A lição Darwiniana  do Grupo SATA
Pedro Castro

A lição Darwiniana do Grupo SATA

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Nos Açores, o Grupo SATA é enorme: comanda aeroportos e empresas várias ligadas ao negócio aéreo, emprega mais de mil pessoas em diversas áreas e ilhas, coneta a diáspora com o arquipélago, desempenha o serviço público das ligações inter ilhas e é um veículo para o turismo, carga e relações familiares e empresariais. Contudo, no mundo global da aviação cada vez mais consolidado e com uma dimensão ou ambição de escala, o Grupo SATA é pequeno – uma frota modesta, uma rede de destinos limitada, num destino pouco conhecido, uma companhia solta no meio do Atlântico e sem alianças. A tarefa comercial dos gestores da SATA-Azores Airlines nesta arena planetária é tudo menos fácil e dificilmente se poderão sentar à mesa de negociações com grandes companhias aéreas para, por exemplo, chegarem a um acordo de cooperação tarifária razoável, com uma agenda e prazos oportunos. O grupo tão-pouco dispõe da frota ou do capital necessário para encetar um percurso expansivo orgânico, ele próprio limitado pela supervisão das condições determinadas pela Comissão Europeia e pelas sérias questões de rentabilidade.
Perante isto, a SATA-Azores Airlines tem surpreendido pela positiva: a tarifa Açores foi um sucesso com repetição garantida em 2022; atingiram-se recordes históricos mensais no transporte de passageiros; reposicionou-se o produto e melhoraram-se aspetos operacionais como o da pontualidade que, por si só, permite reduzir custos compensatórios e multas. É neste contexto que nos chega agora também a novidade dos primeiros acordos comerciais com a Transavia e a easyJet. Note-se: estes são os primeiros acordos deste estilo em território Português. A empresa tecnológica islandesa DoHop criou este conceito para ultrapassar a dificuldade negocial em celebrar e aplicar acordos tarifários bilaterais entre companhias aéreas, sobretudo entre empresas com dimensões e interesses totalmente diferentes. Com esta notícia, o Grupo SATA dá-nos mais uma lição de aproveitamento sustentável das oportunidades do século XXI com os olhos postos na rentabilidade do seu produto ao mesmo tempo que o expande sem os custos ou compromissos tarifários inerentes. No que toca aos passageiros, poderão beneficiar de uma garantia de viagem com dois bilhetes fazendo por exemplo Terceira-Porto com a Azores Airlines e prosseguir para Genebra ou Milão na easyJet; ou viajar na Transavia de Amsterdão para Ponta Delgada e seguir viagem para Boston na Azores Airlines.
Próximos passos? Enquanto consultor nesta área, gostaria de imaginar que o Grupo SATA irá concentrar o sucesso desta nova conetividade no aeroporto de Ponta Delgada por inerência e no aeroporto do Porto pela lógica operacional: é claramente aquele que oferece as melhores condições uma vez que os aviões de todas as companhias envolvidas usam o mesmo terminal (contrariamente ao que sucede em Lisboa em que a existência de dois terminais diferentes é logisticamente mais desafiante); o Porto é também o destino que mais carece deste tipo de tráfego complementar que permitirá alavancar as rotas existentes do Grupo ou, quem sabe, iniciar outras novas. Ainda assim, os voos matinais exclusivos entre Lisboa e as ilhas do Pico, Faial e Santa Maria não permitem conetar com nenhum voo da Transavia e da easyJet e, nessa perspetiva, tornam o alcance deste acordo demasiado unilateral para essas ilhas. Não permitir o desenvolvimento do tráfego aéreo para outras ilhas que não a de São Miguel não pode ser certamente o desígnio do Grupo, pelo que estaria na hora de considerar pernoitar um dos A320 no Faial e começar a operação dali para o Continente em vez do inverso. Com isso permitir-se-ia que um dia típico na operação de um A320 fosse, por exemplo, Horta-Lisboa-Pico-Lisboa-Horta nalguns dias da semana e noutros dias fosse Horta-Lisboa-Santa Maria-Lisboa-Horta tudo com horários mais ajustados para a conetividade permitida por estas novas parcerias. Tocando no aspeto da bagagem: o calcanhar de aquiles das parcerias DoHop é a bagagem e a necessidade de a recolher no ponto intermédio e voltar a entregá-la no check-in da outra companhia. A SATA é gestora de alguns aeroportos açorianos e é a sua empresa de assistência em escala monopolista, ou seja, goza de uma posição privilegiada para poder participar nos vários projetos-piloto sobre esta matéria e garantir também aqui um lugar cimeiro da evolução deste produto.
O mundo da aviação está, de fato, em constante evolução. E como diria Darwin: há uma luta pela sobrevivência nos céus e as companhias aéreas que sobreviverão não serão necessariamente as mais fortes ou as maiores mas, sim, as que melhor se adaptem às condições do ambiente em que vivem.

 

* Diretor da SkyExpert Consulting

 

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