Diário dos Açores

Bloqueio ao desenvolvimento social

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Os números do desemprego nos Açores, anunciados no fim da passada semana, dão nota de uma ligeira descida relativamente a 2021 (e também em relação ao mês anterior) do número de inscritos no Centro de Emprego. Os 6033 desempregados contabilizados em maio, bem como a situação do emprego nos Açores, pouco se alteraram no essencial. O número real estará potencialmente perto do dobro pois o número oficial não inclui aqueles que, por falta de resposta positiva, desistiram da sua inscrição no Centro, e oculta os desempregados, igualmente não contabilizados, resultantes da existência de 5676 pessoas (um número quase idêntico ao número oficial do desemprego) em situação de ocupadas nos programas de inserção socioprofissional (3400),de participantes nos programas estagiar L e T (1968) e em ações de formação (308).
Nada de novo, portanto, relativamente aos últimos anos, podendo até os números reais atuais se terem agravado devido às alterações introduzidas pelo governo das direitas, apoiado pela extrema direita, no acesso aos programas ocupacionais herdados do anterior governo, que aliás até foram motivo recente de expressões coletivas públicas de descontentamento junto à residência oficial do Presidente do Governo, no Palácio de Santana.
Toda a propaganda oficial do governo açoriano no sentido de aprovar e pôr em prática medidas de combate à precariedade laboral e de promoção da estabilidade no emprego caem para já por terra, face a estes resultados.
Mas, até parecendo que o desemprego não existe, vários setores empresariais aparecem a queixar-se de falta de mão-de-obra, nomeadamente no turismo, hotelaria e na restauração. Também aqui a realidade é afinal outra, tais queixas esbarram com o muito baixo nível salarial praticado nestas áreas ou com a ausência de qualificações profissionais para o preenchimento das vagas.
Os pequenos empresários, enquanto alvo de exploração pelos grandes grupos económico-financeiros, que lhes subtraem as mais-valias, não têm possibilidade de corresponder por vezes aos níveis de rendimento exigíveis para os seus contratados. Aqui justificam-se excecionalmente as ajudas financeiras públicas, para assegurar salários justos. Não se justifica é o que faz o atual governo, esforçando-se por satisfazer o sorvedouro insistente de fundos públicos exigido pelos maiores grupos económicos e pelos seus representantes.
Se é no campo dos salários dignos e do emprego estável que deve navegar o desenvolvimento social, o que ouvimos, ao fim de dezenas de anos de contenção, austeridade e empobrecimento no nosso país, é uma voz uníssona que volta a levantar-se contra a atualização justa dos rendimentos de quem trabalha. Nos últimos diasfoia crónica travagem do grande patronato na concertação social, logo seguida por Mário Centeno do Banco de Portugal a pedir contenção salarial “para evitar uma espiral inflacionista”, e depois, para arrematar, pela presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, referindo-se à “urgência” de baixar os salários reais, quando defendeu aumentos salariais abaixo de 2%, enquanto previa uma inflação da ordem dos 7%.
Mas, no Fórum do BCE em Sintra (27 a 29 de junho), Lagarde não se ficou por ali. Para compensar os trabalhadores pela perda dos seus rendimentos, apelou à responsabilidade dos governos com vista a adotaremas consequentes medidas de intervenção social(a estafada caridadezinha!). Enquanto isto, o Banco Comercial Português entregava 1,16 milhões de euros em ações aos seus administradores executivos e diretores, a título de remunerações variáveis…

Mário Abrantes *

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