Nações unidas em bom português para bons negócios
Diário dos Açores

Nações unidas em bom português para bons negócios

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À espera dos Açores nas próximas edições

A FIN Business Forum 2022 reuniu países da coletividade lusófona pela cooperação em busca da inovação e de melhores oportunidades comerciais.
Realizado no estado brasileiro de Santa Catarina, o encontro contou com representantes da Europa, África e Ásia, Brasil e Reino Unido. Suécia, Suíça, Noruega, Finlândia e Luxemburgo cancelaram sua participação em virtude da guerra na Ucrânia.
Os Açores são aguardados para as próximas edições por sua importância em termos de economia azul, energias limpas e agronegócio.
A iniciativa faz parte do projeto “3 Eventos, 3 Continentes em Português” capitaneada pela AJEPC – Associação dos Jovens Empreendedores Portugal-China, com próximas edições previstas para o Porto, em junho, e Macau, em outubro.  
Segundo o presidente da entidade, Alberto Carvalho Neto, “a FIN nasceu em 2015 para promover os negócios entre os países lusófonos e permitir que conseguisse se criar uma rotatividade entre os eventos, para que o meio empresarial fosse se conhecendo, dando sempre mais valia ao empreendedorismo no nosso idioma, ao empreendedorismo jovem e meio ambiente.
Também contribui para a diplomacia económica, política e simplificação na dinâmica de reciprocidade entre os países”.  

Com os Açores na mira

Sobre os Açores, Carvalho Neto declarou que “é um território extremamente importante, pela sua história, pela sua dimensão e pelo seu posicionamento estratégico, com fortes ligações com Santa Catarina.
Um dos eventos que queremos fazer no futuro, será um fórum mais pequeno, mais dinâmico, ligado ao mar, nos Açores.
A língua portuguesa é a mais falada no Hemisfério Sul. São 260 milhões de pessoas unidas sob o mesmo idioma e, apesar dos números, a exploração desta vantagem competitiva ainda não é realidade.
Essa foi a tónica da FIN, como palco para compartilhamento do que cada continente tem a oferecer, nos seus diferentes momentos.
Em comum, as falas refletiram a preocupação com a sustentabilidade ambiental, económica e social e o desenvolvimento da chamada economia criativa nos seus principais eixos, energias limpas, cidades inteligentes, agrotech e indústria 4.0.
A abertura dos trabalhos contou com palestra magna “Inovação e Desenvolvimento Económico: as perspectivas pós-pandemia”, pela Consultora do Banco Mundial, Maria Inês Garcia Lippe.
A especialista apresentou os projetos desenvolvidos atualmente no Brasil e como são feitas as ligações entre autoridades e gestores locais e a identificação das realidades específicas.
Segundo Lippe “a pandemia nos pegou de surpresa e afetou muitos modelos de negócios que precisaram de socorro, tanto pela diminuição como pelo aumento de demandas, por exemplo, como no caso dos transportes.
A flexibilidade e a inovação são as coisas mais importantes. E sem os jovens isso não é possível”.
Na visão da consultora “existe um otimismo enorme e a cautela está mais restrita à governança.
Ninguém segura esse desenvolvimento, essa inovação a partir das novas tecnologias, aplicativos que trouxeram soluções mais adequadas a todos os setores”.

Maior envolvimento
com as questões públicas

Cada vez mais, a atuação comercial com propósito é um clamor nas sociedades dos novos tempos.
A pesquisada consultoria Delloite Global, “Millennial and Gen Z Survey 2021”, revela que o mundo está num ponto de inflecção.
Na opinião de mais de 25 mil indivíduos das gerações “Milênio” e “Z”, nascidos respectivamente entre 1983 a 1994 e 1995 a 2003, é preciso maior envolvimento com as questões públicas, alinhamento de gastos e escolha de carreiras que reflitam seus valores e gerem mudanças sociais,
Na direção desta nova consciência nas relações de consumo, trabalho e economia, a África destacou-se no evento como sendo a próxima fronteira no desenvolvimento mundial, onde tudo ainda pode ser reimaginado de forma mais inovadora e regenerativa.
No conceito de cidades inteligentes, o Desenvolvedor de Negócios da agência de investimentos Modus Global de Moçambique, Henrique Bettencourt, apresentou o protótipo de um projecto urbanístico ambicioso, a “UXENE”. Em idioma local significa “bom dia, o despertar de um sonho”.
Trata-se de uma cidade inteligente que será construída do zero, numa área de 565 hectares, nas imediações de Maputo.

