Diário dos Açores

José Enes e Gustavo de Fraga: Pastores da Verdade na Luz do Ser (II)

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(Conclusão)
    Este é o segundo artigo sobre o Livro José Enes e Gustavo de Fraga. Pastores da Verdade na Luz do Ser (dezembro de 2019, Lisboa: Edições MIL, Movimento Internacional Lusófono).
Sinto que há muito, ainda, e sempre, a explorar e tematizar na Obra e Pensamento do Professor José Enes e do Professor Gustavo de Fraga, até porque essas novas leituras, que pressupõem novos ângulos de visão, em coerência essencial e dinamismo, suscitam novas interpelações a partir dos sujeitos-investigadores, sem nenhuma redução objetivista, coisa diferente são as subjetividades e a (re)construção, objetiva, do conhecimento dessas duas Grandes Figuras, que se revelam e escondem entre a proximidade e distância. Em qualquer circunstância, o conhecimento pessoal que temos de ambos permite abordagens que sendo pessoais reforçam a objetividade, no tempo que foi, no tempo que é, no tempo que será.
Ninguém nos tira este privilégio de nos consideramos discípulos do Professor José Enes e do Professor Gustavo de Fraga. O fundamental que aprendi sobre o que é – e deve ser – uma Universidade permanece válido, com vitalidade e com dimensões prospetivas de futuro muito fecundas. Nada – nem ninguém – substitui a Convivência que tivemos com os Grandes Universitários.
O Professor José Enes e o Professor Gustavo de Fraga fundaram uma Escola Universitária, Para Sempre. É uma força e uma inspiração que só sente quem privou de perto com estes vultos maiores da Universidade, na sua Magistral Universalidade. Aqui fica a minha Homenagem e agradecimento. Talvez no futuro possamos escrever novas aportações e incursões na Obra e Pensamento de Gustavo de Fraga. Há sempre uma novidade que desponta e desperta, na força semântica das palavras e do SER, em luz de conhecer, esse desejo que faz renascer. O Professor José Enes e o Professor Gustavo de Fraga foram pilares decisivos para e na fundação de uma Instituição de elevado prestígio que é a Universidade dos Açores, e muito contribuíram, como outros, para imprimir, com invulgar sentido de Missão, elevados níveis de qualidade e padrões de excelência, para o Bem Comum, pelos Açores, em universalidade. Todos os textos aqui reunidos, da minha autoria, não seguiram, necessariamente um critério cronológico, de ordem de publicação. Por um lado, na organização do livro, o cronos – a cronologia – é um critério muito importante para elucidar muitos aspetos mas, simultaneamente, são muito importantes os temas e as questões que são postas à evidência, que não são datados, são sempre atuais, atualizáveis e atuantes. Por isso é um livro de síntese, num movimento que interpela o passado, o presente e o futuro, nas pessoas que estes dois Professores foram e no Património vivo, que nos legaram, a todos. Acima de tudo, não é o cronos que prevalece, mas o tempo e o logos, é a Razão que abraça o Coração. Procurei dar relevo ao Sentido do que é escrito, com base no meu conhecimento, pessoal e académico, que tenho, do Professor Doutor José Enes e do Professor Doutor Gustavo de Fraga, - com quem convivi muito de perto - bem como na tarefa e no gosto, sempre em recomeço, de estudar as suas obras e refletir sobre os seus pensamentos. Em 2013/2014 senti, como nunca, um Apelo para dar testemunho, público, em sentido de Projeto, destes dois professores excecionais, geniais, que tive o privilégio de ter mas procurei, já na altura em que era aluno, estudante, estar atento, à escuta, participar nas aulas.
O título e tema deste livro foi também formulado no sentido do Cuidado e do Cuidador. Diz o Provérbio “Quem tem cuidados não dorme”. O Professor José Enes e o Professor Gustavo de Fraga foram verdadeiros Educadores, Professores e Filósofos e, por isso Cuidadores Genuínos, em Vigilância e Vigia, em sentido filosófico, em sentido pleno, de Guarda, de que a Sociedade e as Instituições tanto carecem, mas é preciso sê-lo e sabê-lo, em Ser e Luz. Também nessa forte dimensão assume pleno Sentido a enunciaçãodo livro: José Enes e Gustavo de Fraga. Pastores da Verdade na Luz do Ser, em empenho pessoal e em comunidade, para que todos fossem – sejam-, no seu Direito Original de Ser, na Dádiva da Dignidade que só o Criador nos oferece e confere. No Cuidado de si, descobrimos, em diálogo, o Cuidado com e pelo Outro, o meu próximo, o nosso próximo, o meu irmão, em Humanidade vivida, que me interpela e me chama. Esse clamor, esse grito, é sempre outra forma, maior, de um sinal, inequívoco, da solidariedade e da caridade em que a linguagem se mostra na sua equivocidade e transparência. E ao percebermos a natureza da linguagem somos mais tolerantes e respeitadores, connosco e com os outros, porque indagamos o sentido nas dinâmicas do Ser e do dizer. Procuramos escutar as razões e os porquês, mas isso leva tempo, porque é um tempo e um modo de procurar respostas, sempre provisórias, mas num fundamento seguro. Uma procura com paciência, com sapiência, em ciência, no horizonte da Sabedoria, que todos queremos descobrir enquanto é tempo, mas “é preciso dar tempo ao tempo”, não ter pressa. Uma Descoberta, que nos move e encanta, que é partilha e é nossa, no nosso segredo, límpido, de ser. Afinal, a verdade irá desvelar-se e descocultar-se como a aurora que mostra a luz para que tudo se revele. Por isso é tão forte aquela exortação bíblica, em sentido laico e religioso: “Nada há encoberto que não venha a descobrir-se nem oculto que não venha a conhecer-se. Por isso, tudo quanto tiverdes dito nas trevas ouvir-se-á em plena luz, e o que tiverdes dito ao ouvido, em lugares retirados, será proclamado nos telhados” (Lc, 12, 2-3). O próprio Cristo o diz, emexortação: “Não os temais, portanto, pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem oculto que não venha a ser conhecido. O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia; e o que escutais ao ouvido, proclamai-o sobre os terraços” (Mt, 10, 26-27). A mentira e o ocultismo são perversos, em cada pessoa, nas instituições, nas comunidades, onde quer que haja um ser humano. Coisa diferente é o segredo que conserva e preserva, em bem e para o bem.
