Quando o Casino joga e ganha, quem perde?
Mário Abrantes

Quando o Casino joga e ganha, quem perde?

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Tem sido sempre assim, desde 2005 e, pelos vistos, há quem queira, sem um pingo de vergonha na cara, que continue a serassim!
Falta saber se a falta de vergonha de quem, para alimentar os seus interesses privados à boa maneira neoliberal, mais uma vez se propõe abocanhar o bolo do erário e património públicos, irá merecer resposta positiva do atual Governo Regional. Lamentavelmente assim tem acontecido até hoje por parte dos responsáveis do PS e do PSD, no governo e no município (muito antes da atual filial da IL aparecer), em todo o decurso deste processo sinuoso que, a pretexto de um intocável turismo que a tudo se sobrepõe, não hesitaram em ultrajar por tempo indeterminado tanto a malha urbana da cidade de Ponta Delgada como aqueles que nela vivem e trabalham, ou simplesmente visitam.
Após a abertura da concessão por 30 anos, em 2003, o jogo começou logo em 2005 pela expropriação por utilidade pública urgente dos terrenos de uma empresa pública, a EDA, para os entregar à empresa concessionária do Casino, com vista à sua construção. A EDA pedia 6 milhões de euros e, por via da expropriação, a concessionária privada acabou por pagar apenas 2 milhões e com a garantia de que o governo regional avançaria esse dinheiro, se a mesma concessionária não tivesse disponibilidade no momento…
Entretanto foi-se erguendo um paralelepípedo monstruoso mesmo junto à Marina que emparedou uma boa parte da zona histórica da Calheta. Um paralelepípedo que se manteve por arrematar até 2017 (12 anos). Mesmo ao lado, e para acabar de emparedar aquela zona histórica ergueram-se em 2008 as ruínas antecipadas das galerias de um centro comercial. Tal foi a forma “original” encontrada pela concessionária para obedecer à condição contratual de requalificação da Calheta. Essas galerias ruinosas estiveram de pé a criar ratos até 2021 (13 anos), altura em que depois de muito protesto público, foram parcialmente demolidas, mantendo-se até hoje, para profundo desconforto e vergonha dos ponta-delgadenses, o essencial da descaracterização e do lixo urbano que para ali foi arrastado pelo Casino todo-poderoso.
Mas a história continua. Em 2009, como o paralelepípedo não havia modos de avançar, a concessionária recebeu mais 9 milhões de euros do erário público regional para pôr o todo-poderoso a funcionar…o que só aconteceu, como já sabemos, 8 anos depois.
E assim chegamos aos dias de hoje com uma nova arremetida da (nova) concessionária que, preocupada com o que considera falta de condições do atual espaço, pretende transferir o Casino de armas e bagagens para um outro espaço (público, claro!) entendido por mais adequado: nem mais nem menos que as Portas do Mar!
Cá está mais uma jogada de Casino, do jeito tão ao gosto (e ao proveito) dos nossos muito liberais grandes empresários, em que a concessionária mais uma vez se pretende servir de uma empresa pública, a Portos dos Açores, para se apropriar no seu privado interesse, de uma zona onde os ponta-delgadenses têm acesso a feiras, exposições, eventos culturais, a zonas balneares e de lazer, espaços desportivos e de exercício físico, e sempre que necessário… ao apoio e proteção em caso de calamidades, pandemias ou epidemias!
É tudo isto que é posto desavergonhadamente em causa pela pretensão da concessionária e que se espera, desta vez e em contra ciclo com a história, não venha a ser correspondido pela mesma falta de vergonha da parte de quem, como o governo dos açorianos, só deve estar vinculado ao interesse público.

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