Planear smart cities
em zonas com carências
de infraestruturas básica
 
Segundo Bettencourt, “a UXENE vem oferecer uma nova oferta estruturada de moradia com qualidade de vida, com estrutura pensada no futuro, nos sistemas construtivos, no uso do solo, nos tipos de materiais, no estilo de vida, em uma malha viária que faça sentido, com alto índice verde e, sobretudo, uma forma acessível de manter tudo isso”.
Sobre a real necessidade de se planear smart cities em países que ainda carecem de infraestruturas básicas de saneamento, água, eletricidade etc, Bettencourt afirmou que “em termos de desenvolvimento, há de se pensar de uma forma futurista.
 Não se pode parar de inovar, para resolver os problemas atuais. Algumas destas inovações poderão resolver os problemas presentes com melhor custo-efectivo, com a reutilização da água, energias limpas, controle ambiental etc”.
Sobre “a África que queremos para o futuro”, nas palavras do presidente da Câmara do Comércio Afro-Brasileira, Rui Mucajé, o bloco lusófono ainda precisa conhecer o continente africano para além das notícias ruins que chegam todos os dias e apreciar uma nação que está evoluindo.
Ao citar Nelson Mandela como inspiração para a obviedade do investimento na região, Mucajé evidenciou o jeito de ser africano, que vislumbra as melhores práticas mundiais sem abrir mão de sua cultura local.

Mais e melhores negócios
em bom português

Ainda sob o conceito de “unidos, venceremos”, chamou a atenção a articulação conjunta das Câmaras do Comércio de vários estados brasileiros em torno do objetivo comum de fomentar mais e melhores negócios em bom português.
O Presidente da Federação das Câmaras Portuguesas no Brasil, Armando Abreu, reconheceu a importância da iniciativa ao dizer que “apesar da força do virtual, os eventos presenciais ainda são a mola propulsora de muitos negócios”.
Já o Vice-Presidente da Câmara do Comércio Brasil-Portugal de Santa Catarina, Rafael Benck, afirmou que “foi de muita coragem realizar a FIN e a prosperidade do bloco depende da atuação em rede e no Brasil não será alavancada de forma isolada.
A assessoria de nossas câmaras locais vai facilitar o atingimento da maturidade necessária para a internacionalização das empresas que pensam em se lançar a Portugal”.
Complementando a pauta tradicional em comércio exterior, a cimeira ofereceu atividades paralelas dirigidas aos jovens exportadores e empreendedores, com apoio do Instituto Jovem Exportador - IJEX e da AJEPC. Há 10 anos, a Directora Executivada entidade, Carolina Guedes, participa da dinâmica de criar as ligações e alargar a rede de contactos entre Portugal e China, especialmente com Macau, por suas ligações históricas e facilidade da língua.
Segundo Guedes, “os chineses conhecem o potencial dos países de língua portuguesa e querem ser os primeiros a explorar estas oportunidades, porque têm uma visão bastante voltada ao futuro e não para o momento”.
E para isso, Guedes ressalta que “acredita profundamente que os jovens são os empresários do futuro. É muito importante criar uma ligação com eles desde cedo”.  

Um desafio
em 48 horas

Para contemplar essa premissa, a FIN lançou um desafio em busca da melhor solução em comércio exterior.
A competição seguiu a metodologia conhecida no mercado como TXM (do inglês, Think, X=Experience and Manage) ou “pensar, experienciar e gerir”.
De maneira simplificada, é um modo em que os negócios e o seu mercado são desenvolvidos simultaneamente.
A equipa Multiação foi a vencedora e apresentou a melhor ideia, sugerindo uma plataforma digital para agilizar o fluxo da documentação nos trâmites da importação e exportação.
Por meio da tecnologia conhecida como blockchain, as validações e informações que hoje tomam muito tempo, até meses, passariam a ser rastreadas globalmente em segundos.
Além da visibilidade e do prémio de mentoria, o grupo recebeu um incentivo de 1.500 Euros, patrocinado pela VIBE Tecnologia.

Viagem aos Açores

O caminho de volta às Américas foi feito pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal – AICEP, que, segundo seu presidente Francisco Costa, “oferecerá toda a sua expertise para promover a captação de investimentos, fomento da imagem global de Portugal e internacionalização das empresas portuguesas”.
Considerada um marco zero e corajoso neste momento atual de indefinições, recessão e retomada económica, o evento “cumpriu o seu papel de plantar sementes, aproximar nações e superou as expectativas em aproximação de negócios”, concluiu Jatyr Ranzolin, presidente da Câmara do Comércio Brasil-Portugal, responsável pelo FIN no Brasil, que em breve visitará os Açores para conversações sobre o ingresso do arquipélago na empreitada.
A FIN Business Forum 2022 reuniu mais de 500 participantes nos dias 11 e 12 de maio, no Centro de Convenções Governador Luiz Henrique da Silveira, em Florianópolis.

Exclusivo para Diário dos Açores.
Fotos de Marisa Furtado

Marisa Furtado, no Brasil(*)

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