Diário dos Açores

A acção do Divino é Espírito que dá a vida

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O Veni Creator Spiritus

A presença do Espírito Santo na história da salvação, é manifestamente assinalada na criação, nos Profetas, em Jesus Cristo, na Igreja.

Ao despontar do claro dia em cada manhã, é salutar invocar o Divino Paráclito,orando:
Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis, e acendei neles, o fogo do vosso amor, e renovai a face da terra que cria e floresce todas as coisas.
É um sinal novo no começo do dia, saber agradecer a Deus a permissão de um tempo novo em nossas casas e famílias.
Ele, criador  e renovador de todas as coisas, é o claro tempo e sol da vida, e o seu Santo Espírito de existência, é tão antigo como a construção sólida da sua Igreja, feita e conduzida por homens livres, os discípulos, chamados ao compromisso da evangelização na travessia  do mundo e dos tempos.
Os útimos três anos que o Papa João paulo II, reservou como tempo de preparação imediata do Grande jubileu do ano 2000, foi como se sabe, dedicado a realçar na Igreja o culto da terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
Em  finais do século passado (1997),  o Papa João Paulo II no seu pontificado, centrou a sua mensagem de vida, comprometida  em Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, que habita a construção do templo edificado em rocha firme;
Em (1998), reflecte em espaço de plena luz, a presença e acção do Espírito na comunidade dos discípulos de Cristo, o Espírito que torna Cristo permanentemente actual, no hoje da Igreja;
Em (1999), conduziu a Igreja a um novo alento à intimidade do Pai, alargando nossos horizontes humanos na perspectiva de Cristo, em direcção ao Pai, o Qual, nos enviou Seu Filho Unigénito, e para o Qual, o Filho envolvendo n’Ele a humanidade;
Na viragem do milénio, ano Jubilar de (2000), animou na Igreja o culto da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, dogma cristã, que proclama a união de três pessoas distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, formando um só Deus, que sua explicitação ocasionou longas e árduas discussões na Igreja primitiva, por ser o mistério fundamental do cristianismo.
Na verdade, o Espírito Santo, actualiza na igreja de todos os tempos e lugares, a única Revelação trazida por Cristo aos homens, tornando-a viva e eficaz no coração de cada um, obra Redentora, que em Cristo se consumou só por obra do Espírito Santo, a emergir da memória da Igreja com acção do Divino Parálito.
O Consolador Divino, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-à todas as coisas e recordar-vos-à tudo o que vos tenho dito, pois aquilo, que desde a encarnação do Verbo se realizou por intervenção do Espírito Santo, continua sempre por sua intervenção a realizar-se.
A Igreja, nos tempos de hoje, não pode envolver-se apenas como instituição resvestida, mas abrir-se à sua interioridade, porque tem uma alma, e essa alma, é o Espírito Santo, que, sem embargo das fraquezas e limitações dos que a constituem.
A Igreja, é sempre santa e nunca envelhece, mais do que sociedade de homens, é templo de Deus, habitação do Espírito Santo, por ser um princípio activo, operando no mundo, executando a vontade de Deus.
 O Espírito, é Deus quem o dá (Salmo,104, 19-30; Nm 11,29; Is 42,1.5). O Espírito movia, no princípio, sobre a massa caótica do universo, e está presente em toda a parte, (Gn1,2; Salmo 139,7), por ser  imanente na energia que move os mundos (Is 59,19), com a faculdade de produzir efeitos sobrenaturais, inspirando os profetas, porque o Espírito Santo actua no coração de cada um dos  dos filhos de Deus.
Foi profetizado que a sua obra seria especialmente manifestada no período messiánico, quando o Espírito seria derramado sobre o povo de Deus (Is.44,3); dando-lhe um novo coração, porque Jesus é promessa, que à sua partida prometeu que, viria o Espírito a habitar em cada um dos seus discípulos, para fortalecê-los, guiá-los, instruí-los e habitar a Igreja a dar testemunho de Cristo e a glorificá-Lo, convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo, porque Ele habita na Igreja e nos corações dos fiéis como num templo.
Sobre o mistério que celebramos, é importante perceber e entender a festividade da palavra pronunciada de Pentecostes.
É relevante aprofundar com simplicidade de espírito o que unifica na comunhão o mistério dos diversos dons hierárquicos e carismáticos, para adorná-los com seus frutos, tornando rejuvenescida a Igreja que reune o povo na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo”
