Lembram-se do Plano para a Mobilidade Eléctrica dos Açores (PMEA)?
Foi aprovado pelo Governo Regional em 2019, constituindo o quadro de referência para a execução da estratégia definida a este nível para a Região, abrangendo o período de 2018 a 2024.
Os governantes da altura apresentaram-no com grande espalhafato, a fazer-nos crer que todos os açorianos, durante aquele período, iriam andar todos de carro eléctrico.
Para tal havia uma verba 9,7 milhões de euros para incentivar o pessoal a aderir à compra de viaturas eléctricas, a ser financiada pelo Orçamento Regional e fundos comunitários.
Era um maná, apresentado com pompa e circunstância, em que até se contrataram empresas de fora para elaborar tão grande calhamaço cheio de promessas e boas intenções.
Estamos em 2022, ou seja, apenas a dois anos do fim do Plano, e o que é que aconteceu entretanto?
O Tribunal de Contas foi averiguar a fundo e fez uma auditoria até 2020.
Para surpresa de quem ainda se surpreende com estas coisas da nossa governação, o Plano ficou muito aquém do prometido com grande foguetório.
Até 2020 o governo prometia 180 veículos eléctricos e 78 postos de carregamento, mas a auditoria descobriu que apenas foram comparticipadas 73 (41%) viaturas e 11 aquisições (14%) de postos de carregamento, que até mereceram festas de inauguração, como todos estamos lembrados.
E dos 9,7 milhões de euros prometidos, apenas foram aplicados 1,4 milhões (uns míseros 14%!).
O Tribunal de Contas até desconfia se a frota pública regional esteja a ser substituída por carros eléctricos, num péssimo exemplo das entidades públicas da nossa região.
Este caso é apenas mais um, dos muitos que se vão descobrindo, sobre a forma como alguns governantes, sentado nos seus gabinetes, mandam elaborar planos e mais planos, que até custam muito dinheiro público, e depois não os sabem pôr em prática, por incapacidade ou incompetência.
A pergunta que se impõe no fim de toda mais esta trapalhada é só uma: a quem se deve pedir responsabilidades?
Claro, a ninguém.
Nesta região a culpa morre sempre solteira e os cidadãos é que apanham, no seu bolso, com as consequências.
O miradouro da Lagoa do Fogo está a ser uma dor de cabeça para os governos regionais.
O anterior foi incompetente na elaboração de um projecto magalómano e o actual quer continuar com a aberração de cimento armado.
No meio da polémica, a Secretaria dos Transportes anuncia o estacionamento pago para limitar a permanência no acesso ao santuário natural, o que até pode ser um bom sinal, contrário ao pretendido pela Secretaria do Ambiente.
Se é para disciplinar o acesso, em que se dá um sinal de que 20 minutos (estacionamento grátis) é suficiente para tirar fotos e admirar a Lagoa, significa então que não é preciso nenhum edifício ou Centro Interpretativo, porque isso seria um convite às pessoas a permanecerem mais tempo, o que é contraditório.
Desconfio que a repentina decisão do parque pago é o começo para um recuo que se saúda.
É preciso vigiar, com rigor, a medida experimental, porque se não for bem fiscalizada, pode provocar mais caos no estacionamento.
Continuamos a confiar no bom senso.
Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt