“Sem os fundos estruturais o PIB dos Açores teria crescido apenas metade”
Diário dos Açores

“Sem os fundos estruturais o PIB dos Açores teria crescido apenas metade”

Previous Article Previous Article Governo e oposição com visões diferentes sobre o futuro da SATA

João Duarte, Universidade Nova SBE

O estudo conclui que os Açores foram a região onde os fundos tiveram mais impacto. Pode explicar como chegaram a esta conclusão?
Nós utilizámos dados ao nível municipal para estimar o impacto médio de cada euro pago no valor adicionado dos municípios.
A nossa estimativa é que cada euro pago pelos FEEI gera 90 cêntimos de valor adicionado nos municípios no mesmo ano, chegando a 5,80 euros após três anos.
Depois, com esta estimativa em mãos, para calcular o impacto total do apoio do FEEI em cada município multiplicamos o impacto médio pelo apoio dos FEEI total que cada município recebeu.  
Tendo os Açores sido a região com os municípios que mais receberam apoio face ao seu valor acrescentado bruto, é por isso que chegamos à conclusão de que foi também a região onde o apoio do FEEI teve maior impacto no crescimento do valor acrescentado bruto.

Foi possível concluir que, nos Açores, a aplicação dos fundos estruturais é mais bem aproveitada pelos municípios do que pelas administrações regional e central?
Infelizmente, não podemos concluir isto do nosso estudo.
Isto, porque como referido anteriormente, nós estimamos apenas o impacto médio nos municípios do total de apoio regionalizado.
Na verdade, muitos dos apoios que são dados à administração central nem são incluídos na nossa análise porque alguns destes apoios são difíceis de regionalizar.
Isto é, para alguns apoios é difícil saber em que município o dinheiro foi de fato gasto.
No entanto, como nós temos os dados desagregados ao nível das operações, seria perfeitamente possível fazer esta análise num estudo futuro.
Penso que tal estudo seria bastante importante e informativo para percebermos melhor como aproveitamos os fundos de maneira mais efetiva e eficiente.

Sendo os Açores uma das regiões do país com os indicadores económicos e sociais mais baixos, em que medida o impacto dos fundos poderá ajudar a ultrapassar estes problemas?
O nosso estudo aponta que os fundos são fundamentais para a melhoria dos indicadores económicos dos Açores e para que estes indicadores continuem em linha com a média da UE.
Nós mostramos no estudo que sem o apoio dos FEEI, o crescimento do PIB dos Açores teria crescido metade do que o que cresceu, uma diferença de 4% ao ano para 2% ao ano em termos de PIB nominal.
Além de que, sem os FEEI os Açores teriam ficado mais longe das regiões mais desenvolvidas economicamente de Portugal e da UE.

É possível concluir que os fundos devem manter-se, uma vez que a convergência continua bastante díspar?
Sim. Os Açores, mesmo com o apoio dos FEEI, continuam ainda a alguma distância de PIB per capita dos 75% do PIB per capita da média da UE.
Valor este (os 75%) que é utilizado para selecionar as regiões que têm acesso a maiores volumes de apoio dos FEEI.
As regiões que ficam abaixo deste valor, têm maior acesso, enquanto as que ficam acima têm menor acesso.
Atualmente os Açores estavam com um PIB per capita em 2019 que era 70% do PIB per capita da média da UE, pelo que ainda deverá continua a ter acesso durante o PT2030 que se avizinha.

O que mais o impressionou neste estudo relativamente aos Açores?
O volume dos fundos transferidos face ao nível de valor acrescentado bruto de alguns municípios dos Açores.
Em particular, para alguns municípios, como o da Graciosa, que aliás foi o município que mais recebeu fundos face ao seu valor acrescentado bruto em Portugal, o impacto dos FEEI foi enorme, contribuindo para um crescimento anualizado do valor adicionado bruto acima dos 20%.  
Portanto, os FEEI em alguns municípios dos Açores proporcionaram taxas de crescimento ao nível das taxas de crescimento na China nos tempos áureos.

Sem o apoio dos FEEI, o crescimento do PIB dos Açores teria crescido metade do que o que cresceu, uma diferença de 4% ao ano para 2% ao ano em termos de PIB nominal

 

jornal@diariodosacores.pt *

 

Share

Print
Ordem da notícia1031

Theme picker