Preço da carne aumenta e produtores preocupados com novas subidas dos custos fixos
Diário dos Açores

Preço da carne aumenta e produtores preocupados com novas subidas dos custos fixos

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O preço da carne de bovino aumentou esta semana no mercado de S. Miguel e há produtores preocupados com novas subidas de custos fixos, “que vão provocar novos aumentos junto do cliente”.
Dos contactos que o nosso jornal efectuou ontem com alguns talhantes em Ponta Delgada, ficamos a saber que o bife de pojadouro subiu de 13 para 14 euros e o de lagarto de 26,50 para 27 euros e alguns até 30 euros.
“Os produtores estão a sentir já a pressão dos aumentos dos preços das rações e combustíveis, o que se vai repercutir na venda da carcaça e, por sua vez, na venda das peças nos talhos”, afirma-nos um talhante dos arredores de Ponta Delgada.
Por sua vez, Valter Rosa, do Talho e Salsicharia Rosa, em Ponta Delgada, disse ao nosso jornal que já sentiu nos últimos dias um aumento de quase 40% nas rações, que vai acabar por se reflectir na venda ao cliente.
“Já estamos a assistir a um fenómeno de contenção por parte do cliente, que prefere comprar as carnes mais baratas, enquanto as mais nobres vão ficando para trás”, afirma Valter Rosa ao “Diário dos Açores”, acrescentando que está  preocupado com o futuro, “pois somos um sector sem apoios e com os aumentos dos preços fixos, como o combustível, gás e electricidade, vamos trabalhar apenas para aquecer”.
A carne de bovino reflecte, ainda, outro fenómeno para o respectivo aumento de preço, que tem a ver com a elevado procura por parte de mercados do exterior, segundo alguns produtores.
“Do Continente e até de Espanha andam atrás da nossa carne, pelo que a concorrência faz disparar os preços e nós, aqui nos Açores, temos de acompanhar, pelo que a carne vendida aos clientes nos talhos vai continuar a subir”, prevê outro talhante da Ribeira Grande.
Quanto à carne de porco está mais controlada, mas há talhos, segundo os nossos contactos, que não estão a obter grandes lucros.

Preços dos alimentos sobem
nos mercados mundiais

Os números que vão sendo conhecidos nos mercados mundiais são pouco animadores.
Com efeito, o indicador de referência para os preços mundiais dos alimentos subiu em fevereiro, atingindo um máximo histórico, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
O Índice de Preços de Alimentos da FAO registou uma média de 140,7 pontos em fevereiro, o que corresponde a um aumento de 3,9% em relação a janeiro.
Este índice acompanha as mudanças mensais nos preços internacionais das matérias-primas básicas para a alimentação, o que significa que, nos próximos meses, haverá certamente aumentos de preços nos bens alimentares vendidos ao público.
Como este indicador mede os preços médios ao longo do mês, “a leitura de fevereiro incorpora apenas parcialmente os efeitos de mercado decorrentes do conflito na Ucrânia”, sublinham os analistas da FAO.
Foi na área dos óleos vegetais que o índice da FAO registou um aumento de preços mais acentuado, com uma média de 201,7 pontos em fevereiro – uma variação de 15,8 pontos (8,5%) face ao mesmo mês de 2021.
Este aumento, segundo a FAO, resultou principalmente da subida dos preços do óleo de palma, soja e girassol. Em fevereiro, os preços internacionais do óleo de palma aumentaram pelo segundo mês consecutivo devido a uma procura global sustentada, que coincidiu com a redução das disponibilidades de exportação da Indonésia, o maior exportador mundial de óleo de palma.
A FAO também divulgou o seu mais recente estudo sobre oferta e procura de cereais, onde faz já uma previsão da produção mundial de cereais em 2022.
Assim, e segundo a FAO, “a produção global de trigo deve aumentar para 790 milhões de toneladas, com elevado rendimento nas culturas extensivas da América do Norte e da Ásia, compensando uma provável ligeira diminuição na União Europeia e o impacto adverso das condições de seca nas colheitas em alguns dos países do norte de África”.
A colheita de milho começará em breve no hemisfério sul, segundo a FAO, e com a produção do Brasil a atingir um recorde e ainda com as produções na Argentina e na África do Sul acima de seus níveis médios.

Dilemas mundiais

A resposta da política económica a esta nova conjuntura revela-se complicada, numa altura em que as economias ainda estão a tentar solidificar a saída da crise criada pela pandemia.
A nível orçamental, os Estados podem ser chamados mais uma vez a intervir, desta vez através essencialmente da mitigação dos custos da energia para as famílias e as empresas.
Isto faz com que, num cenário de abrandamento da economia, se possa assistir também a uma revisão em alta dos défices.
Neste cenário, para Portugal e para os restantes países europeus, pode ser importante a abertura já revelada a nível europeu para adiar por mais um ano o regresso da aplicação das regras orçamentais europeias.
Ao nível da política monetária, a situação é ainda mais complexa.
O surgimento de um fenómeno de estagflação na zona euro passou a ser, mais do que antes da guerra, um cenário com alguma probabilidade de acontecer e isso cria um dilema para os responsáveis pela definição da política económica do Banco Central Europeu (BCE).
Perante sinais de abrandamento da economia da zona euro, podem sentir a necessidade de atrasar a retirada das políticas extraordinárias de estímulo lançadas durante a pandemia, mas ao fazerem isso arriscam-se a perder definitivamente o controlo sobre uma inflação, que em vez de começar a descer este ano, poderá afinal subir por causa da guerra.
Ao longo da história, as dificuldades dos bancos centrais em enfrentarem a estagflação foram evidentes.
No final dos anos 1970, acabaram, principalmente nos EUA, por terem de subir as taxas de juro para níveis muito elevados para controlar a inflação, lançando em contrapartida a economia para uma recessão profunda.

Aumentos no consumo
e na produção

Segundo divulgou ontem o Banco de Portugal, o índice de preços na produção da indústria transformadora apresentou em fevereiro uma taxa de variação homóloga de 16,3% (14,2% no mês anterior), registando o crescimento mais elevado da atual série.
Excluindo a componente energética, este índice aumentou 11,7% em termos homólogos, apresentando também o crescimento mais elevado da atual série, após ter apresentado uma variação de 11,2% em janeiro.
Por sua vez, a variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor foi 4,2% em fevereiro, 0,9 pontos percentuais (p.p.) acima da observada no mês anterior, atingindo a taxa mais elevada desde outubro de 2011.
A componente de bens do IPC registou uma variação homóloga de 5,2% em fevereiro (4,2% em janeiro), particularmente influenciada pelo comportamento dos preços dos bens energéticos. O aumento na componente de serviços foi inferior, fixando-se em 2,6% (2,0% em dezembro e janeiro), mas começando a evidenciar-se uma tendência de aceleração dos preços também neste caso.

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