ele mostra-lhe o mundo através da sua voz, dos seus olhos e da sua experiência de vida. Quando não encontra motivos para sorrir, o merceeito garante-lhe que “a beleza, Momo, está em todo o lado. Olhes para onde olhares. Isso vem no meu Alcorão”.
E do Alcorão do Senhor Ibrahim começa a nascer no coração deste pequeno uma centelha de esperança, de crença e de fé, pese embora conheça apenas o abandono, a escuridão e motivos para se manter sério. E depois ele descobre que o truque é sorrir, para si e para os outros que o rodeiam. Como está bem descrita esta descoberta por parte deste menino; como é bonito ler o poder do sorriso na sua vida. Mas vem tudo de dentro de nós e não cai do céu, mesmo na opinião do Senhor Ibrahim que tem como base o seu Alcorão. “Sabes, Momo? Se Deus não tiver revelado diretamente a vida a um homem, também não será um livro que lha revelará.”
E quando tudo parece querer desaparecer ou tornar-se mais difícil ainda, surgem difíceis decisões que mexem com a vida deste menino ao ponto de ele se sentir cada vez mais sozinho; mas todos temos uma força que vem ao nosso encontro e Momo tinha o Senhor Ibrahim.
Do perdão à alegria desconhecida, da vida à morte que nos faz elevar, este livro é um belo texto de cerca de 70 página que nos preenche muito mais do que um de 700.
Que a vida do Momo nos sirva de lição e nos faça mais felizes, vendo e agradecendo tudo o que temos na altura certa; não quando queremos, mas quando precisamos!
Boas Leituras!
*Editora da 9idazoresnews.com