Diário dos Açores

A vida faz-se de mudanças

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Porque é que mudamos? É uma pergunta que eventualmente nos pode intrigar, mas que vamos fazendo em vários momentos da vida.
A mudança é parte integrante do percurso de cada ser humano sobre a terra. Acontece desde que nascemos até ao momento da nossa morte. Manifesta-se nas primeiras palavras ditas, nos primeiros passos inseguros, nas primeiras relações amorosas e de amizade, no ingresso na faculdade, no mundo do trabalho e mais tarde, na reforma e na debilidade, chegando também a hora de partimos. Tudo isto acontece porque a vida é dinâmica, logo, mutável.
As mudanças acontecem tão rapidamente, que parecemos pisar constantemente terrenos movediços. Temos a falsa sensação de não criar raízes em lado algum, mesmo que vivamos em certos locais por períodos de tempo consideráveis. Ou é a correria quotidiana, ou são os amigos que existem em número reduzido ou somos nós que até gostamos mais de estar em casa não nos abrindo à relação com os outros.
Perante as mutações constantes, fruto das nossas escolhas ou dos dilemas que a vida nos apresenta, há muitas vezes uma sensação de vazio habitada por dor e solidão. Bastantes vezes, tal cenário, deve-se ao facto de aqueles que connosco compartilham a vida, nem sempre compreenderem as razões profundas para as nossas escolhas que exigem uma mudança. Isto traz-nos medos e dúvidas.Medo de sermos julgados, medo de que se afastem de nós porque as nossas escolhas não vão ao encontro daquilo que os outros gostariam que fosse a nossa vida, ou, medo porque existem aqueles que se julgam moralmente superiores para decidirem por nós. E quando não permitimos que tal aconteça, há sempre algum tipo de cisão que provoca mágoa e tristeza.
Qualquer pessoa que nos ame e estime, deve ter a capacidade de compreender que se escolhemos mudar é porque sentimos ser a coisa certa a fazer.
Na verdade, qualquer mudança traz consigo uma dose de receio e de esperança, mas não devemos dar espaço ao medo. Por mais que possamos dizer que ele é natural, trata-se de uma força tão poderosa e maligna que é capaz de nos bloquear o coração e a ação, deixando-nos inertes e acomodados.  
A mudança exige ponderação e confrontação com as opiniões daqueles que nos são importantes. É um excelente exercício, sem dúvida, todavia, a decisão final é apenas de cada um,sendo necessário um coração livre, mesmo que mais adiante essa mudança se revele um fracasso. Vai doer? Certamente. Mas em lado nenhum está prescrito que um fracasso tem de nos condenar eternamente. O fracasso não precisa de ser visto como fonte de condenação. Vejamo-lo como uma aprendizagem, uma nova oportunidade.
Regressando à pergunta inicial, porque é que mudamos?
Porque desejamos ser felizes, mesmo que este seja um dos conceitos mais abstractos; porque queremos ter e ser mais; porque crescemos em variadíssimos aspectos; porque necessitamos de novas experiências que nos desafiem e nos desinstalem. Mudamos, enfim, porque o caminho existencial, muitas vezes, a isso nos obriga.
Com a cabeça e o coração no lugar certo, sejamos sempre gratos a quem se fez e faz presente e a quem estendeu, estende e continua a estender a mão para que as dificuldades da nossa vida pareçam menores.


* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

​Adriano Batista*

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