Mercado Público, património da gente

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“Cada vez que caminho pelo Mercado Público sinto-o borbulhante. Do mesmo jeito que, aos cincos anos, andava por ali, de mãos dadas com a dinda Josefina Salem, espiando de um lado a outro. Hoje, encontro amigos e vejo muita cara nova. O cheiro de ontem continua ali. Sem mais nem menos, do passado chega um balaio de recordações e de saudade trazido nas asas imparáveis do tempo. O templo do povo continua firme, sem vergar, indissociável e muito amado nos seus 123 anos de história e vida.”

 

Existe um lugar que é a vida e a alma de Florianópolis. Sim, é o Mercado Público.Sempre foi assim desde a primeira Praça do Mercado, inaugurado em 5 de janeiro de 1851. Ao celebrar 123 anos do atual edifício inaugurado a 5 de fevereiro de 1899 e ampliado em 1931, vale puxar da memória um pouco da sua história e do temperamento polêmico do ilhéu.
O anúncio da visita do imperador Dom Pedro II à Desterro em outubro de 1845 causou desconforto. Como receber tão augusta visita numa Vila mal conservada, cuja praça ~central cheirava muito mal. Era ali e em barraquinhas à beira mar que se reuniam pescadores, oleiros, colonos e vendedores, tudo junto e misturado, sem qualquer cuidado sanitário. A retirada das tais barraquinhas rendeu muita discussão dos prós e contras. Foi mesmo um “puxa-empurra”, um “diz que diz”, inclusive pela imprensa, colocando em lados opostos os jornais e de acordo com os ventos partidários. Corria o ano de 1848, cem anos depois da chegada dos açorianos à Santa Catarina. Ainda em clima beligerante foi aprovada a Lei para a construção do Mercado no Largo do Palácio, bem junto ao mar. O governo promoveu toda sorte de campanha para levantar recursos, desde rifas e pedidos de ajuda à população, passando o chapéu a todos.... Porém, foi um grupo de comerciantes que compareceu financiando a obra inaugurada em 1851. Desterro crescia e o Mercado ficou pequeno para a demanda, não comportava mais, era preciso expandir ou construir um novo edifício. Novas brigas ou seriam as de sempre? A polêmica da hora era a escolha do local. O Partido Republicano defendia a localização no Largo da Alfândega e o Federalista queria na Praia de Fora. Venceu a proposta do PR e a 5 de fevereiro foi inaugurado o Mercado Público, no governo de Raulino Horn. Desde então passou a ser o nosso endereço oficial, o lugar de todos,onde a cidade se encontra e se identifica.O Mercado é um dos ícones da Ilha de Santa Catarina e patrimônio cultural da nossa gente. Configura a identidade cultural da cidade – a cara de Florianópolis humorada e irreverente e polêmica.
Abro um breve parêntesis para dizer aos amigos do movimento Floripa Sustentável que se conformem nesta memória desnudada ante “os muitos ir e vir” do Plano Diretor de Florianópolis em constante discussão e ainda sem aprovação, impactando o desenho urbano de uma capital que é metrópole e que cresce vertiginosa, caótica, densa, com uma ocupação territorial irregular e infraestrutura deficiente para assegurar a qualidade de vida da população.
Cada vez que caminho pelo Mercado Público sinto-o borbulhante. Do mesmo jeito que, aos cincos anos, andava por ali, de mãos dadas com a dinda Josefina Salem, espiando de um lado a outro. Hoje, encontro amigos e vejo muita cara nova. O cheiro de ontem continua ali. Sem mais nem menos, do passado chega um balaio de recordações e de saudade trazido nas asas imparáveis do tempo.O templo do povo continua firme, sem vergar, indissociável e muito amado nos seus 123 anos de história e vida.
Aliás, se fôssemos contar o tempo a partir do primeiro Mercado teríamos celebrado em janeiro 171 anos... Opa! Não quero puxar o siri do balaio e trazer outro “diz que diz”.

* Vice Presidente do Conselho Municipal de Educação de Florianópolis / Escritora da ACL

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