 (Lumen Gentium 4, pág 60). O Espírito santificador e vivificador da Igreja, cita: Consumada a obra que o Pai confiou ao Filho,para Ele cumprir na terra (cfr.Jo,17,4), foi enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes, para que santificasse contínuamente a Igreja, e deste modo os fiéis tivessem acesso ao Pai, por Cristo, num só
Espírito). II Concílio Ecuménico, Docts Conciliares e Pontifícios
No anúncio do Tempo, O Pentecostes (50 dias após a Pascoa).
A palavra Pentecostes, é a festa agrária da Colheita, (Ex.23.16)ou festa das Primícias de trigo, (Ex.34.22),mas o apelativo mais comum, é o de “ Festa das Semanas pascais”, que se vincula ao facto de ser celebrada sete semanas depois da ceifa das primeiras espigas, que reflete o sentimento de agradecer a Deus a colheita dos frutos da terra.
Segundo os actos dos Apóstolos (2.5), os peregrinos afluiram a Jerusalém e presenciaram os acontecimentos da manifestação do Espírito na Igreja nascente,”quando se completaram os dias de Pentecostes”, considerada festa da aliança cristã do Pentecostes, por  ter um significado distinto: a efusão do Espírito Santo.
O Pentecostes, é a renovada promessa de Cristo aos Apóstolos, quando disse:
Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.
As imagens iconográficas, e as palavras que nossos lábios pronunciam, experimentam dificuldade de representar o Espírito Santo. Falar d’Ele, é preciso aceitar o Seu indizível, o Seu corpo inexprimível, inspirador, secreto, pulsante, activo no seu modo viandante porque “ o vento sopra,não se sabe de onde vem e para onde vai” (Jo, 3.8). É o Mistério dentro do próprio Mistério de Deus.
Deus-Pai, pode de certa maneira, ser figurado. Deus-Filho, nós O vimos com os nossos olhos e nossas mãos O tocaram, mas o Espírito Santo, é sem rosto. (Jo,1.1)
O Espírito Santo, é princípio de vida interior, capaz de protagonizar no homem a transformação ética das atitudes, não por determinismo exterior, mas porque toca a verdade do coração como se suplica no (salmo 51,12-13). Ó Senhor, criai em mim um coração puro, e renovai ao meu interior um espírito recto.
“Por razões que o coração conhecerá mais do que a razão, uma das imagens do Espírito Santo que hoje tem maior divulgação, é a Trindade que o monge Andrej Rublev, pintou.
Andrej Rublev, um russo do séc. XV, viveu uma época crítica às invasões dos Tártaros com violentos e intermináveis conflitos internos, a par de terríveis dizimações causadas pela peste e pela fome. Perante o sofrimento intolerável, o monge Rublev, fez um voto de silêncio sobre palavras e imagens, que só quebrou, vinte anos passados, quando aceitou fazer o Ícono da Trindade. (in, Espírito que dá vida, pág.8)”.
Louvor e Glória ao Divino, é anúncio de um mistério de ordem sobrenatural, quando aprendemos e dizemos no acto de nos benzermos com o gesto da cruz em nossas frontes, e assim, sinalizamos a primeira aurora de cada dia, e pronunciamos com os nossos lábios, o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
É difícil perceber e compreender aquilo que, nos tempos de catequese aprendemos, mas os olhos crescidos da nossa fé, são iluminados e clarificados ao longo dos momentos e tempos próprios, quando a infusão dos seus sete dons, e em forma de línguas de fogo, infundem nas criaturas, os sinais do Espírito Santo, que geram na vida dos cristãos as qualidades conhecidas como os “frutos do Espírito”, (Gl,5,22). Amor, Alegria, Paz, Paciência, Benignidade, Bondade, Fidelidade, Mansidão e Autodomínio.
O Louvor e Glória ao Deus Trino, é um hino que Jesus também cantou com os seus discípulos depois da ceia, na noite em que foi traído (Mat.26,30), e deve ser cantado em posição firme, porque os cristãos primitivos cantavam hinos no culto público e privado como meio de adorar a Deus (Act.16,25).
Jesus disse:
 “O Espírito Santo que o Pai há-de enviar em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e recordar-vos-á tudo o que Eu vos disse”: Onde está a Igreja, aí está o Espírito de Deus; Onde está o Espírito de Deus, aí está a Igreja.
O Espírito Santo fica, pois, na Igreja como mestre da Boa Nova que Cristo anunciou.
Aquele “ensinar-vos-á”… e “recordar-vos-á”, significa que Ele garante a continuidade e identidade da mensagem de Cristo. (…)
Por conseguinte, o Espírito Santo faz com que perdure sempre na Igreja a mesma verdade que os Apóstolos ouviram do seu Mestre. João Paulo II.”

