A Escola do Mar dos Açores continua sem se cumprir, sem tirar partido da lacuna existente a nível mundial na formação de quadros intermédios das tripulações de navios da marinha mercante ou de cruzeiros.
A Escola do Mar dos Açores deve, o quanto antes, começar a leccionar o painel completo da convenção STCW (International Convention on Standards of Training, Certification and Watchkeeping for Seafarers) e a ministrar o espectro completo da formação profissional para marítimos (veja-se no quadro abaixo o potencial do espectro completo da formação de marítimos).
As instalações da Escola do Mar dos Açores foram pensadas e preparadas para ministrar todos estes programas relativos à actividade profissional marítima e não se consegue entender por que razão, passados tantos anos, ainda se esteja numa fase tão embrionária do desenvolvimento deste projecto, com a agravante de não se estarem a captar alunos no mercado internacional. Para uma Região que ainda está à procura do modelo para o desenvolvimento da sua economia e que a projecte no mercado exportador, deixar de cumprir este projecto é um enorme contrasenso pois esta Escola poderá ser uma via para afirmar os Açores no panorama nacional e internacional da formação marítima.
A Escola do Mar dos Açores nasceu de um protocolo assinado pelas seguintes entidades:
_ o Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM) que tem a incumbência da acreditação e certificação dos cursos marítimo-profissionais em Portugal;
_ a Universidade dos Açores, a instituição de ensino superior dos Açores;
_ a Escola Náutica Infante D. Henrique, instituição de ensino superior politécnico que forma oficiais para a marinha mercante; escola com projecção internacional e com um ensino de excelência na preparação de profissionais marítimos, a quem está acometido o papel de preparação dos “curriculae” e a formação do Corpo Docente;
_ os armadores portugueses que escalam os portos dos Açores e que se disponibilizaram para facilitar os estágios para os alunos que frequentem os cursos das Escola do Mar dos Açores.
A qualidade, o rigor e a abrangência da oferta formativa que se devia estar a ministrar a alunos portugueses e estangeiros poderia ser muito abrangente, caso se se tivessem dado os passos para que tal acontecesse.
Infelizmente, optou-se por uma oferta muito limitada e voltada somente para o mercado dos Açores, sem sequer se abranger o todo do mercado nacional, pois os cursos ministrados podem ser frequentados em Lisboa ou no Porto.
Veja-se o que se tira hoje do “site” da Escola do Mar dos Açores; a oferta é mesmo muito limitada e voltada exclusivamente para o mercado interno.
A visão dos responsáveis que gerem este projecto denota uma enorme “miopia”.
Os portos da Região são escalados anualmente por dezenas de cruzeiros, cada um com mais de 1’000 tripulantes, que inclusivamente o fazem em rotas de reposição nas transições entre as épocas de veraneio entre o Hemisfério Norte e o Sul.
Seguramente que estes tripulantes são candidatos a fazer a sua formação de base ou as reciclagens regulares a que estão obrigados, na Escola do Mar dos Açores.
Anda-se há mais de 10 anos a não fazer o que é essencial para a dinamização desta escola e por isso, impedindo que os Açores sejam reconhecidos internacionalmente como o local onde se podem ministrar cursos de excelência para preparar os quadros marítimos médios.
Até quando vai estar a tutela desta Escola a coarctar o potencial que a mesma encerra. Até quando pretendem os responsáveis políticos continuar a impedir o desenvolvimento destes serviços educativos que poderão constituir exportações da economia açoriana. Até quando irá o Governo condicionar o desenvimento da ilha do Faial, ilha onde se instalou a Escola do Mar dos Açores.
Que se comece, é só o que se pede; e que o façam agora, para que em Setembro de 2023 se iniciem as aulas de uma oferta curricular completa para a formação dos quadros médios para os navios da marinha mercante e de cruzeiros.
Nuno Ferreira Domingues*
*[nfdomingues@yahoo.com]