Síndrome compartimental
António Raposo

Síndrome compartimental

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Conselhos de médico

1 – Síndrome compartimental.
2 – Esta síndrome consiste num fenómeno que acontece quando a pressão aumenta dentro de um compartimento apertado. É como quando enchemos uma câmara de ar de um pneu.  Conseguimos aumentar a pressão da câmara, mas o pneu não deixa expandir. No nosso organismo isto surge em especial nos espaços musculares que são “cobertos” (envoltos) por uma fáscia, que é constituída por fibras pouco elásticas e muito duras. As fáscias ao redor dos músculos são aquela parte de fora do bife que tem uma consistência dura e pouco elástica e que eu corto e deixo sempre no prato porque não gosto de mastigar (parece o Jorge Jesus com a pastilha elástica).
3 – A síndrome compartimental pode ser aguda, como por exemplo na sequência de um traumatismo direto num grupo muscular, com lesão nas artérias e derrame abundante, em que este sangue faz pressão dentro do músculo e não consegue sair. É frequente nos politraumatizados.  Nos casos de aparecimento “crónico” não existe nenhum traumatismo agudo. Aparece fruto da “drenagem” insuficiente do sangue arterial que entra no espaço do grupo muscular, por solicitação com o esforço, mas que não consegue sair.
4 – A consequência imediata desta situação é que com a pressão muito elevada no espaço dos músculos o coração não consegue bombear mais sangue para eles levando à falta de oxigénio e à “isquémia”, com o aparecimento de uma dor intensa localizada na área. Este processo é igual ao que acontece no enfarte agudo do miocárdio (“ataque cardíaco”).
5 – Pode aparecer tanto nos membros superiores como nos inferiores. É mais frequente nas pernas (barriga da perna / gémeos e região anterior lateral) mas também acontece muitas vezes nos antebraços.
6 – Dor intensa, inchaço, dormência, falta de força, pele fria e branca (pálida) e grande dificuldade ou mesmo impossibilidade em continuar a tarefa são as queixas mais frequentes.
7 – No caso da síndrome compartimental aguda a situação é de urgência. O diagnóstico deverá ser feito de imediato e o doente tem de ser operado de emergência para libertar o compartimento para que o sangue possa voltar a circular, caso contrário pode levar a lesões irreversíveis com morte das células musculares (provocando necrose com eventual necessidade de amputação do membro) e dos nervos desencadeando paralisias parciais ou totais.
8 – No caso de instalação crónica as queixas habitualmente aliviam com o repouso e com a elevação do membro. Se for nos membros superiores os doentes deixam de poder fazer o seu trabalho, descansam um pouco, as queixas desaparecem e regressam com a continuação da atividade. Há uns anos tratei de uma enfermeira do Centro de Saúde de Vila Franca do Campo e recentemente tive um jovem barman com esta situação ao nível dos antebraços.  Nos membros inferiores é uma “lesão” que acontece em várias modalidades desportivas. Recentemente tratei de um jovem futebolista que foi operado com sucesso em ambas as pernas. As queixas impediam de continuar a jogar.  Quando parava as queixas desapareciam. Fez a “fasciectomia” (mais palavras complicadinhas…!) parcial e após o período de recuperação voltou a jogar sem limitações.
9 – No caso dos adolescentes masculinos, com grande desenvolvimento rápido das massas musculares, esta situação pode ocorrer.  Como os doentes quando vão às consultas não têm queixas na hora, é muito difícil fazer o diagnóstico porque o exame físico é normal. Mais uma vez a suspeita da doença deve basear-se naquilo que o nosso doente nos conta. Dar tempo para que explique os sintomas e a forma como, quando aparecem e como desaparecem. Um jovem de 15 anos, muito musculado, cheio de pelos nas pernas e já de “barba rija”, associado à presença de acne juvenil (sinais de aumento da hormona testosterona) levou-me logo a pensar nesta síndrome, já que as suas queixas eram compatíveis com o diagnóstico.  Pedi-lhe que viesse no dia seguinte equipado com ténis de corrida e calções para fazer um teste na passadeira rolante.  Quando ele começou a correr disse para me chamarem logo que aparecessem as queixas. Fui para as consultas. Cerca de 2 a 3 minutos depois foram chamar-me! Ele estava com “paralisia” nos pés, região das pernas muito dura, não conseguia andarn em fazer a dorsiflexão dos pés (levantar a ponta dos pés).
10 – Os tratamentos conservadores com fisioterapia, alongamentos, aplicação de gelo (ou banhos gelados) e uso de meias elásticas são muito pouco eficazes.
Nota: Mesmo assim esta síndrome compartimental é muito menos grave do que a síndrome comportamental daqueles que não se quererem vacinar.  A pandemia da Covid 19 está “forte como o tabaco da Maia”. Aqueles que ainda não se vacinaram devem fazê-lo o mais rápido possível. As evidências científicas apontam para a redução significativa da probabilidade de contrair doença grave nos vacinados. A maioria dos internamentos, dos casos graves e das mortes por Covid 19 são de pessoas não vacinadas! Vacine-se pela sua saúde. BUNS AUNES.

* Médico fisiatra
e especialista em Medicina Desportiva

 

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