Em festa e tempo de Ascensão
Após a Ressurreição de Cristo, e no decorrer das seis Semanas Pascais, Jesus glorioso, em dia da sua Ascensão, revela-se com nova aparição aos Apóstolos para os instruir, e disse-lhes:
Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pregai o Evangelho e a palavra; ensinai todos os povos, baptizando – os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Eu estou convosco até ao fim do mundo e dos tempos, e fazei observar todos os ensinamentos que vos dei.
Com estas palavras, Jesus dava aos Apóstolos, o poder de continuar a Sua missão, e assim estava fundada e consumada a sua Igreja, à qual, todos pertencemos desde o dia do nosso Baptismo, e que devemos honrar professando a fé que os Apóstolos nos deixaram.
Compromisso e confirmação da Promessa.
Dez dias após a Ascensão de Jesus, estando os Apóstolos reunidos no Cenáculo com a Virgem Maria, desceu sobre eles o Espírito Santo em forma de línguas de fogo, e comunicou-lhes todos os seus dons / Carismas, com energia nova e grande amor de Deus.
Os Apóstolos e os seus sucessores receberam o poder de comunicar o Espírito Santo pelo sacramento da Confirmação.  
O Pentecostes, encerra os cinquenta dias durante os quais, a igreja celebra a Páscoa de Cristo.
A sua festividade, é o ponto de chegada e culminar do Tempo Pascal, daí que alguns sinais da Liturgia, sublinham isso mesmo. É um sinal ou fenómeno que pela sua universalidade geográfica e étnica, representa todas as nações e povos num entendimento de linguagens, como que numa relação pessoal e dignificante da pessoa.
O círio pascal, que ao longo de sete semanas, evidenciado no presbitério, é em cortejo de festa, retirado e conduzido para o baptistério, cantando-se liturgicamente a antífona da luz com duplo Aleluia.
Antífona “ A Luz de Cristo, ilumina a terra inteira, aleluia, Aleluia,” (Salmo 95- 96)”.
O primeiro sinal de fé cristã começa na família, que ocasiona no tempo o acto no caminho da cena do baptismo,” porque a todos, foi dado a beber e a conhecer um único espírito, e construir um só corpo, que, alimentado se abra à recepção do primeiro carisma, onde brilhe a clara Luz de Deus, frutificando os dons e os conselhos do Divino, “citação da 1ª leitura, Actos 2,1-11”. O Pentecostes.
A Igreja em tempo de Pentecostes, é ornada de modo mais rico e festivo, por ser a “ Páscoa das rosas”, como popularmente é conhecida, em muitos lugares e tempos, porque Celebra o mistério de Deus com a irrupção do Espírito Santo na dinâmica do plano de Deus.
Quando o homem sonha construir um mundo e um futuro sem Deus, os homens ficam condenados ao fracasso, é a torre de Babel (Confusão das línguas, Genesis 11,1-9).
O Espírito Santo, permite que o mundo encontre de novo, a Comunhão com Deus na unidade dos homens em toda a terra, para possibilitar o diálogo e compreender-se apesar das suas diferenças de língua e cultura.
Na infância, ouvimos falar do Espírito Santo, mas a aprendizagem do mistério não é entendida, por ser transcendente às nossas capacidades de crianças, mas limitamo-nos inconscientemente em jeito de lengalenga, aprender e memorizar Os sete dons do Espírito, (1Cor, 12,7-11).
1º Sabedoria ou Sapiência, que ilumina a inteligência;  2º Entendimento, que nos conduz à amizade e à paz entre os homens; 3º Conselho, que ilumina e indica o caminho; 4º Fortaleza, que ampara a nossa natural fraqueza; 5º Ciência, que se aplica ao trabalho e ao estudo de novas descobertas; 6º Humildade ou Piedade, que nos torna piedosos e condescendentes nas atitudes, nas palavras e juízos de valor; 7º Santo Temor de Deus, que dita, o respeito para com as criaturas e todos seres viventes e criados.
O Espaço e lugar de devoção popular ao Divino Espírito Santo
Em tempo forte das sete semanas pascais para a chegada do Pentecostes, a fé cristianizada manifesta-se em doação comum de esforços populares, colocando na sua arte manual uma criatividade simples ao melhor espaço de sua casa, ornamentando-o com a liturgia das cores teologais do mistério da fé, da esperança e da caridade.
O espaço ornado e perfumado com flores semeadas e plantas criadas nos campos, torna-se um lugar de oração diária ao findar da tarde e começo da noite, tempo de acolhimento, em que o domicílio de veneração é invadido, alimentado e aquecido com o sopro saído da boca de quem ora com simplicidade a invocação de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
A arte popular criada, é alimento de vida na festa do Divino Espírito Santo, é luz que esclarece e aclara a mente humana, enche a relação do coração e o sentimento no aperfeiçoar da partilha expressa nas Obras da Misericórdia.   
A arte da Igreja, teve sempre uma finalidade litúrgica e catequética, porque, na arte cristã entrecruzam-se questões teológicas e pastorais, que tiveram diferentes graus de incidência e de expressão ao longo dos tempos.
Sobre o Espírito Santo, devemos deter-nos na simbologia referente à terceira pessoa da Santíssima Trindade, que iniciou um imaginário que interfere no nosso conhecimento, a percepção dos mistérios de Cristo e da Igreja.
Há tendência de representar através de imagens, as realidades em que acreditamos, mas, a figuração dos mistérios da fé, torna-se difícil porque ultrapassa a nossa compreensão, e torna ainda mais arriscada a representação visual daquilo, que por essência não tem imagem, a realidade divina, o absoluto transcendente.
A Lei Mosaica, proibia a reprodução de imagens não só de Deus, mas até do mundo criado, como prevenção contra o perigo da idolatria (Ex.20.4-5),porque o verdadeiro Deus, que de Si mesmo apenas revelara o Poder e o Nome, não podia ser visto, nem deveria ser confundido com coisa alguma.
A Inspiração da fé em Deus, é Carisma infundido ao entendimento e sapiência, de quem se dispõe na procura da transcendência do sobrenatural, e a sua (in) capacidade humana, aceita o indizível (inexplicável) ao escrever no tempo e lugar, o oráculo poema na creditação do espírito que conduz a linha do pensamento e o horizonte na descoberta de novos mundos, novos povos, novas línguas, missão humana e mão de Deus que não tem rosto, e se desconhece, mas a força da fé e da luz do Divino Espírito Santo, faz incendiar o fogo nos corações dos fiéis, renovando a mente e o trabalho de toda a acção confiada ao género humano.
A Acção do Divino Espírito Santo, é o pneuma de Deus na criatura humana, que no acto inspirado, desconhece o momento e lugar exacto do alfa e ómega, onde circula o seu poder, atravessando o espaço dos céus, a terra e tudo o que a enche como criatividade de Deus Pai.
No homem, o Espírito de Deus infunde com arte a palavra, a poesia, a música, o som, e a métrica, elementos que na sua criatividade intelectual e espiritual, o poeta compõe as odes ou hinos inspirados nos ensinamentos doutrinais-bíblicos, e tais revelações, são pura infusão do Divino Espírito Santo, que conduz toda a sua escrita e pensamento enquanto reza a fé do dom de Deus, para dar a conhecer ao mundo o sopro da força do Divino Espírito Santo.

