Comerciantes do Mercado da Graça queixam-se da falta  de turistas e da pouca divulgação do mercado provisório
Ana Catarina Rosa

Comerciantes do Mercado da Graça queixam-se da falta de turistas e da pouca divulgação do mercado provisório

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O Diário dos Açores esteve à conversa com os vendedores que possuem espaços comercias no Mercado da Graça, que mostraram a sua indignação com as actuais condições

O histórico Mercado da Graça foi construído em 1848, como forma de colmatar a ausência de locais próprios para a venda e compra de produtos agrícolas, permitindo retirar, da Praça do Município, as carroças onde eram vendidos os bens agrícolas, por uma questão de saúde pública.
Este mesmo espaço chega aos dias de hoje como um dos pontos turísticos da cidade de Ponta Delgada, presenteando não só os locais como os turistas com as mais ricas variedades de produtos frescos, acompanhados pela simpatia dos comerciantes.

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Nos últimos dois anos esta mesma animação tem-se “esvaziado”.
Com o surgimento da Covid-19, a drástica redução de clientes veio assombrar os comerciantes, que, com a quase inexistência de turistas na região e o medo por parte dos locais, viram diminuir a sua fonte de rendimento.
Com o anúncio das obras no núcleo central do Mercado da Graça, no mês de Outubro, os comerciantes tiveram que se adaptar às diversidades e colmatar as diferentes condições a que estavam habituados.
Apesar de localizado actualmente no piso -1, anterior parque de estacionamento do Mercado da Graça, esta situação provisória não foi a mais satisfatória para muitos dos clientes.
Quer seja por falta de informação, ou confusão, ao não perceber onde dirigir-se, muitos acabam por não entrar ou optar por frequentarem as grandes superfícies comerciais como alternativa.
Esta disposição só veio confirmar os receios por parte dos comerciantes, que nos últimos meses constataram um elevado decréscimo na procura de mercadoria de bens regionais.
Com a presente acomodação dos comerciantes ao espaço limitado, muitos queixam-se das dificuldades desta delimitação, como é o caso de Paula Oliveira, comerciante de frutas e legumes, que está insatisfeita com a actual disposição do mercado: “Não há sinalização, as condições são péssimas para os clientes. Em dias de chuva nos retiramos o único espaço que havia coberto para o estacionar o carro”, fazendo questão de salientar: “eu como cliente não viria ao mercado.”
 A mesma explica que uma nova localização do mercado, seria uma alternativa à actual condição: “um excelente sítio seria as Portas do Mar” ou no parque de estacionamento do anterior edifício da RTP-Açores, que funciona, neste momento, como parque de estacionamento provisório para o Mercado da Graça: “Montávamos uma tenda, como fazemos pelo Senhor Santo Cristo dos Milagres.”
Esta retórica é, também, realçada por outros comerciantes, como é o caso de Valter Almeida, de 40 anos, tendo frisado que “houve muita falta de informação para o exterior, não há publicidade suficiente para as pessoas terem conhecimento que estamos aqui em baixo”, acrescentando que a  informação existente é praticamente escassa e a divulgação da mesma inexistente: “só saiu uma vez ou duas no facebook da Câmara Municipal de Ponta Delgada e uma vez na televisão, na RTP Açores. Deviam ter apostado em mais informação”, acrescentando que “deveriam ter-nos deixado avisar as pessoas com antecedência”.
Quanto à redução dos clientes, para o comerciante deve-se ao espaço actual: “As pessoas falam do espaço. Têm medo, por ser muito baixo, fechado, tapado e com falta de luz. Existe uma falta de acessos aos mesmos”, mencionando que “uma zona fora do centro, com um maior número de estacionamento”, seria a melhor alternativa.
No actual piso onde ocorrem as obras, permanecem as secções dos talhos e peixaria, mas nem esta “vantagem” conseguiu colmatar a ausência de clientes.
Para Graça Sousa, dona do Talho Tradicional, a pouca procura do mercado deve-se sobretudo às obras: “nós andamos a atravessar uma fase menos boa, complicada, mas tenho quase 100% de certeza que grande parte da quebra deve-se às obras”, contextualizando que em grande parte esta situação deve-se à falta de acesso e à ausência de um parque de estacionamento: “ as pessoas vão ao piso inferior e já não vêm cá acima. Nós sabemos que os clientes vêm, olham e compram. Sem entrada e saída de pessoas torna-se muito complicado.”
A talhante compartilha da mesma perspectiva de outros comerciantes, no que respeita à ausência de informação, responsabilizando a Câmara Municipal de Ponta Delgada por esta situação.
Aponta ainda que os comerciantes deveriam ter sido deslocados para outras acomodações: “acho que as Portas do Mar eram uma solução, pois tem em simultâneo parque de estacionamento”.
Porém, as grandes superfícies comerciais têm sido um problema, visto que detêm compactado num só espaço todos os produtos: “Temos dado o nosso melhor, mas não é o suficiente. Sabemos que as pessoas depois adquirem outros hábitos. O cliente que vinha ao mercado, não vinha só especificamente às carnes, vinha num conjunto. Se não existe esse conjunto, possivelmente vai frequentar hipers ou outros locais que têm esse conjunto de compras.”
No caso de Adelina Carvalho, de 64 anos, que já trabalha na peixaria há 15 anos, embora a situação se tenha complicado nos últimos meses, a mesma agravou-se para os comerciantes que tiveram que deslocar-se para o piso inferior, dada a falta de condições.
Embora refira que haja um aumento de procura por parte dos clientes aos fins-de-semana, “ mas não como antes”.
Como forma de fazer frente às adversidades a maioria teve que procurar alternativas para tentar converter a situação.
Entregas ao domicílio têm sido a opção escolhida para agradar aos clientes mais “fiéis” de alguns comerciantes, seja por marcação telefónica, por correio electrónico ou mensagem, a verdade é que as mesmas foram o meio de sobrevivência aquando do covid-19 e que continuarão por necessidade de aglomerar as dificuldades que irão permanecer nos próximos tempos.

jornal@diariodosacores.pt

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