Uma Descoberta, que nos move e encanta, que é partilha e é nossa, no nosso segredo, límpido, de ser. Afinal, a verdade irá desvelar-se e descocultar-se como a aurora que mostra a luz para que tudo se revele. Por isso é tão forte aquela exortação bíblica, em sentido laico e religioso: “Nada há encoberto que não venha a descobrir-se nem oculto que não venha a conhecer-se. Por isso, tudo quanto tiverdes dito nas trevas ouvir-se-á em plena luz, e o que tiverdes dito ao ouvido, em lugares retirados, será proclamado nos telhados” (Lc, 12, 2-3). O próprio Cristo o diz, emexortação: “Não os temais, portanto, pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem oculto que não venha a ser conhecido. O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia; e o que escutais ao ouvido, proclamai-o sobre os terraços” (Mt, 10, 26-27). A mentira e o ocultismo são perversos, em cada pessoa, nas instituições, nas comunidades, onde quer que haja um ser humano. Coisa diferente é o segredo que conserva e preserva, em bem e para o bem.
O Direito Romano e o Direito Canónico conservam o sentido primordial da verdade no sentido de se apurar a verdade. Falam os Provérbios: “A verdade é filha de Deus”; “A verdade e o azeite andam à tona de água”; “a verdade é nua e crua”; “a verdade sai da boca das crianças”; “A verdade sempre aparece”; “a verdade tem asas”; “a verdade vence”. Como não buscar a verdade, até por razões acrescidas, quando a Sociedade até dá provasde sede e fome de verdade? Como chegámos a esse ambiente envenenado de “notícias falsas” e aos chamados “factos alternativos”, de maledicência, que só provoca danos entre as pessoas, realidade contra a qual o Papa Francisco tanto se tem indignado, em justiça e com fortes razões? Os Provérbios guardam uma Sabedoria profunda, com forte valor educacional e filosófico, que urge potenciar em todas as dimensões da educação humana, contra o seu oposto: “A mentira corre, mas a verdade apanha-a”; “A mentira só dura enquanto a verdade não chega”. Por isso, com a luz, a luz mostra-se e dá a ver a mentira, que não tem para onde fugir, e a verdade, que triunfa e vence. Essa é a força da melhor tradição humanista e filosófica, que tem fundamentos teológicos. O eclipse da verdade pode provocar danos irreparáveis nas pessoas, nas instituições e nas comunidades como estamos a verificar, desde a escala mais próxima à globalidade do Mundo. E tudo isso tem de ser questionado, como condição de superação. É porque há fundamentoque as coisas vêm ao de cima ou, pelo contrário, podem ir ao fundo, mas em afundamento, qual titanic. Daí a necessidade dos grandes Professores, de Visão, que nos abrem os caminhos, em vida, e, depois, através das suas obras, ou de testemunhos, orais e escritos. É tempo de saber escutar, de saber investigar, detetar os vestígios da presença, que nos suscitam sinais e nos fazem pensar, meditar, em verdade, sempre, como linha para onde tendemos. Mas a verdade é docilidade, solicitude e convivialidade sincera. A sinceridade é abertura, mas não pode tornar-se captura. Esse é o problema, grave, das redes sociais, da metáfora da rede vemos o perigo do enredo, que a verdade desmonta, nó a nó, até à claridade do ver. Só o laço da amizade enlaça em verdade. Mas em corresponsabilidade “ontoética”- termo de José Enes –; somos e relacionamo-nos na verdade do Ser, nessa relação tem de haver compromisso e integridade, que é uma exigência, inadiável, em todos os setores da formação humana, desde logo na formação de Educadores/as e Professores/as. Mas tem de haver muito cuidado, em autonomia, e heteronomia, com a Formação. Por isso, também, “quem tem telhados de vidro não pode atirar pedradas”. Afinal, a transparência exige paciência de ver o outro lado, invisível, ainda por nascer, expectante, ainda por se revelar. E nessa maravilha é possível mais e melhores pessoas, mais e melhor sociedade, mais e melhores estudos, também escutando, lendo e interpretando, em revisitação, aqueles que dedicaram as suas vidas a causas e ideais. E as ideias só nascem desse compromisso com a verdade que nasce e faz nascer em ser e conhecer.
Há sempre sementes e raízes que são semeadas e fecundam. Foi isso que senti e sinto. É, também, um imperativo de transmissão no que, modestamente, me for possível, dar a conhecer dimensões das Figuras, da Ação, da Obra e Pensamento do Professor José Enes e do Professor Gustavo de Fraga. E o possível, em Ontologia e Fenomenologia, é já, já está na Ordem do Ser e num Horizonte de Realização.

* Doutorado e Agregado em Educação e na Especialidade de Filosofia
da Educação

Emanuel Oliveira Medeiros
Professor Universitário*

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