A saúde de Salazar
João Paim Vieira

A saúde de Salazar

Previous Article Previous Article Câmara Municipal assinala dias temáticos através dos quiosques digitais
Next Article Encontrar um equilíbrio Encontrar um equilíbrio

    Em 1963 Salazar pressentindo o fim do regime cria a Assistência na Doença aos Servidores do Estado (ADSE).
    Dezenas de anos depois de pôr o pézinho pesado, a pata do Botas em cima dos portugueses (aproveitando o descontrole, esbanjamento, corrupção e estupidez congénita da 1ª República) Salazar percebeu  que tinha de fazer algo pelas suas tropas de choque, os funcionários públicos, para os manter fieis e votantes nas eleições pouco transparentes que organizava regularmente.
    A situação de discriminação absoluta, de duas saúdes no mesmo país, de cidadãos de primeira e de segunda “normal” dada a natureza do regime seria de esperar que fosse das primeiras coisas a mudar no Portugal de Abril da liberdade e da igualdade.
    Em 1974 no 25 de Abril aquele aborto compra-votos de Salazar poderia ter sido abortado definitivamente e integrado num futuro Serviço Nacional de Saúde para todos os Portugueses mas pensar nisso é esquecer quem fez o 25 de Abril – alguns idealistas bem intencionados e funcionários públicos ansiosos por ainda maiores privilégios e vantagens.
    E então foi o contrário as diferenças ainda se acentuaram com cada grupinho dentro dos públicos a querer as suas próprias instalações, civis, militares, de classes profissionais mas principalmente muito, muito parasitando o orçamento de Estado e o Património.
    Até 1979 durante 16 anos até bem depois do 25 de Abril parasitaram simplesmente o orçamento depois foram inventando uma taxinhas deficitárias começando por 0.5 % mas na realidade só 45 anos mais tarde deixaram de o fazer quando a construção de um património parasitário já o permitia sem a extinção anual ameaçada.
    E foi e é um forrobodó de acesso discriminatório aos privados da Saúde, CuF.s, Lusíadas, e muitos outros que se foram instalando com todo o direito a isso mas não a condições preferenciais no acesso a fundos que eram dados por quem? Os tais funcionários públicos que lá iriam buscar a sua saúde protegida e discriminatória.
    E que exigindo muito mais que o comum dos cidadãos estavam claramente a fazer um juízo de valor desfavorável sobre o SNS.
    Claro que a saúde do SNS (e do SRS) não é a da 1ª República, do Estado Novo ou do pré 25 de Abril melhorou certamente mal seria se assim não fosse mas a distancia entre os ADSE e os outros foi-se mantendo e até aumentando ou como diz a China, Sucialista como estes de agora  um País  e dois sistemas.
    O SNS sempre foi sendo construído a custo porque lhe faltava o dinheiro dos privilegiados da ADSE e pelo desinteresse evidente por ele por parte de quem quase nunca lá punha os pés governantes e funcionários agora recentemente acrescidos de todas as excrescências mais recentes do Estado dos “reguladores” aos “organismos”
    Como diz o vosso Costa quando a pandemia começou o SNS é que nos salvou e é verdade aliás salvou os que lá vão porque não tem outro remédio e salvou os outros todos que foi possível.
    O resultado é que agora que os tais lá caem como moscas junto com os outros (igualdade até que enfim) o SNS e o SRS não conseguem sequer dar resposta aos das rotinas mínimas de saúde.
    E cujo salvamento os prejudicou gravemente porque viram os poucos?cuidados regulares com a sua saúde quase desaparecerem enquanto os do ADSE e ricos e riquinhos continuavam os seus exames regulares, consultas,tratamentos e cirurgias nas Cufs ,Luzes e Lusíadas e agora no Hospital Internacional dos Açores subsidiado com 18 milhões e criado para isso mesmo, evitar as deslocações deles  ao continente sempre que possível .
    Note-se que,como já disse, fui muito bem tratado lá (pagando claro) e não tenho nada contra o HI exceto ter recebido fundos comunitários que não beneficiam todos os Açorianos (para já dizem alguns) espero para ver talvez depois da mobilização da Agenda corrupta  de muitos mais fundos comunitários do PRR .
    Como aliás também a maioria das pessoas que trabalham nos Hospitais Públicos são bons profissionais que fazem o que podem com a falta de meios em que andam sempre anos atrasados.
    No fim só para dar um pequeno exemplo dizem que ficaram 100.000 mulheres (afinal 169.000?) com o rastreio do cancro da mama atrasado e muitas irão aparecer com essa doença nos próximos anos.
    E entretanto alargaram a discriminação incluindo entidades que foram criadas justamente para fugir ao funcionalismo público clássico (e aos seus ordenados médios).
    Para finalizar apenas um exemplo,um pequeno instantâneo da Saúde da Autonomia sobre os doentes oncológicos ás 8 da manhã á espera de teste Covidno exterior do Hospital de Ponta Delgada expostos ao vento, chuva e frio que algumas vezes são substituídos na fila por familiares apavorados de os verem assim tratados.
    Não é nada de novo, na Idade Média das trevas humanas e escuridão social os condenados ao pelourinho ou a castigos corporais que os pusessem em risco de vida podiam ser substituídos por familiares ou amigos.
    Mas que crime terão cometido aqueles doentes e imagine-se que é só para terem acesso ao Hospital nada lhes garante que vão sequer ter o tratamento de que precisam assegurado ou sequer marcado.
    E pior ainda segundo me contam uns desses dias foram misturados com as cliques-claques do futebol, com a pequenada das noites e os adeptos do jantar fora.
    Estes não são problemas de qualidade de muitos, bons e dedicados profissionais de saúde que temos (mas claro deveriam ser muitos mais não fosse o pecado original do SNS e do SRS) estes são problemas de organização, de falta de capacidade das chefias e nem quero entrar pela desumanidade e outros aspectos desagradáveis das organizações mal moldadas.
    O que deveríamos ter? Projetos de interesse regional na saúde em vez dos parasitas de fora nos Hotéis pagos por nós.
    Portanto e para finalizar mesmo o que temos ainda hoje é verdadeiramente a saúde que Salazar imaginou e decretou para os Portugueses é a Saúde de Salazar discriminatória como o regime dele e como estes que tem continuado a sua obra.

Share

Print

Theme picker