Diário dos Açores

Agendas (des)Mobilizadoras

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A mais pequena ilha dos Açores está na ribalta dos acontecimentos políticos desta semana, mais uma vez por razões que se prendem com o excesso de pessoal técnico qualificado para tão pouca gente. A nomeação de um clínico de São Miguel para presidir ao Conselho de Administração da Unidade de Saúde de Ilha do Corvo, substituindo no cargo o clínico daquela Unidade de Saúde, que continua ao serviço, apanhou de surpresa a população corvina. Não se sabe se o novo presidente do Conselho de Administração irá presidir à distância, com algumas visitas periódicas, ou se trocará São Miguel pelo Corvo, onde para além da presidência do Conselho de Administração prestará serviço clínico, dividindo com o médico seu antecessor na presidência os cuidados de saúde dos 370 utentes daquela Unidade de Saúde de Ilha.
Esta guerra de alecrim e manjerona, que já originou uma manifestação pública de utentes da pequeníssima vila e tomada de posição dos trabalhadores da Unidade de Saúde, vem levantar uma questão que, mais do que política, é estrutural. Como é que um pequeno “Posto de Saúde” de uma muito pequena vila, detém a dignidade e estrutura de Unidade de Saúde de Ilha com Conselho de Administração próprio?
Esta Autonomia vive num mundo irreal gerando situações tão insólitas e caricatas como esta. Manda a mais elementar regra de boa gestão, para além do bom senso, adaptar as estruturas à realidade. Seria lógico e razoável existir Unidades de Saúde de Ilha e Unidades de Saúde de Ilhas, consoante o número de habitantes o justificasse. Neste caso seria Unidade de Saúde das Ilhas Ocidentais constituída pelos Centros de Saúde das Lajes das Flores, de Santa Cruz das Flores e do Corvo.
 Desenganem-se aqueles que pensam que com isso iriam perder votos. Só ganhariam credibilidade, principalmente perante os corvinos, que estão fartos da excessiva discriminação positiva com que são tratados.
Mas quando tudo indicava que as notícias vindas do Corvo dominariam os comentários da semana, as audições do ex-ministro do Planeamento, Nelson Sousa e do presidente da Estrutura de Missão “Recuperar Portugal”, Fernando Alfaiate, perante a comissão de inquérito da Assembleia Legislativa da Região sobre o processo das Agendas Mobilizadoras, revelaram algumas contradições com aquilo que foi dito pelo Presidente do Governo Regional quando afirmou repetidamente que os empresários açorianos não perderiam um único cêntimo dos 117 milhões das Agendas Mobilizadoras.
O ex-ministro Nelson Sousa veio agora esclarecer que não vai haver novo concurso para as Agendas Mobilizadoras, embora os empresários açorianos mantenham o acesso aos 117 milhões de euros se conseguirem captar essas verbas em concorrência a nível nacional. Mas também alertou que dificilmente se iria repetir novo concurso nacional das agendas mobilizadoras porque a procura superou as disponibilidades.
Fernando Alfaiate, presidente da estrutura que faz a gestão do Plano de Recuperação e Resiliência, também rejeitou a possibilidade das candidaturas às Agendas Mobilizadoras serem reabertas e fez questão de salientar que nunca houve um montante reservado para os Açores nas Agendas Mobilizadoras.
Enquanto isso, sobre o acesso a fundos do PRR para projectos de interesse dos municípios, nomeadamente habitação social, continua o silêncio absoluto. Na última reunião entre o presidente da Associação de Municípios dos Açores com o presidente do Governo Regional o assunto, que é uma das prioridades da Associação de Municípios, não foi abordado nem questionado pela comunicação social.

* Jornalista
A autora escreve segundo a anterior ortografia 

Teresa Nóbrega*

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