Diário dos Açores

O monstro da Lagoa do Fogo

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Todos os governos têm os seus delírios.
O anterior, no seu tradicional poder absoluto, acordou um dia e lembrou-se de construir um monstro de betão armado no miradouro da Lagoa do Fogo.
Aquilo metia túneis, janelões e outras aberrações.
O actual governo é mais comedido, mas continua a delirar, teimosamente, com as obras naquele miradouro, num projecto mais remediado, mas que também atinge o gasto escandaloso de 1,7 milhões de euros!
Não se percebe que este governo, corrigindo em muitas áreas as asneiras deixadas pelo anterior, mantenha este projecto que já foi rejeitado por todas as associações ambientalistas e por toda a sociedade que participou na consulta pública no ano passado.
Gastar ali 1,7 milhões de euros em cimento armado, para quê?
O acesso à Lagoa do Fogo e à sua caldeira precisam de uma profunda alteração, com outras orientações, mas dispensa obras avulso no respectivo santuário natural.
Por estes dias estão a ser ouvidas várias personalidades e instituições na Comissão  de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e já se percebeu que toda a gente está contra o projecto mirabolante da Secretaria Regional do Ambiente.
Neste governo ainda há pessoas com bom senso suficiente para travar o crime que se pretende cometer na Lagoa do Fogo.
Confiemos.

Quando os governantes ignoram os sinais da sociedade, é meio caminho andado para serem corridos num próximo julgamento eleitoral.
Já aconteceu por duas vezes nos Açores e parece que muitos deles ainda não aprenderam a lição.
O que se está a passar com o projectado Centro de Saúde das Lajes do Pico é de uma falta de sensibilidade política e humana que ultrapassa todos os direitos mais básicos de uma população, que é o acesso seguro e qualificado à Saúde.
Já não bastava o deficiente funcionamento dos cuidados de saúde em ilhas mais pequenas, todas prejudicadas pela enorme falta de investimento nesta área, especialmente nos três Centros de Saúde do Pico.
Teimar em remodelar o actual edifício das Lajes, sem condições para o que se pretende num Centro de Saúde moderno e eficaz, é condenar toda uma população a continuar a viver à míngua no acesso às melhores práticas da Saúde.
O governo anterior foi insensato e ingrato nesta matéria e as prioridades do actual governo parecem indicar o mesmo caminho, quando pretende gastar 1,7 milhões de euros em betão armado num miradouro, outros 10 milhões num matadouro e apenas 2 milhões para remodelar um casebre, quando as pessoas deviam estar primeiro e à frente de qualquer prioridade política dos governantes.
As ilhas com dificuldades no acesso à Saúde têm todo o direito para se indignar e não vale a pena fazer disto um aproveitamento político, como fez esta semana o PS, emitindo um comunicado com base em boatos das redes sociais sobre uma alegada centralização dos Centros de Saúde de várias ilhas.
Confiemos, também, no bom senso.

A Secretaria Regional da Cultura decidiu (mal) que os Açores não participassem, este ano, na Feira do Livro de Lisboa.
Numa altura em que nunca se produziu tanta literatura nesta Região como agora, alguém sentado no seu confortável gabinete do poder tomou uma decisão que vai contra todos os sinais da sociedade.
Um absurdo como este, numa terra bem escrutinada, seria suficiente para derrubar o responsável por tal decisão.
Mas numa região como a nossa, entre uma população maioritariamente conformada e pouco participativa, tudo é possível.
Até calar a literatura açoriana. Ao que chegamos.

Os congressos dos dois maiores partidos dos Açores mostraram que a política já não atrai tanta gente como outrora.
Pior, ainda, é a ausência de gente talentosa, novos cérebros, que se afastam cada vez mais das estruturas rígidas dos aparelhos partidários.
O PSD meteu-se num projecto de coligação que faz torcer o nariz a muitos jovens, havendo muita gente à espera de ver em que é que este mandato vai resultar. E isto não é bom sinal, porque a nossa região precisa de gente capaz, novos rostos, talentos a sair das universidades e fixá-los nas suas ilhas, com projectos ambiciosos e menos dependentes da esmola pública.
O PS vai de mal a pior, sem capacidade para se renovar, com rostos velhos e cansados, inaugurando agora uma nova moda de emitir todos os dias uma média de dois a três comunicados falando mal de tudo - até de coisas que foram da sua inteira responsabilidade -, fazendo mesmo eco de boatos que circulam nas redes sociais.
Para uma Região tão frágil como a nossa, que precisa de partidos fortes e com gente talentosa, os sinais são preocupantes.
Que o descanso neste Verão faça iluminar os líderes e aqueles que têm o nosso destino nas suas mãos.
Confiemos outra vez.

Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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