Diário dos Açores

“Quando os melhores vencem – toda a gente ganha”

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Memorandum

1 - Breves conversas de verão? Veremos…

Perante a benigna ousadia de formular perguntas pertinentes, felizmemte nem sempre recebemos respostas levianas: Escrever para quem? Comunicar com quem?… Numa  comunidade com sabichões em saldo, temos de descobrir o local dos ‘armazéns’ da solidariedade étnica para comparar ideias, comungar saberes, conferir conclusões…
Para muitos (como costumo lembrar) a decisão de aprender e a missão de ensinar são martírios a evitar… Os que persistem na partilha grátis do próprio pensamento (através da imprensa da diáspora lusófona) são geralmente apodados “gente com muito pouco que fazer”…
Falo apenas por mim: ‘os carvalhos e os ciprestes não crescem à sombra uns dos outros’. Quem caminha pelas atalhadas autónomas da própria escrita, incorre o risco de acabar emaranhado no limbo narcísico da solidão (embora porventura consolado com a conhecida expressão poética de Fernando Pessoa: “muito aprendo com a solidão”).
Quando o século XXI decidiu visitar o nosso planeta, fiz questão de chegar algumas semanas mais cedo aos confins da ‘mexifórnia’ para lhe desejar boas-vindas. Sim, apreciadas(os) cavalheiras(os), vivo longe, mas nunca distante, nas minhas tarefas de ‘aprendiz profissional’: tenciono chegar inteiro para testar os meus dizeres junto da vozearia inter-humana da diaspora açor-lusitana.    
Aprender a arte da ‘perguntabilidade’ é, porventura, tarefa aconselhável. Será que os descendentes daqueles arrojados baleeiros (que vieram aqui parar há mais de um século) sentem orgulho nas suas tradições étnico-culturais? Que visão comunitária têm hoje em dia os ilhéus oriundos do meio rural, aqui chegados na ‘onda dos anos 60’, com seus filhinhos nascidos em território norte-americano, mas criados no ‘berço-limbo’ maternal das avós (até serem mais tarde lançados ao desafio étnico-tauromáquico do destino imigrante?).
Geograficamente falando, não creio ser urgente saber onde vivem:  interessa  aprender o máximo possível da sua experiência imigrante (‘gente-da-nossa-gente’ que desconhece as passadeiras subsidiadas dos ‘caixeiros-viajantes’ da saudade...).
Em termos comunitários, é bom não esquecer que a Mulher está a progredir num ritmo discreto e até inteligente. Nas últimas três décadas, nota-se que as Mulheres aparecem a frequentar aulas preparatórias para prosseguir estudos de natureza profissional; são elas quem mais tentam a ligação às ‘linhas-abertas’ das estações locais de rádio comunitária; são elas, ainda, as militantes da revolução silenciosa na esfera da promoção cultural, professional, e até empresarial…  Sim, estamos a referir a valentia das Mulheres – outrora manipuladas pela fidelidade doutrinal imposta pela mentalidade patriarcal e marianista.
Nas décadas de 60 e de 70, quando muitas açorianas eram lançadas na “vala-comum” da emigração, acontecia serem leiloadas (sem aviso prévio) no rés-do-chão  da produtividade industrial, trabalhando em turnos nocturnos, sob o inevitável delírio de sobreviver aos esbirros da ‘ditadura da necessidade’ (e à esperteza saloia dos chamados ‘boss-verdasca’). Chego a suspeitar que elas cedo descobriram que a prioridade duma sociedade orientada para a produção deveria ser a de “produzir gente livre”.
 Muitas dessas prestimosas Mulheres (nossas conterrâneas/companheiras) descobriram as próprias cicatrizes psico-sociais resultantes da pressão exaltada do feudalismo insular, repleto de formalismos passadistas e vénias senhoriais. De resto, em termos quantitativos, poucos dão pela nossa presença étnica – silenciosa e silenciada. Daí que seja aconselhavel marcar a nossa presença pela senha da boa qualidade…  
Porventura empurrado pela geografia, apresento-me aqui para aplaudir o crescente despertar da qualidade sócio-cultural da açorianidade, em terras d’América – onde ainda há lugares vagos no carrousel da competência. Como sói dizer-se “quando os melhores vencem, toda a gente ganha.”


*o autor não aderiu ao recente acordo ortográfico

João Luís de Medeiros*

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