Manuel de Sousa, o micaelense que criou uma das maiores empresas de fogo de artifício nos EUA
Diário dos Açores

Manuel de Sousa, o micaelense que criou uma das maiores empresas de fogo de artifício nos EUA

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Na próxima segunda-feira, 4 de julho, os Estados Unidos estarão em festa.
Conhecido formalmente como dia da independência, o feriado nacional que celebra a assinatura da declaração da Independência em 4 de julho de 1776, na Pennsylvania State House (hoje, Independence Hall), na cidade de Philadelphia, Pennsylvania, quando as treze colónias inglesas da América do Norte decidiram mandar bugiar a Inglaterra.
A tradição de lançar fogo de artifício no 4 de julho começou em Philadelphia a 4 de julho de 1777, na primeira celebração organizada do Dia da Independência, quando o canhão de um navio disparou uma salva de 13 tiros em homenagem às 13 colónias e, conforme referiu o jornal Pennsylvania Evening Post, “à noite houve uma grande exibição de fogo de artifício no Commons e a cidade ficou lindamente iluminada”.
Só em 1840 é que o Congresso converteu 4 de julho em feriado federal, mas hoje é a grande celebração do verão nas grandes e pequenas cidades com paradas, concertos (recomendo Boston Pops à beira do rio Charles), provas de atletismo e até uma corrida de lagosta (no Maine, claro).
E a culminar um dia inteiro de diversão, não pode faltar fogo de artifício.
O 4 de julho e o fogo de artifício andam de mãos dadas, como a América e a torta de maçã, dizem os cronistas. E a sessão de fogo de artifício mais emblemática de todas as que se realizarão no próximo dia 4 de julho é a do Macy’s, e atrai milhares de turistas a New York mesmo com transmissão televisiva em direto pela NBC.
O 46º Macy’s 4th of July Fireworks começará aproximadamente às 21h25, uma enxurrada de mais de 48.000 cápsulas lançadas de cinco barcaças posicionadas no East River entre as ruas E. 23rd e E. 42nd.
New York é a mais emblemática das cinco centenas de sessões de fogo de artifício produzidas pela Pyro Spectaculars by Souza na noite de 4 de julho em outras tantas cidades e vilas norte-americanas.
Além da gala de New York, que realiza pela 46ª vez consecutiva, a Pyro Spectaculars by Souza tem participado nos maiores acontecimentos pirotécnicos dos Estados Unidos, nomeadamente as bodas de ouro da Golden Bridge de San Francisco, o bicentenário de Cleveland e o centenário da Estátua da Liberdade.
A empresa faz centenas de shows todos os anos em vários países.
Em 1982, por exemplo, a Pyro Spectaculars fez o Ano Novo em Hong Kong e foi um tal sucesso que continuou a fazer durante 15 anos.
A empresa está sediada em Rialto, Califórnia, onde produz pirotecnia para grandes produções da Disneyland, Disney World, Six Flags, Astroworl e outros parques de diversões.
Produz também para o cinema (ganhou um Oscar com Apocalypse Now), videoclipes e shows musicais, além de eventos comunitários, formaturas e casamentos.
A Pyro Spectaculars engloba hoje sete empresas: Astro Pyrotechnics, Souza Fireworks, PPA Spectaculars, Pyro Spec EFX, Stick Match, Spectacular Productions e Global Pyrotechnic Network.
Tem sede em Rialto, mas mantém escritórios em Sacramento, San Diego, San Francisco, Fresno e Half Moon Bay na Califórnia; e ainda em Spokane, Washington; área metropolitana de New York/New Jersey, e Hawaii.

