Diário dos Açores

O caso Salgado

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Escrevo, há várias décadas, artigos de opinião na comunicação social. Nos últimos meses deixei de escrever. Fiquei sem tempo. Deixei-me esmagar com todo o género de solicitações e um trabalho burocrático imenso. Tento acudir a tudo e resolver problemas em todo o lado, de Santa Maria às Flores. Erro meu.
Ao longo deste período percebi outra coisa. Os artigos de opinião são o único instrumento que tenho para exercer um mínimo de contraditório a histórias mal contadas ou, propositadamente, manipuladas.
Regresso, pois, a este velho prazer: escrever artigos de opinião de forma regular. Faço-o, novamente, nas páginas do prestigiado “Diário dos Açores”, que foi o primeiro jornal de São Miguel no qual escrevi de forma periódica.
O artigo de hoje volta ao requentado assunto do Dr. Salgado. Sei que a oposição tenta manter o assunto, de forma desesperada, na agenda política. Em princípio não tenho nenhuma vantagem política em fazer o que os outros querem que eu faça. Mas, mesmo assim, volto ao assunto. Quem não deve não teme. E eu não devo nem temo.
O assunto tem sido alvo de uma manipulação constante. O PS/Açores montou uma espécie de central xenófoba de calúnias, que dissemina depois pelas redes sociais através de dezenas de “avatares” e de acólitos exaltados e desesperados por voltar ao poder.
Perca-se aqui um pouco mais de tempo. O cargo de presidente do conselho de administração das unidades de saúde é um cargo de nomeação política. Não resulta de qualquer concurso. Os governos regionais nomeiam, livremente, as personalidades que consideram que possuem condições necessárias para exercer essas funções com êxito.
Ao longo das últimas duas décadas, os governos regionais do PS nomearam dezenas de médicos e outros gestores com ligações partidárias ao PS/Açores. Alguma vez isso foi problema? Veja-se que, no caso em apreço, o médico em questão já tinha organizado uma manifestação, em junho de 2020, para pressionar o então Governo Regional do PS exatamente com o mesmo objetivo que persegue na atual situação: quer ser Presidente do Conselho de Administração da Unidade de Saúde da Ilha do Corvo.
Ou seja, instrumentalizou o povo do Corvo para alcançar um status e uma remuneração exorbitante (cerca de 12 mil euros mensais), que só o beneficiam a ele. Não existe qualquer interesse coletivo na reivindicação em causa. Não existe qualquer romantismo ou idealismo nesta questão. Tudo se resume ao vil dinheiro.
Tenha-se em conta, no entanto, que apesar das pressões do médico em causa, o Governo Regional do PS não o nomeou, no longo período que medeia entre março de 2020 (data da petição organizada pelo médico) e novembro de 2020 (data em que o PS/Açores perdeu o poder), para o cargo pretendido. Tudo isto apesar de Vasco Cordeiro ter sido confrontado, no dia 3 de junho de 2020, com uma manifestação organizada pelo mesmíssimo Dr. Salgado.
Porquê? Que dados possuía o Governo Regional de Vasco Cordeiro que não aconselhavam a nomeação do dito médico? Veja-se que, no momento em que a coligação assume o poder, o Conselho de Administração da Unidade de Saúde da Ilha do Corvo funcionava, de forma irregular, apenas com um vogal, isto apesar do médico Salgado já lá exercer funções.
Pois a RTP Açores, num ato seletivo de amnésia, esquece tudo isto e coloca, na sua alocução, o Dr. Salgado como Presidente do Conselho de Administração logo em agosto de 2020. Faz diferença? Claro que faz! O espetador fica com a ideia de que o Dr. Salgado foi nomeado pelo Governo PS, algo que é, manifestamente, falso. O espetador fica também sem saber que o Dr. Salgado é reincidente neste género de encenações. O número de manifestantes da ilha transmitido pela RTP Açores também é falso: a peça incrementa o seu número em cerca de 40%.
Registei mais meia dúzia de imprecisões, que ficam para outra oportunidade. Dou apenas mais um exemplo. A RDP Açores noticiou, no passado domingo, que o Dr. Salgado foi exonerado do cargo de Diretor Clínico. A RDP Açores perguntou ao médico em questão se o mesmo sente que foi alvo de mais uma perseguição política. O Dr. Salgado responde, de forma doce e evasiva, que não. Por que razão o fez?
A resposta está num dos considerandos do despacho de exoneração: “considerando que a posição do Assistente Graduado de Medicina Geral e Familiar António José Salgado Almeida de não permitir que o Assistente Graduado em Medicina Geral e Familiar Paulo Jorge de Azevedo Faim Margato exerça atividade clínica na Unidade de Saúde da Ilha do Corvo se sustenta no entendimento jurídico que lhe foi comunicado”.
Mas o jornalista esqueceu-se, convenientemente, de fazer a referência a esse considerando do Despacho. O Dr. Salgado queria impedir o seu colega de exercer medicina, de forma a preservar a totalidade das prevenções e os benditos 12 mil euros.
E pronto. É isto.             

Paulo Estêvão *

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