O alívio de medidas
Mário Freitas

O alívio de medidas

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Com 90% da população vacinada com primo-vacinação, e 58% da população com reforço vacinal, o Portugal metropolitano entendeu ser altura de aliviar medidas.
Assentou esta decisão, também, no facto de os internamentos hospitalares COVID19 estarem num “nível aceitável”, assim como a ocupação das Unidades de Cuidados Intensivos.
Os novos casos confirmados, nos últimos 14 dias, estão abaixo dos 3000 por 100 mil, seguindo uma curva notoriamente descendente.
A taxa de positividade dos testes está em 15%.
A mortalidade aproxima-se dos 6 por 100 mil, nos últimos 14 dias, mas ainda acima desse valor.
Tomar decisões, em Saúde Pública, não se pode basear nem em meras cópias do que está a acontecer em realidades exteriores, mais ou menos distantes, nem em inspirações de natureza sobrenatural, mas sim na realidade objectiva que temos à nossa frente.
Tão pouco, em Saúde Pública, não pode ser adoptada a estratégia de “primeiro atiramos a seta, depois pintamos o alvo à volta”.
Ao longo desta pandemia temos visto de tudo um pouco. Em comum, muitas das decisões tomadas por pantomineiros conduziram a pandemónios, ora comunicacionais, ora com elevados custos em vidas humanas.
A leveza com que a generalidade da população oscilou numa bipolaridade - entre o “feche-se tudo” e “isto já acabou” - só pode ser suplantada, em danos de toda a natureza, pela leveza com que personagens “com bata branca” se arvoraram em especialistas de matérias que nunca dominaram.
Já podemos calcular, minimamente, o custo imputável àqueles que juravam (há mais de 1 ano) que “as crianças não transmitem a doença”, atrasando - em semanas - medidas que reduziriam a mortalidade nos mais frágeis?
Já podemos calcular, minimamente, o custo imputável àqueles que, ao invés de criarem Normas intransigentes que permitissem reduzir a normal actividade clínica minimamente, tudo pararam e tudo suspenderam, atrasando (de forma criminosa..?) rastreios, exames complementares, consultas e procedimentos cirúrgicos, fundamentais para milhares de cidadãos…?
O nosso Fado é também isto. Estar entre o brilhantismo no improviso, a precocidade nos momentos-chave e a irritante tendência para opinar sobre “tudo e um par de botas”, criando um ruído incessante a que só uma vontade férrea, de Serviço e Missão, se consegue sobrepor.
A nossa longa História, a 6 anos de completar os 900 anos de Nação, demonstra-o.
Há já vários meses que no artigo que eu escrevia semanalmente, no jornal Diário dos Açores, chamei a atenção para a fase crítica daquilo que podemos chamar o “momento da alta ao doente”.
A sociedade está prestes a “ter alta” desta doença. Como em qualquer doença, o momento da alta tem de ser na altura certa (e não apressada, por quaisquer vontades políticas), mas, após esta, ainda há um longo período de recuperação e convalescença, para que não sucedam recaídas.
Tudo isto tem de ser monitorizado, e avaliado. Por quem sabe, e não por aqueles que “dizem aquilo que eu quero ouvir” (os tais que ajudam a pintar o alvo à volta da seta, que foi atirada).
O fim último só pode ser um: mais vidas, e melhores anos nessas vidas.


*Médico graduado em Saúde Pública e Delegado de Saúde

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