Diário dos Açores

O facto, o número e o nome

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Olhar do Sul

O facto...

A Presidência do comité das regiões da União Europeia

Mesmo que se tratasse de uma eleição previsível, em face do trabalho efetuado na vice-presidência e do crescente prestígio adregado junto dos seus pares, a confirmação de Vasco Cordeiro como Presidente do Comité das Regiões da União Europeia reveste-se de uma importância estratégica, diplomática e pessoal muito significativa.
Estratégica porque coloca definitivamente uma das mais periféricas regiões europeias no centro das atenções, sublinhando a sua importância geopolítica no concerto das nações do Atlântico Norte e dos territórios mais valiosos, nesse particular. A região pode capitalizar em face das suas peculiaridades (ultraperiferia, descontinuidade geográfica, complementaridade e sustentabilidade no desenvolvimento harmonioso das suas parcelas territoriais tão distintas mas tão indispensáveis umas às outras).
Diplomática porque reforça a capacidade (reconhecida, nas relações exteriores e na representação do arquipélago, ao longo dos seus oito anos de liderança do executivo regional) de Vasco Cordeiro para estabelecer diálogos “inter pares” e procurar reforçar, paulatina mas consistentemente, as necessidades e reivindicações muito particulares destas regiões com graus de desenvolvimento e localizações tão distintos como desafiantes.
Pessoal porque Cordeiro saberá encontrar o ponto de equilíbrio para, no exercício das suas funções, reforçar o prestígio entretanto adquirido, e recentrar para o seu nome a condição de “estadista regional” que tem procurado assumir desde que, em novembro de 2020, deixou a governação e se sentou na bancada da oposição parlamentar.
Há um risco que estas funções trazem aos “politiqueiros de ocasião”, que também os há, no Partido Socialista e noutras forças políticas açorianas): o de particularizar, partidarizar e , com isso, sectorizar o novo cargo que Vasco Cordeiro desempenhará.
Nada mais errado: é uma posição de representação da Região Autónoma dos Açores, que a orgulha, que a engrandece e que se torna transversal.
Como, de resto, bem o provaram os que, esta semana, o acompanharam em Bruxelas, começando pelo próprio Presidente da Assembleia Legislativa Regional dos Açores que, com a sua presença, pretendeu justamente sublinhar a unanimidade de reconhecimento de um cargo que ultrapassa, obviamente, quaisquer querelas de rua, de bairro ou de partido político.

O número...

300 milhões (de passageiros aéreos este verão)

Talvez 300 milhões. Um assombroso mas previsível número de passageiros que podem cruzar, apenas, os céus europeus neste verão IATA. O grau de “despressurização” que a crise pandémica trouxe ao setor do transporte aéreo é bem mensurável pelo absoluto caos dos últimos dias nos principais aeroportos do velho continente.
Escrevo este artigo a bordo de um Boeing 777-300ER da KLM, a sobrevoar a República Democrática do Congo, num voo entre Amesterdão e Joanesburgo. Uma ligação de dez horas e meia, depois de quase duas horas na fila para os procedimentos de segurança do aeroporto de Schiphol, um dos mais bem equipados do mundo mas a não resistir a um fluxo absolutamente anormal de passageiros.
Já se sabia que o “tempo de libertação” haveria de chegar, e que os europeus cruzariam como nunca os seus céus e os de outros continentes. A fragilidade do setor fica bem comprovada pela incapacidade de prever, planear e acautelar este inopinado aumento de tráfego, este congestionamento total que abrange segurança, polícia de fronteira, tratamento de bagagens e gestão de tráfego aéreo.
A retoma aí está, com as suas dores de parto bem visíveis por parte do que, imperativa,ente, têm de viajar ou dos que, cansados da interrupção de dois anos, esperam ansiosamente pelos seus períodos de férias. Que, se não forem bem preparados, podem mesmo começar com uma gigante enxaqueca…

O nome...

Terry Costa

Não o conheço pessoalmente, nunca trocámos cumprimentos. Este facto dar-me-á ainda maior latitude para falar do seu trabalho: Terry Costa tem, a partir da ilha do Pico, numa lógica permanente e crescente de envolvimento de todas as ilhas dos Açores e das mais diversas artes performativas e seus protagonistas, desenvolvido projetos que transportam a região para o exterior, pela sua importância e pelo seu impacto, mas que, sobretudo, dimensionam a cultura e as suas múltiplas vertentes num escalão superior.
Terry poderá simbolizar o “self made man” que entende o movimento cultural como uma paleta de todas as cores e de todas as abrangências. Tem-no demonstrado em imensas ocasiões, e o “Azores Fringe Festival” é apenas uma das mais recentes. Na “Miratecarts” consubstancia o conceito de empresa aberta, participada e participativa, imaginativa e não complicativa. Procura soluções em vez de identificar apenas os problemas. E passa-as à prática, mérito incontestável de quem tem vindo a construir uma raiz sólida na cultura açoriana e na sua massificação.

 

 

(*) Jornalista e Apresentador de Televisão

Rui Almeida (*)

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