Diário dos Açores

O facto, o número e o nome

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Olhar do Sul

O facto...
O cibercrime num clique…

Basta recuarmos vinte anos para perceber o quanto evoluiu a nossa forma de ver, de sentir e, sobretudo, de estar no mundo neste período.
No início do século XXI os telemóveis não eram “smartphones”, servindo apenas para o verdadeiramente essencial: efetuar e receber chamadas, enviar e receber mensagens escritas.
A internet dava os primeiros passos, e a dependência pessoal, social, empresarial que dela havia era ainda residual, se comparada com o que atualmente sucede.
Em vinte anos, há um verdadeiro “big brother” que nos segue, que identifica os nossos passos, as nossas transações, as nossas preferências mundanas, o nosso ritmo de vida.
Assustador, no mínimo. E muito mais alarmante quando se tem a certeza de que esse “big brother” assume diversas faces, algumas obscuras, ilegais, perigosas, criminosas.
A criminalidade informática não se resume aos “hackers” de dimensão estratosférica, que bloqueiam e influenciam dinâmicas digitais de grandes organizações ou estruturas políticas e empresariais.
Há outra criminalidade que, à socapa e disfarçada, nos entra em casa todos os dias sob a forma de chantagem, extorsão ou pressão psicológica, se não estivermos particularmente atentos.
Mais do que uma prosa de opinião, este “Olhar do Sul” (hoje verdadeiramente no sul do mundo, escrito na Golden Mile de Durban a olhar o impressionante tráfego de cargueiros de grandes dimensões no horizonte, atravessando o oceano Índico para dobrar o cabo da Boa Esperança…) pretende ser um alerta a todos os que - e será certamente a esmagadora maioria dos leitores - fazem da tecnologia digital uma parceira de todos os dias e em todas as dimensões da sua vida.
“Links” de amigos “virtuais”? Desafios como “Olha o que eu descobri…”? Aceitação de ligações estranhas? A resposta terá de ser um rotundo “não”!
A apropriação indevida de dados pessoais, a capacidade de penetrar nos equipamentos para subtração de fotos e textos, a habilidade para editar com mestria conversas e de criar situações potencialmente embaraçosas é o dia-a-dia de um amplo punhado de criminosos, apenas à espera da primeira oportunidade. E, mesmo não a tendo de mão beijada, tudo fazem para a criar.
A cibersegurança é uma preocupação social e tecnológica tão global quanto a gravidade das ameaças que todos os dias nos surgem.
Estar redobradamente de sobreaviso, identificar e reportar às autoridades, colaborar na desmontagem e na feroz perseguição a estes bandos de energúmenos escondidos pela cobardia de anonimatos e perfis falsos é uma obrigação de todos, permanente e reforçada.

O número
20 (Timor Lorosae)

Parece que foi ontem, mas passaram já vinte anos sobre a independência de Timor Lorosae.
Recordo com a impressionante nitidez das imagens e situações que mais nos marcam, o frenesim da manhã informativa da Antena 1 (em cuja equipa, superiormente dirigida pelo Francisco Sena Santos, estava integrado) quando chegaram notícias do massacre no cemitério de Santa Cruz, em Dili.
Mas também a aventura do “Lusitânia Expresso”, o barco que, apesar de não se ter conseguido aproximar do porto da capital timorense, cumpriu em pleno a sua missão de alerta e de consciencialização da comunidade internacional para o jugo em que se encontrava a população da parte oriental da ilha de 480 quilómetros de comprimento, situada entre o sudeste asiático e a costa noroeste da Austrália.
Porém, também Timor Lorosae cresceu com a independência. Com todo o processo que a espoletou, organizou e implementou, e com os desafios decorrentes da autodeterminação de um povo e da sua plena integração na comunidade das nações.
20 anos é apenas uma pequena gota na história que o povo timorense está a escrever. Com a necessidade de definição total dos diversos estádios de um regime democrático e participativo, com um esperançado olhar para as relações regionais numa zona do globo que não é fácil, e para a construção de um pilar inquebrável da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. O pilar mais oriental, mas totalmente seguro e estrategicamente fundamental.
Não deixa igualmente de ser motivo de orgulho para todos os que amam os Açores o facto de estes 20 anos sobre a independência de Timor Lorosae serem comemorados com uma Embaixadora de Portugal em Dili (Manuela Bairos), natural da cidade da Horta.

O nome
Mário Silva

O mais difícil, no futebol, talvez não seja alcançar posições de algum destaque. Será mesmo mantê-las e dotá-las de suficiente “músculo” estrutural e organizativo para que deixem de ser fruto de um momento, passando a ser representativas de uma era.
O Santa Clara conseguiu, num primeiro plano, chegar longe na liga portuguesa e trabalhar para a presença de pleno direito na edição inaugural de uma competição europeia.
As mudanças de treinador, sabemos bem, fazem e continuarão a fazer parte do quotidiano dos clubes, independentemente do seu grau de exigência profissional ou dos patamares competitivos em que se encontrem.
Porém, no caso do Santa Clara de 2021/2022, a garantia de que Mário Silva prosseguirá para a próxima época desportiva é, mais ainda do que um justíssimo reconhecimento da qualidade do trabalho efetuado, a reposição do bom senso que, a dado passo, parecia ter faltado ao Conselho de Administração da SAD “encarnada” de Ponta Delgada.
Aí está a 18ª lei do futebol, a tal cuja aplicação não se recomenda apenas aos árbitros no exercício das suas funções. É aconselhável a todos os intervenientes no processo, sobretudo aos dirigentes com responsabilidades.
A “lei do bom senso” não se aprende nas licenciaturas, mestrados ou doutoramentos, nas pós-graduações ou nos cursos de formação. Desenvolve-se e aprimora-se todos os dias da nossa vida, e demonstra-se quando menos pensamos e mais nos surpreendemos.

(*) Jornalista e Apresentador de Televisão
Durban, 20 de maio de 2022

Rui Almeida (*)

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