Diário dos Açores

Os Açores a olhar o céu

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Soube pelo telejornal que a Estrutura de Missão dos Açores para o Espaço esteve em Santa Maria para dar a conhecer o seu plano de acção e que o Governo Regional garantiu que até ao fim do ano serão tomadas decisões em relação ao Spaceport. 
Uma boa notícia antes das férias – como sinal, sim, a exigir séria concretização.
 É uma oportunidade para os Açores se recriarem como possibilidade e como identidade. A partir da sua ilha mais oriental e meridional.
A notícia fez-me lembrar uma conversa que tive há dias com o António Sousa Monteiro no Central Pub, em Vila do Porto, onde estive, há três anos, para fazer uma entrevista para o programa Mal-Amanhados. 
O António, com quem também falámos para o programa, mas no estúdio do Rádio Clube Asas do Atlântico, é presidente da Associação LPAZ - Associação para a Promoção e valorização do Aeroporto de Santa Maria - e é uma daquelas pessoas preciosas para a comunidade: une paixão pelo lugar, conhecimento sobre História e vontade de repensar a sua ilha para além do imediato.
 Diria que é um romântico se o romantismo não tivesse hoje má fama. 
É um visionário com uma dose mais do que suficiente de sabedoria e pragmatismo para perceber que o que imagina poderá ter uma concretização.
Durante a conversa, entre cervejas, pude beber a forma apaixonada como ama a sua ilha e como valoriza o papel de Santa Maria no desenvolvimento das tecnologias aeronáuticas nos Açores, a partir do fim da primeira metade do século XX, como aeroporto de escala técnica e centro de controlo e comunicações e como sede fundamental da gestão do tráfego aéreo no Atlântico Norte.
Foi ele, já agora, que também me contou da história do Central Pub, mais do que um restaurante forrado a madeira, ao estilo dos pubs ingleses, onde se come óptimas pizzas de ingredientes sigilosos (se ficasse por aí já era bom). 
Encerra uma importante parte da biografia mariense da segunda metade do século XX. A Horta tem o Peter, Vila do Porto tem o Central Pub. 
Tal como o Peter, foi e é visitado por inúmeras personalidades - isso pode ser comprovado pelas fotografias em exposição.
Construído, como contou, por um empreendedor micaelense na altura da Base Aérea Americana de Santa Maria, foi, durante anos, uma pensão capaz de albergar hóspedes de todas as ilhas açorianas, em escala para a emigração. 
Depois de ter fechado no início dos anos 70, com o definhamento do aeroporto de Santa Maria, reabriu e passou, a partir do início da década de 90, a ser explorado por José Batista, entretanto regressado à sua terra.
A dado passo, a meu pedido, o meu interlocutor falou de um “conceito” referido na entrevista  – o de “arquicéu”, que parte do título do livro de um autor francês. 
O que é o arquicéu? É, como refere num artigo, “uma vasta área do espaço aéreo que serve de canal de união das ilhas entre si e destas com o mundo”. 
Um canal de união observado e controlado “com o apoio das ilhas que o constituem, muitas vezes como espaço de fronteira e de articulação”. 
Uma forma revolucionária, se quisermos, de entender os Açores. 
Durante a conversa, fiquei a saber que em Setembro, de 8 a 10, a associação que  dirige, em articulação com diferentes entidades e com apoios vários, vai realizar a conferência internacional “Asas do Atlântico – Os Açores e os Desafios do Ocidente”, na qual irão participar os mais diversos especialistas. 
Oportunidade para se ficar a saber de como os Açores, nas próximas décadas, se podem reposicionar geoestrategicamente. 
O futuro do arquipélago, perdão, do arquicéu passa por ali.

Nuno Costa Santos

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