Acção solidária a favor da Ucrânia mostra o humanismo dos açorianos
Creusa Raposo

Acção solidária a favor da Ucrânia mostra o humanismo dos açorianos

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Jimmy Osório, consultor imobiliário, criou uma acção solidária que pretende levar alguma ajuda àUcrânia, e mostra-se orgulhoso pela quantidade de bens que foram adquiridos e pela profunda participação da sociedade. Amanhã partem cerca de 100 toneladas de bens alimentares e medicamentos para Lisboa e posteriormente para a Polónia, a fim de atravessar a fronteira e alcançar o país eslavo sob invasão russa.

 

Quem é o responsável por este projecto? Possui alguma ligação à Ucrãnia e se sim qual, e ainda, se tem alguma relação com as forças armadas.
Não sei se se pode chamar a isto um projecto, mas o responsável fui eu, por este movimento, por esta causa. Não tenho nenhuma ligação com o país em termos de família nem com as forças armadas.

Qual a motivação desta iniciativa?
Na verdade tenho alguns amigos ucranianos no continente mas isto começou por uma ocasião cívica, por iniciativa própria, sentimento de impotência, de ver que isto está a ser um desastre humanitário enorme.
Depois olhei para a região e percebi que nada estava a ser realizado. Havia muita conversa, manifestações programadas, e eu entendi que se calhar, se eu iniciasse, poderia representar alguma participação para as pessoas que quisessem contribuir, e esta foi a minha principal motivação. A intenção foi de facto fazer algo prático.

Que tipo de bens são mais necessários?
Os tipos de bens que neste momento precisamos são mais medicação e materiais médicos de primeiros socorros. De medicação estamos a falar de anti-inflamatórios, antibióticos, anti-depressivos, medicação para diarreia e vómitos, medicação para a desidratação, bombas de inalação de ar para asma.
A nível de materiais médicos de primeiros socorros são luvas, seringas, compressas, gaze gorda, pomadas para queimaduras e hemorragias, álcool, água oxigenada, Betadine, soro. Há uma listagem que foi disponibilizada por mim no nosso grupo “SOS Ucrânia” [nas redes sociais] onde está mais específica a dosagem.
Os bens alimentares continuam a ser necessários porque mesmo que a guerra termine daqui a duas semanas ou três (e esperemos que termine antes) há danos colaterais enormes!
 Eu recebo relatos diários de situações muito críticas e o próximo desafio será até o realojamento em que eu também estarei envolvido devido à minha actividade profissional.

Como será feito o transporte dos bens? Pensam em trazer refugiados?
O transporte dos bens, nesta fase, vai ser dividido. O transporte está a ser articulado com os transitários Salem que se disponibilizaram e cederam os contentores e vão ser levados para Lisboa, onde a associação oficial de refugiados ucranianos, que foi criada pela embaixada ucraniana em articulação também com a Cruz Vermelha e com outras entidades internacionais, levam isto para a fronteira da Polónia com a tentativa de entrar na Ucrânia que é um processo mais difícil.
Quando criei este movimento o intuito foi colectar bens e não para trazer refugiados. Neste momento devido à magnitude de exposição que se criou, isto está a ser pensado, estou a dar os primeiros passos de como conseguir o transporte para trazer refugiados da Ucrânia, dado que preciso de apoio do governo e não existe neste momento.

Como está a ser a adesão dos micaelenses?
A adesão dos micaelenses é enorme, possivelmente é a maior manifestação que a ilha teve a nível de solidariedade. Nunca houve uma acção de solidariedade com esta magnificência que envolvesse entidades públicas, cidadãos, empresas privadas, emigrantes. De facto tem sido uma adesão impressionante e isto também já se estendeu à “SOS Ucrânia”, estendeu-se para as outras ilhas, com a excepção à Terceira, onde houve um cidadão que desenvolveu o seu próprio projecto humanitário, mas de facto tem sido uma situação massiva.

Que mensagem gostaria de deixar em tempo de guerra?
Em tempo de guerra, penso que a principal mensagem, terá de passar por encontrarmos em nós mesmos uma certa humanidade e civismo que nos permita ver que a guerra não nos traz grandes benefícios.
Nunca trouxe, ou trouxe muito poucos historicamente, mas acima de tudo encontrarmo-nos a nós mesmos, e que nós quando nos ligamos uns aos outros, nós de facto conseguimos grandes proezas e penso que isso foi notório aqui.
A população toda uniu-se em volta de uma acção de solidariedade que fez criar aqui, em uma semana, dois contentores de 40 pés que representam 50 toneladas de alimento.
Hoje [segunda-feira] já temos mais um contentor criado, são mais 26 toneladas e de facto isto só se consegue em tempos de guerra porque há humanidade dentro de nós.
Eu queria deixar aqui uma palavra e aproveito isto [a ocasião] aos jovens. Os jovens têm sido impressionantes. Quando falamos muitas vezes que eles estão desinteressados com a sociedade e com os valores humanitários e com a humanidade, eu posso dizer que assisti, dia-a-dia aos jovens em peso aqui com projectos nas suas escolas, envolvidos, porta-a-porta. Foram fantásticos e ajudaram muito.
Estou muito satisfeito mas ainda falta receber mais produtos alimentares, medicamentos nos pontos de recolha. Temos mais de 14 pontos de recolha em São Miguel e alguns nas outras ilhas.  
No dia 11 de Março enviamos mais dois contentores prevendo conseguir em duas semanas 100 toneladas de alimentos para a missão humanitária na Ucrânia.                           


jornal@diariodosacores.pt

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