Diário dos Açores

A minha casa, a nossa casa

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Como vivo nos Açores devia começar por mudar o título para um mais possidónio e parolo “my/our house”, que dá mais sainete e atrai mais parolos.
 Até teria razões de sobra para o fazer, sou totalmente bilingue e tenho dupla nacionalidade australiana e portuguesa.
Também o poderia fazer de forma ecológica numa das lagoas da ilha, convidando a RTP Açores e alguns partidos preocupados com a causa para o evento.
Estamos na habitual  estação  da insanidade a que chamam “silly season” e em que diariamente aparecem nos jornais e telejornais as coisas mais estapafúrdias que se possam imaginar, fruto de mentes delirantes devido à vaga de calor que assola a Ibéria. Todos os dias surgem novelas de jogadores de futebol, atores e atrizes, “famosos”, e os mais diversos eventos a que chamavam “fait divers”, meros aperitivos, ou, como uma prima minha lhes chama, ”petits riens”.
Ora bem, quando contei da última vez, tinha vivido de forma caseira em – pelo menos – 23 casas. No Porto, na que nasci, até aos 4 anos e meio; noutra até aos 9; depois, entre 1958 e 1972, noutra (a minha mãe viveu lá até falecer em 2021); depois, na tropa, Mafra, Tomar, Leiria e Timor (na Petro Timor e na SOTA). Em Bali (Kuta Beach e Legian). De novo no Porto e em S. Martinho do Porto; em Macau, em dois prédios, entre 1977 e 1982; na Austrália, em Perth (Cottesloe e Claremont), Sydney (Waverley Centennial Park e Randwick), e Melbourne (Prahran). Por fim, de novo no Porto, Caminha, e Bragança (2002-2005). Desde então, e entrei no 18º ano, vivo na Lomba da Maia (São Miguel, Açores), e era a este ponto que eu queria chegar; nunca vivi numa casa tanto tempo, nunca me senti irmanado com um edifício como me sinto com este, como se tivesse sido feito por alfaiate por conta e medida para me sentir nela como numa segunda pele. Isso constitui, per se, uma inolvidável novidade, um sentimento de pertença a um lugar. Não nasci na ilha, mas a ilha nasceu em mim.

 


*Jornalista, Membro Honorário Vitalício 297713
(Australian Journalists’ Association MEAA)

Chrys Chrystello*

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