KANT: O Juízo do Gosto  e a possibilidade  da Eudaimonia
Lúcia Simas

KANT: O Juízo do Gosto e a possibilidade da Eudaimonia

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1  - CONFLITOS PARADIGMÁTICOS

Só após uma longa congeminação é que Kant decidiu escrever a sua terceira crítica. Já se debruçara sobre o problema do belo porém, passava dos 60 anos quando procurou atingir a síntese final entre a crença na Metafísica e o raciocínio no sujeito do conhecimento científico. Queria terminar a querela entre o que concerne o pensar e o conhecer.
Para além de muitas obras científicas e sobre metafísica, já publicara a “Crítica da Razão Pura” examinara o sujeito transcendental do conhecimento científico, para esclarecer o que podemos conhecer usando a ciência ou a crença. Esta obra tratava da mais difícil tarefa da Metafisica: o conhecimento de si mesma erguendo um tribunal mudando o método sem mudar um sistema de ciência em si.”  Era uma propedêutica para a metafísica, demonstrando que não existe uma intuição intelectual para além dos limites da experiência. A revolução situava-se definitivamente em dois planos distintos: O que pertence à crença e o que pertence ao conhecimento científico. A metafísica dogmática e racionalista dava lugar ao uso transcendental do pensamento relacionado com a liberdade, a imortalidade e a existência de Deus.
O resultado foi o que muitos afirmam ser ter-se tornado no “quebra tudo”. Os juízos determinantes, designados por sintéticos, pareciam demonstrar que a Metafísica não progredia e, para a defender do progresso das ciências, dá ao sujeito fenoménico o poder de julgar as funções da unidade dos juízos. A sua obra ao defender a Metafisica situa-se, não no começo do pensamento moderno, mas no fim da antiga metafísica teísta. A crítica kantiana foi a última tentativa de a salvar.
Em suma: Se a ciência é constituída por juízos sintéticos a priori o problema fundamental é o de saber como é que eles são possíveis. Já Kant se fundamentar na possibilidade da dedução transcendental, demonstrando a ligação de dois grupos de estruturas intelectuais. “Interesso-me menos pelo objecto do nosso conhecimento do que pelo conhecimento do objecto.
A “guerra das ciências” surge quando o físico Alan Sokal e o matemático Jean Bricmont publicaram um estudo que exaltou ânimos e levantou problemas inesperados entre as “elites dos autores de “science studies”. (1996)
Com o espetacular desenvolvimento do conhecimento cientifico pós-moderno o problema da crença reaparece com o que se chamou ”as duas culturas”: “a científica por um lado e a cultura literária e humanística por outrocom um fosso de incomunicabilidade a separá-las. Face ao problema da crença surge de novo a desconfiança em relação às verdadeiras motivações do trabalho científico.  A nova divisão entre o conhecimento a partir dos factos ou das crenças levaram os filósofos a apontar para a estreita relação com fenómenos históricos, sociais e culturais dosscience studies terminando por aceitar que: a natureza não é a causa   dos  enunciados  científicos, mas  sim  a  sua consequência.
Em “Imposturas  Intelectuais” surge a denuncia de erros e falhas  das sociologias e epistemologias na  utilização de  conteúdos da  ciência (…) trata-se de  ‘desmascarar’ o relativismo surgido  da sociologia do  conhecimento. Repentinamente esta obra torna-se extremamente polémica, por vezes agressiva causando indignação e escândalo entre grupos de ciências sociais, psicanalistas como Lacan, (1901-1991)  Bachelard,(1884-1962) semiólogos como R. Barthes,(1915-1980)  mestre de Julia Kristeva (1941 -) ou antropólogos como Pitirim Sorokin (1889- 1961) , Levy-Strauss (1908-2009), ou Ruth Benedict (1848-1947)  com intromissões epistemológicas e epistolográficasno conhecimento científico altamente estruturado.
Quando a “ciência normal” não se encontra em crisenenhum paradigma encontra consenso geral entre os seus adeptos. . A epistemologia, como reflexão teórica, surgiusem conhecimento profundoque a física quântica e toda a nova ciência impunham com intelecções a que forçosamente estáalheia. Ao nível cultural ou “sintemático” estasconvenções sociais eram de tal modo vagas que se conclui serem puramente arbitrárias.
Estamos diante do pressuposto tradicional da não contaminação do conhecimento científico por condicionantes exteriores.
Repete-se um paralelismo análogo de uma época quando ninguém contestava a fundamentação da física de Newton por aceitação geral da sua procurar da verdade. Ora, insiste Penedos, a análise da ciência distingue factores externos e factores internos (…) e apenas pelos factores internos e pelo método próprio da ciência esta se torna objectiva. Assim, a boa ciência, a que chega a teorias verdadeiras, é aquela em que os factores externosnão se traduzem nos produtos científicos: apenas as teorias falsas devem ser analisadaspela Epistemografia interactiva e Epistemologiascuja reflexão não tem qualquer origem causal em condicionalidades sociais.

(continua)


Notas:
1Kruger. Critique et morale chez Kant, Beauxchesne, Paris, 1961, p.22.
2Idem, ibidem.
3Penedos, Maria Manuel dos, “A Guerra das Ciências” *Trabalho de dissertação Filosofia das Ciências II, sob a orientação da Professora Doutora Maria Manuel Araújo Jorge, /2004. Porto Editora,
4Idem, Ibidem. Porto Editora.

 

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