Luiz Vaz de Camões, poeta lírico, lusitano, aquando da sua partida de Lisboa em viagem com Vasco da Gama, na missão da descoberta de novos mundos (caminho para a Índia), em tempos de expansão portuguesa, séc. XV, colocou nos seus lábios o oráculo da fé com a invocação ao Espirito Santo, o qual, é citado no Canto II, estrofe nº 11 dos Lusíadas que abaixo se transcreve com pequena explicação.
Estrofe: 11, do Canto II

Ali tinha em retrato afigurada
Do alto e Santo Espírito a pintura,
A cândida Pombinha, debuxada
Sobre a única Fénix, Virgem pura.
A companhia santa está pintada
Dos doze tão torvados na figura,
Como os que, só das línguas que caíram
De fogo, várias línguas referiram.

Explicação: Na estrofe nº10, 6ª linha (Com rosto humano e hábito fingido, Mostrando-se Cristão, e fabricava/ um altar sumptuoso que adorava). O poeta inicia a oração, preparando o altar para adorar.
Hábito= aspecto exterior. «e mostraram-lhe pintada em uma carta a figura do Espírito Santo a que adoravam. E perante eles fizeram sua adoração de joelhos com jeito de homens muito santos, e que tinham dentro o que mostravam de fora. Fénix= Ave fabulosa e simbólica, única da sua espécie, que, segundo os antigos, morria abrasada, e renascia das próprias cinzas. Os doze = São os apóstolos sobre os quais desceu o Espírito Santo em línguas de fogo, no dia de Pentecostes, recebendo então o dom das línguas que até ali ignoravam. (cf. Actos). Referiram= souberam falar.

José Manuel Graça Teixeira Gaipo *

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