Diário dos Açores

Consumo Sustentável ou a incúria, o desleixo, a inconsideração de um consumidor impreparado para projectar os reflexos de actos de consumo menos consequentes?

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Uma gigantesca ilha artificial no Pacífico (de proporções inimagináveis) surpreende os espíritos mais despertos pela sua extensão e composição: é que é de plástico e a superfície supera já as da Espanha, França e Alemanha reunidas, para se ter uma noção de grandeza.
A ilha de resíduos plásticos do Pacífico – a Great PacificGarbagePatch - é um ponto entre o Havai e a região litorânea da Califórnia, em que flutuam dejectos plásticos provenientes das costas adjacentes.
A enorme massa  de resíduos plásticos flutuante só é susceptível de se avistar  a partir de embarcações marítimas. Esta preocupante “massa plástica” flutua e envolve-se no giro marítimo  devido às correntes oceânicas.
Este inimaginável  “depósito” de lixo plástico que se desenvolve  no Oceano Pacífico amplia-se desmesuradamente: a área por onde se estende  equivale, nos dias que correm, a mais do que os 1 507 177 Km.2 de superfície dos territórios referenciados ou do que o Estada do Amazonas, no Brasil, com os seus 1 571 000 Km2.
Na ilha aglomeram-se mais de 1,8 mil milhões  de rebotalhos  de plástico cujo peso orça as 80.000 toneladas.
O levantamento de uma tal área decorre de um estudo de há mais de três anos encetado por uma equipa internacional de cientistas adscritos à TheOceanCleanup Foundation, seis universidades e uma companhia de sensores aéreos.
Tais descobertas foram publicadas na oportunidade na Revista ScientificReports.
O Great PacificGarbagePatch, localizado a meio caminho entre o Havai e a Califórnia, constitui, por incrível que pareça, o maior repositório  de plásticos oceânicos no globo.
Ao comparar a quantidade de microplásticos com as medições históricas do Great PacificGarbagePatch, os investigadores aperceberam-se de que os níveis de contaminação por plástico no interior da ilha têm crescido exponencialmente desde que as medições principiaram na década de setenta.
De entre as mais gravosas consequências da contaminação nos microplásticos na alimentação humanadetectada, avulta a de os materiais penetrarem na cadeia alimentar através das espécies marinhas.
A Ilha de Plástico não é privativa dos Estados Unidos e do México.
A América do Sul também foi brindada com a “sua” ilha de plástico, de harmonia com as pesquisas empreendidas da Algalita Marine Research Foundation.
Uma tal extensão de resíduos plásticos detectou-a uma expedição da Fundação, que se alongou por um extenso semestre: tal ilha possui mais de 2 000 000 de km2, ao que se afirma. E corresponde à dimensão do México, excedendo a da Colômbia.
Tais áreas e sua incontornável dimensão suscitam uma séria  questão no que tange ao uso dos plásticos, um pouco por toda a parte.
A que mais desperta a nossa consciência  é a incómoda realidade da ineficácia das políticas de sustentabilidade, ao proibirem apenas o usode  um escasso número de artigos de plástico, enquanto outros e bem mais vastos cabazes de produtos continuem a produzir-se e a consumir-se sem conta nem peso nem medida…
A Coca-Cola, por exemplo, produz actualmente 120 biliões de garrafas de plástico por ano, de acordo com suas próprias estimativas, números de todo  incontáveis: as embalagens acabam ou incineradas ou despejadas em aterros sanitários e na natureza a céu aberto.
Mafalda Ganhão, do Expresso, entrevistara em Janeiro de 2020, após o Fórum de Davos, a vice-presidente para a Sustentabilidade e Políticas Públicas da Coca-Cola, a colombiana BeaPerez, que sem qualquer pudor nem rebuço ousou exprimir-se nestes termos: “quem manda é o consumidor e o consumidor quer garrafas de plástico e não de vidro… donde, não poder a Coca-Coladescartar o plástico”!
Maior hipocrisia não será fácil descortinar!

“Varra cada um a sua testada e a rua será desinfestada”!

*Presidente emérito da apDC –
DIREITO DO CONSUMO - Portugal

Mário Frota *

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