Oriundo da Ribeira Grande

É uma das maiores empresas de pirotecnia do mundo e tudo começou com o açoriano Manuel de Sousa, que chegou a San Leandro, Califórnia, em 1906, vindo da Ribeira Grande, São Miguel.
Manuel de Sousa (a família Sousa mais tarde americanizou o apelido para Souza) tinha sido fogueteiro na sua ilha e decidiu começar a fabricar fogo de artifício em casa para animar as festas do Espírito Santo e dos Santos Populares da comunidade portuguesa da Califórnia, tornando-se conhecido pela alcunha do Papagaio por causa do colorido do seu fogo.
À medida que o negócio começou a crescer, toda a família se envolvia no fabrico de fogo de artifício e Manuel criaria a Okland Firewoks Company com fábrica em Castro Valley, onde teve um dia um acidente.
Alfred levou o pai de barco para o hospital em Sacramento, mas Manuel sofreu amputação do braço esquerdo pelo cotovelo.
A partir daí, Manuel passou a preocupar-se ainda mais com a segurança, os herdeiros seguiram-lhe o exemplo e a sua empresa ajudaria a mudar a indústria da pirotecnia criando novas tecnologias que tornaram os espectáculos mais seguros.
Manuel confiou ao filho Alfred os segredos de pirotecnia trazidos de São Miguel num caderno de apontamentos que a família chama de “livro de cozinha”.
Mas quando Alfred foi recrutado pelo Exército dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, tornou-se especialista em explosivos devido às habilidades pirotécnicas que aprendera com o pai.
Com a morte de Manuel em 1940, o negócio foi interrompido, mas quando deixou a tropa Alfred começou a produzir fogo de artifício para as festas da Califórnia e deu continuidade ao negócio da família.
A terceira geração, Bob Souza, filho de Alfred, assumiu a gerência na década de 1960 e a companhia tornou-se uma das maiores no país.
Em 1976, Bob mostrou os seus talentos com realizações pirotécnicas inovadoras nas celebrações do bicentenário dos Estados Unidos e três anos depois, em 1979, criou a Pyro Spectaculars by Souza.
Bob Souza desenvolveu esforços no sentido de manter sempre um elevado nível de segurança nos seus espectáculos pirotécnicos e muitas das normas de segurança existentes hoje nos Estados Unidos foram iniciativa sua.
Bob ocupou duas vezes a presidência da American Pyrotechnics Association.
Em 1989, entrou em cena a quarta geração da dinastia pirotécnica Souza, o filho de Bob, James Souza, que trabalha em fogo de artifício desde os 12 anos de idade, tornou-se presidente e CEO da Pyro Spectaculars.
Sob a sua liderança, a empresa revolucionou os métodos de disparos de precisão com tecnologia moderna e criou os famosos Sky Concerts e Pyro Musicals, que são hoje uma referência para grandes eventos.
O vice-presidente da empresa é o irmão de James, Gary Souza.
A irmã de James e de Gary, Nancy Souza Gilfillan e o seu marido Ian Gilfillan, que é vice-presidente executivo e gerente geral da empresa, têm viajado pelo mundo divulgando a marca Souza.
Além disso, o casal tem sido a força motriz por trás da celebração de Ano Novo em Seattle, no Space Needle e outros grandes eventos em todo o noroeste do Pacífico.

Próxima geração já dá continuidade aos sonhos

A próxima geração de Souzas já está a dar continuidade aos sonhos de Manuel de Sousa no campo dos fogos-de-artifício.
Os filhos de James, Paul e Christopher são a quinta geração.
São especialistas em sistemas de queima informatizados e gestão da produção “high-end”.
Paul é o encarregado de fazer o Americafest no Rose Bowl com uma equipa de 30 homens; Christopher faz Macy’s em New York com uma equipa de 50 homens.
Os filhos de Nancy e Ian, Kevin e Matteus, trabalham como produtores e assim a Pyro Spectaculars by Souza continua uma empresa familiar como nos tempos em que Alfred ajudava o pai a preparar os seus fogos de artifício em sua casa.
Numa época em que era comum os imigrantes americanizarem o nome para facilitarem a vida, os Sousas limitaram-se a trocar o S pelo Z e passaram a ser Souzas.
E quando, e ainda hoje, muitos imigrantes portugueses ocultam as origens étnicas para tentarem evitar discriminações, a família faz questão de lembrar orgulhosamente as raízes portuguesas.

Exclusivo Portuguese Times
Diário dos Açores

por Eurico Mendes, nos EUA *

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