Diário dos Açores

Resiliência

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Na política, como na vida, a resiliência é quase tudo. Participo, ativamente, na política regional desde 1997. Desde o ano 2000 que sou, no âmbito das eleições legislativas regionais, cabeça de lista pelo PPM no círculo eleitoral da ilha do Corvo. Não fui eleito nas eleições regionais dos anos 2000 e 2004. Muitos deram-me como politicamente morto após esses fracassos. Era uma profecia antiga. Já em 1999, após a minha saída dos órgãos locais e regionais do CDS/PP, os diabólicos leitores do futuro prognosticaram a minha derrota definitiva.
Fui, finalmente, eleito para o Parlamento dos Açores em 2008. Resisti, durante 12 anos, à pressão das sucessivas maiorias absolutas do PS/Açores. Foi uma longa travessia do deserto. Mantive, ao longo de todo esse período, a mesma determinação na luta contra a muralha, que parecia inexpugnável, do poder socialista. Sempre soube que nenhum poder na terra é invencível. Sempre soube que um dia surgiria uma oportunidade. O desafio, o grande desafio, foi sobreviver até esse dia.
Finalmente, em 2020, a formidável máquina socialista de ganhar eleições abriu uma milagrosa brecha. Os dias e horas que se seguiram ao anúncio do resultado eleitoral de 2020 foram, do ponto de vista político, frenéticos. A construção da “geringonça açoriana”, que pôs fim a 24 anos de poder absoluto do PS/Açores, enfrentou muitos escolhos e dificuldades. Não foi fácil de concretizar.
Pela primeira vez, os grandes jornais e televisões nacionais lembraram-se do pequeno PPM açoriano. Quase todos os partidos regionais tiveram, nesse período, direito a títulos bombásticos e a primeiras páginas. Não foi o caso do PPM. Adotei uma postura extremamente ativa nas negociações – viajei incessantemente no triângulo Corvo-Terceira-São Miguel -, mas afastei-me das luzes da ribalta. Não dei uma única entrevista. Sou um pragmático. Prefiro a eficácia dos processos. A reivindicação de triunfos e a exteriorização de exigências teria retirado espaço negocial ao PPM e criado novos obstáculos. Optei, por isso, por ficar na sombra.
Conheço, razoavelmente, todos os principais protagonistas políticos açorianos no âmbito da conjuntura em apreço. Participei em reuniões e congressos, ainda no século passado, com velhos companheiros de partido como Nuno Barata e José Pacheco. Partilhei as bancadas do Parlamento com José Manuel Bolieiro e Artur Lima. Participei em reuniões, antes de os dois serem deputados, com António Lima e Pedro Neves a propósito da incineradora de São Miguel. Já conhecia o deputado Carlos Furtado da campanha eleitoral. E, é claro, conheço bem, do ponto de vista político, os anteriores presidentes do Governo Regional socialistas, Carlos César e Vasco Cordeiro.
Todos estes homens – e outros que agora não cito devido ao formato deste artigo – desempenharam um papel relevante no que aconteceu entre outubro e novembro de 2020. Um dia, na minha velhice, contarei a minha versão dessa pequena história. Do momento em que os ponteiros da politica açoriana voltaram a mover-se após um longo interregno.
É claro que, a partir de novembro de 2020, o PPM/Açores teve de adaptar-sea uma situação completamente nova. Durante 12 anos, o PPM foi um partido que fez uma férrea e persistente oposição política à ação dos governos socialistas. Passar desse registo ao necessário comportamento mais comedido e contido, que é exigível a um partido de governo, não foi fácil. Mais uma vez - com uma única exceção, que teve motivos de substância muito relevantes – o PPM adotou uma postura discreta e não dissonante, de forma a apoiar a ação do Governo Regional em todas as circunstâncias.
A ação política do PPM teve, até este momento, um único propósito: apoiar a ação do Governo Regional da coligação e, desta forma, permitir a sua afirmação num contexto político de extrema dificuldade. Mas esta solução política precisa de tempo para se afirmar. A alternativa é o regresso, por muitas décadas, do PS ao poder. Este governo representa uma esperança que não pode morrer. Uma esperança num sistema político que gere alternância e alternativa no poder regional. Assegurar isto é a missão histórica do PPM nos Açores.
Esta postura exige nervos de aço. Temos de manter a temperança em todas as circunstâncias e evitar responder a provocações mesquinhas, que demorariam segundos a desmontar no plenário do Parlamento. O nosso é um trabalho persistente, que tem como único objetivo contribuir para o progresso dos Açores.
Mais uma vez, a resiliência é a chave de tudo. Esse é o papel que nos atribuímos neste contexto. O de resistir em todas as circunstâncias e perante todas as dificuldades. Seguir em frente, na certeza de que a população irá valorizar os resultados alcançados.

Paulo Estêvão *

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